
Ministro Alexandre de Moraes autorizou acareação entre o ex-ajudante de ordens e o ex-ministro de Jair Bolsonaro. Procedimento está previsto para a próxima semana. Mauro Cid e Braga Netto durante os interrogatórios no STF
Ton Molina/STF; Reprodução
O general da reserva Walter Souza Braga Netto e o tenente-coronel Mauro Cid estarão frente à frente na sala de audiências do Supremo Tribunal Federal na próxima terça-feira (17).
Cara a cara, os dois réus por tentativa de golpe vão colocar em confronto suas versões sobre o chamado “Plano Punhal Verde e Amarelo”.
Segundo as investigações, esse plano previa o monitoramento e o assassinato de autoridades, como o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
A acareação foi solicitada pela defesa de Braga Netto, que foi ministro da Casa Civil e da Defesa, no governo passado, e candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro em 2022.
Na sala em que o procedimento será realizado, estarão somente os réus e seus advogados, em sessão fechada que será presidida por Moraes.
Prevista no Código de Processo Penal, a acareação é um procedimento possível quando acusados divergem, em suas declarações, sobre fatos ou circunstâncias relevantes para o processo penal.
Veja nesta reportagem:
O que Mauro Cid afirmou sobre ‘Punhal Verde e Amarelo’?
E o que Braga Netto afirmou sobre esse ponto da investigação?
O que disse Mauro Cid?
Mauro Cid relata que Braga Netto entregou dinheiro em caixa de vinho
Durante depoimentos de colaboração premiada e interrogatório ao Supremo Tribunal Federal, Mauro Cid disse que houve uma reunião, em novembro de 2022, na casa de Braga Netto, em que os presentes teriam discutido o “Plano Punhal Verde e Amarelo”.
Nesse encontro, além dos réus, estariam presentes militares das Forças Especiais do Exército, cujos integrantes são chamados de “kids pretos”.
O delator também afirmou que repassou ao major Rafael de Oliveira dinheiro que foi entregue a Cid por Braga Netto.
“O general Braga Netto me entregou o dinheiro, eu tenho quase certeza que foi no Alvorada, até me lembro que eu botei na minha mesa ali na biblioteca do Alvorada e depois o [Rafael Martins] de Oliveira veio buscar o dinheiro comigo na próprio Alvorada”, contou Cid na delação premiada.
O recurso estava em uma caixa de vinho e foi entregue ao “kid preto” no Palácio da Alvorada. Os recursos, segundo Cid, teriam a finalidade de financiar ações planejadas pelo grupo.
Cid disse não saber o valor que estava dentro da embalagem de vinho, porque a caixa estava lacrada e ele não abriu.
Mauro Cid diz que passou dinheiro que Braga Netto entregou para major
O que afirmou Braga Netto?
No seu interrogatório na Primeira Turma do STF, o general da reserva disse que não tinha conhecimento de nenhum plano com o objetivo de monitorar e executar autoridades e adversários políticos.
Sobre a reunião na sua casa em novembro de 2022, Braga Netto disse que Cid levou ao local dois “kids pretos” que queriam conhecê-lo. Eles conversaram por cerca de 30 minutos, mas o ex-ministro de Bolsonaro afirmou que não trataram de nenhuma ação golpista.
O general da reserva também negou que tenha entregue qualquer quantia para Cid repassar aos militares que teriam planejado a morte de autoridades.
“Eu não tinha esse dinheiro. Eu não tinha contato com empresários. Os empresários estavam mais interessados no presidente Bolsonaro do que em mim, presidente”, afirmou.