
Reconhecimento nacional dos Saberes do Rosário valoriza tradições afro-brasileiras e encerra processo de 17 anos com participação de comunidades e pesquisadores. Comunidade dos Arturos, em Minas Gerais.
Divulgação/Acervo/Iepha-MG
O Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reconheceu, nesta terça-feira (17), os Saberes do Rosário como Patrimônio Cultural do Brasil. Entre as manifestações culturais dos Saberes estão Reinado, Congado e Congadas.
A decisão foi anunciada durante reunião do Conselho Consultivo do órgão, acompanhada por representantes das festas em Belo Horizonte. O processo de reconhecimento durou cerca de 20 anos.
Atualemente, há mais de 1 mil grupos ativos no estado, incluindo congadeiros, moçambiqueiros, catopês, marujos, candombes e diversas guardas.
Segundo o Iphan, o reconhecimento tem caráter reparador e histórico, e representa um pacto entre os governos e as comunidades detentoras desses saberes para a preservação da tradição.
O processo de registro foi construído com a participação de comunidades, pesquisadores, agentes públicos e instituições. Para o instituto, trata-se de uma das expressões mais profundas da cultura afro-brasileira e da fé popular no país.
Com o título, os Saberes do Rosário passam a integrar o Livro de Registro das Celebrações, como bem imaterial do patrimônio cultural brasileiro.
Cerimônia das Bandeiras abre programação do Congado 2024 em Uberlândia
História de Minas e do Brasil
O reconhecimento visa reforçar a valorização da cultura afro-brasileira, especialmente em Minas Gerais, onde a manifestação está presente em mais de 330 municípios.
Segundo o Iphan, foram 17 anos de estudos conduzidos por pesquisadores, comunidades e instituições para que o Saberes do Rosário fosse incluído como bem imaterial do patrimônio cultural brasileiro.
No ano passado, os caminhos, expressões e celebrações do Rosário já haviam sido declarados Patrimônio Imaterial de Minas Gerais. Agora, com o reconhecimento nacional, foi inciada uma nova fase voltada à implementação de políticas públicas para a preservação desses saberes.
Segundo o presidente do Iphan, Leandro Grass, o reconhecimento marca o início de um compromisso com a valorização e perpetuação da tradição.
“Partimos agora para uma nova fase, que é a implementação de políticas com instrumentos de gestão, educação patrimonial e investimento público, para que toda a população reconheça a importância histórica e cultural desses saberes”, afirmou.
A antropóloga Fernanda de Oliveira, responsável pelo dossiê que embasou o registro, destacou que o Rosário é mais do que uma celebração:
“Ele é um sistema de pensamento e de construção de comunidade no Brasil. Esse reconhecimento representa um momento novo na história do país, ao valorizar a intelectualidade dos povos pretos”.
A decisão emocionou lideranças como Isabel Casimira, Rainha Conga em Minas Gerais.
“É um ensinamento aos professores, aos governantes, para que entendam que nossa vida é uma história brasileira escrita com o sangue dos nossos antepassados. É a fé que canta, dança, reza, fala, ri e chora. E que trabalha, dia após dia, para que nosso povo não seja escondido nem esquecido”, declarou.
Vídeos mais vistos no g1 Minas: