Após reação da categoria contra ‘aniquilação da carreira’, Tarcísio propõe nova estrutura para pesquisadores em SP


Governo de SP diz que, após ‘diálogo com os pesquisadores’, vai mandar novo texto PLC 9/2025 para a Alesp reestruturando da carreira. Categoria fez abaixo-assinado com 16 mil assinaturas criticando a 1ª proposta do governador. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao lado da secretária de Meio Ambienta, Natália Resende, em foto de arquivo
Rogério Cassimiro/GESP
Após críticas de cientistas e pesquisadores do estado de São Paulo, a gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) divulgou nesta quarta-feira (18) que vai propor nova estrutura para a carreira de pesquisador no estado.
Segundo o Palácio dos Bandeirantes, o governo paulista enviou à Assembleia Legislativa (Alesp) alterações ao Projeto de Lei Complementar nº 9/2025, que reestrutura a carreira de pesquisador científico das secretarias de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística; Saúde e Agricultura e Abastecimento.
Esse projeto gerou revolta de pesquisadores do Instituto Butantan e de outras entidades de pesquisa do estado, que, por meio da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), iniciaram um abaixo-assinado contra o projeto que já reuniu mais de 16 mil assinaturas.
Em maio, os servidores chegaram a falar que o projeto “aniquilaria” a carreira de pesquisador científico em São Paulo (veja mais abaixo).
Segundo o governo de SP, o novo texto enviado à Alesp “é resultado de amplo diálogo com os servidores, atendendo a ampla maioria das reivindicações trazidas por eles”.
O envio do novo texto à Assembleia Legislativa é fruto de um diálogo construtivo e contínuo com os pesquisadores científicos, que participaram ativamente da construção dessa proposta.
Segundo ela, “o projeto reflete o compromisso do Governo de São Paulo com a valorização da carreira e com a promoção de um ambiente institucional que estimule a produção científica, a inovação e a excelência no serviço público”.
Ela afirma que a nova proposta reestrutura a carreira de pesquisador científico sem revogar a Lei Complementar 125/75 e afasta qualquer interpretação da criação de nova carreira.
“Estão previstos avanços importantes como a implementação do regime de dedicação exclusiva com controle de jornada a ser regulamentado por decreto posterior, considerando necessariamente as especificidades da carreira de pesquisador”, diz a gestão Tarcísio.
O governo estadual ressalta que está garantida a realização anual de concursos para progressão e promoção de categoria e nível, com aumento do percentual de promovidos de 20% para 70%.
Diz ainda que pesquisadores com título de doutorado e pelo menos um ano de exercício poderão concorrer diretamente à categoria A do nível III, independentemente do nível atual que estejam.
Abaixo-assinado dos pesquisadores de São Paulo criticou a proposta inicial do governo Tarcísio para mudanças na categoria.
Reprodução
Sobre outra reivindicação da categoria, o governo de SP afirma, ainda, que a Comissão Permanente de Avaliação de Desempenho e Desenvolvimento da Carreira será composta por 12 membros designados pelo governador, a partir de uma lista de 24 nomes indicados por votação dos pesquisadores das Instituições de Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de São Paulo (ICTESP), além de um membro de livre escolha do chefe do Executivo.
A comissão será responsável por planejar e organizar concursos de ingresso e ações de desenvolvimento da carreira.
Remuneração dos pesquisadores
Fachada do Instituto Butantan na Zona Oeste de SP
Suamy Beydoun/Estadão Conteúdo
Na proposta, a gestão Tarcísio afirma que a remuneração dos pesquisadores passa a ser por regime de subsídio, que garante a incorporação de gratificações ao salário-base, evitando a perda desses benefícios e ampliando a estabilidade e a previsibilidade da remuneração, além de facilitar futuras negociações por reajustes salariais.
Também foi promovida a reestruturação das tabelas salariais, com aumento dos valores e reorganização das referências.
A proposta garante reajustes para 82,4% do total de 901 pesquisadores, sendo que, destes, 41,5% terão 49% de aumento. O governo diz que, da porcentagem restante, muitos já recebem o teto do funcionalismo público.
O Palácio dos Bandeirantes diz que foi excluída a extensão dos efeitos da nova estrutura remuneratória aos servidores aposentados e pensionistas. Os servidores em exercício terão a opção de aderir à nova proposta ou permanecer no regime atual, e terão 90 dias, contados da data em vigor da lei complementar, para formalizar a intenção mediante requerimento dirigido à secretaria de estado ou autarquia a que está vinculado.
Com a proposta negociada com os servidores, o governo afirma que “entende ter chegado a um modelo equilibrado, que atende as necessidades de modernização e eficientização do serviço público e às demandas da categoria”.
A valorização desses profissionais, por meio de mecanismos objetivos de progressão, dedicação exclusiva e estabilidade remuneratória, contribui para a qualificação contínua da produção científica
O secretário de Agricultura, Guilherme Piai, diz que o projeto “é resultado de um diálogo amplo e irrestrito do governo paulista”. “Sabemos que estamos enviando à Alesp uma proposta que valoriza quem produz conhecimento para o nosso agro ser cada vez mais forte”, afirma.
Abaixo-assinado
Veja o que dizia o abaixo-assinado dos pesquisadores de SP:  
“Nós, abaixo-assinados, pesquisadores científicos, representantes da comunidade científica, representantes da sociedade civil organizada, parlamentares e demais membros da sociedade paulista, manifestamos nossa profunda preocupação e total repúdio ao Projeto de Lei Complementar nº 09/2025 encaminhado pelo Governador do Estado de São Paulo à Assembleia Legislativa (ALESP) no último final de semana (30/04/2025) que propõe a criação da carreira de Pesquisador Científico.
Tal proposta ignora o fato de que a carreira de Pesquisador Científico existe legalmente desde 1975 (Lei Complementar nº 125, de 18 de novembro de 1975) e, historicamente, desde o século XIX, pois os primeiros institutos públicos de pesquisa paulistas remontam a esse período. Uma história sólida e reconhecida, inclusive internacionalmente, de contribuições relevantes para o desenvolvimento científico e tecnológico do estado e do país que não pode ser ignorada e nem desrespeitada.
O novo projeto, longe de fortalecer essa carreira essencial, representa grave ameaça à sua continuidade, autonomia e valorização, além de fragilizar toda a estrutura pública de pesquisa científica, em especial o patrimônio científico, histórico-cultural e ambiental contido nas Estações e Fazendas Experimentais e demais áreas protegidas do Estado de São Paulo.
O avanço científico e tecnológico de São Paulo, nas fundamentais áreas de saúde, meio ambiente e agricultura, tem como base os Institutos Públicos de Pesquisa e seus laboratórios vivos contidos nas áreas experimentais distribuídas por todo o estado de São Paulo e que hoje são vistas com um olhar financista que desconsidera os imprescindíveis serviços prestados na geração de conhecimento para atender às diversas demandas sociais, bem como todo o potencial científico para a crescente exigência de novas respostas ante a emergência ambiental vivida pelo planeta.
A aniquilação da carreira de pesquisador científico deixa em posição de vulnerabilidade essas fundamentais áreas protegidas, tanto do ponto de vista científico, quanto ambiental, favorecendo a negociação nefasta desse precioso patrimônio público paulista.
Entre os inúmeros pontos prejudiciais da proposta, destacamos:
A desestruturação da carreira, que levará à desvalorização dos profissionais que nela atuam;
O fim do regime de tempo integral – RTI, pois a pesquisa científica não pode ficar atrelada ao horário oficial de expediente;
O fim da Comissão Permanente de Regime de Tempo Integral, a CPRTI, que faz a avaliação dos pesquisadores científicos, mediante representantes eleitos pelos pares e representante do Governo do estado;
A alteração do regime remuneratório de salário-base para subsídio, configurando imensa injustiça aos pesquisadores;
A ausência de diálogo com a comunidade científica e o corpo de pesquisadores dos Institutos de Pesquisa do estado;
O risco de comprometimento da produção científica paulista, construída ao longo de décadas com excelência e reconhecimento internacionais;
A fragilização do Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação de São Paulo;
Torna vulnerável a conservação das áreas experimentais, diante das intenções de venda desse tesouro do povo paulista.
A ciência paulista não pode ser destruída. Medidas unilaterais, como a que se apresenta, elaborada sem discussão pública e sem o devido respeito aos profissionais que dedicam suas vidas à pesquisa em prol da sociedade, são extremamente nefastas do ponto de vista científico e social.
Reivindicamos a imediata retirada do Projeto de Lei Complementar no 09/2025 da pauta da ALESP e a abertura de um processo de diálogo amplo, transparente e respeitoso com os pesquisadores, sindicatos, instituições de pesquisa e a sociedade civil.
Defendemos a valorização da ciência, da pesquisa e dos profissionais que garantem o avanço do conhecimento e que contribuem para o desenvolvimento social e econômico em nosso estado.
Ciência se faz com respeito, estrutura e compromisso. Em defesa da carreira de Pesquisador Científico!”
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