Redução de animais que dispersam sementes afeta meio ambiente: ‘Fundamentais à biodiversidade’, alerta pesquisador da Unesp


Mauro Galetti faz parte do Centro de Pesquisa em Biodiversidade e Mudanças do Clima (CBioClima) da Fapesp e participou de estudo com especialistas internacionais. Seres dispersores são mais afetados pela perda de habitats e pela caça. Sementes são digeridas por animais dispersores, que as deixam prontas para germinar ao defecarem
Mauro Galetti / CBioClima
Árvores de biomas como Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado dependem muito de “operários” para espalhar sementes, garantir a reprodução e consequentemente manter florestas em pé. Esse “trabalho” é feito por animais chamados de frugívoros e/ou dispersores.
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Mas um grupo de pesquisadores publicou um estudo na revista Nature alertando sobre o declínio dessas espécies, principalmente em razão da perda de habitats e da caça.
“Muito se comenta hoje sobre créditos de carbono e restauração da floresta, mas quem ‘planta’ o carbono? É o tucano, a cutia, a anta, a jacutinga. Para se ter uma copaíba, por exemplo, a floresta precisa ter tucanos e macacos para dispersarem suas sementes”, explicou Mauro Galetti, um dos diretores do Centro de Pesquisa em Biodiversidade e Mudanças do Clima (CBioClima), da Fapesp, sediado no Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (IB-Unesp), em Rio Claro.
Galetti e outros especialistas internacionais participaram da pesquisa. Segundo ele, até já é possível saber quanto do carbono florestal é plantado por esses animais. “Apesar de o Brasil ser o país com mais estudos científicos sobre dispersão de sementes, é preciso se aprofundar no problema e entender, por exemplo, que plantas e ecossistemas estão mais vulneráveis a essa perda”, adicionou.
🌳 Conforme o estudo, a redução dos dispersores, com dieta majoritariamente composta por frutos, é capaz de alterar a composição das florestas, o que enfraquece a capacidade de absorver dióxido de carbono e reduz o papel de enfrentamento às mudanças climáticas.
Uma outra pesquisa, publicada na revista Science por alguns dos pesquisadores envolvidos no estudo mais recente, também mostrou que a perda de aves e mamíferos a nível mundial diminui 60% da propagação de sementes.
Mauro Galetti, um dos diretores do CBioClima
Daniel Antônio/Agência Fapesp
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Como a dispersão acontece?
🌱 Ao comer um fruto, o animal dispersor é “contaminado” pela semente que passa pelo tubo digestório e recebe um tratamento químico (por ação do suco gástrico) ou mecânico.
No caso das aves, por exemplo, a moela amassa a semente, o que permite a entrada de água na semente e a deixa pronta para germinar onde quer que o animal a deposite posteriormente, ao defecar.
“As sementes consumidas por animais vão germinar mais, mais rápido e vão se estabelecer em lugares mais seguros para crescer. E se não tiver um animal para ‘machucar’ a semente e levá-la para longe da planta-mãe, ela não vai germinar e, mesmo que germine perto da planta-mãe, provavelmente vai morrer porque haverá competição entre elas”, descreveu Galetti.
Sementes consumidas por animais conseguem germinar rapidamente
Mauro Galetti / CBioClima
O pesquisador também chama a atenção para as características únicas que cada espécie pode carregar. “A castanha-do-pará, por exemplo, só tem um dispersor: a cutia. Se a cutia for extinta localmente, o serviço de dispersão de sementes da castanha-do-pará sucumbe. Dependemos então de um serviço ecológico fundamental da cutia.”
Diferenças para os polinizadores
Segundo o estudo, o declínio dos polinizadores (abelhas, por exemplo), tem recebido mais atenção pública e política, já que a ausência afeta diretamente a produção de alimentos.
A pesquisa, porém, indicou que os impactos da extinção de dispersores são mais difíceis de mensurar, mas influenciam negativamente a biodiversidade e o armazenamento de carbono com o passar do tempo.
“Ambos são importantes e devem ser levados em conta nos projetos de restauração e conservação. Porém, o declínio dos polinizadores é mais facilmente medido no curto prazo, ele gera impactos econômicos imediatos como a perda de produtividade das lavouras, enquanto os efeitos da perda de dispersores de sementes ocorrem de forma lenta e ampla, comprometendo a funcionalidade e a resiliência dos ecossistemas”, acrescentou Galetti.
Estudo apontou que declínio de polinizadores, como as abelhas, recebe mais visibilidade
Foto: Reprodução/EPTV
De acordo com o pesquisador, os custos econômicos atrelados à redução dos animais frugívoros ainda são incertos.
“A restauração não consiste em apenas plantar árvores, é preciso considerar quem vai manter o futuro dessa floresta. Há alguns anos acreditava-se que ao plantar a floresta esses animais iriam até ela. Mas não é assim que acontece. É muito mais complexo. Enfrentar o declínio dos dispersores de sementes é fundamental para garantir a biodiversidade e o equilíbrio das comunidades vegetais”, afirmou.
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