
Os aiatolás foram levados ao poder pelo povo, depois que uma revolução derrubou a monarquia do xá Reza Pahlavi – um governo corrupto, que usava a polícia secreta para combater dissidentes. Trump e Netanyahu agora defendem publicamente a troca de regime no Irã
A evolução do conflito entre Israel, Estados Unidos e Irã tem sido uma sucessão de surpresas. O próprio anúncio de um acordo de cessar-fogo também surpreende porque se deu horas depois de ataques iranianos a instalações americanas e também porque Estados Unidos e Israel já se manifestaram abertamente a favor de uma mudança de regime no Irã.
MIGA – “Make Iran great again” ou “Faça o Irã grande de novo”. Uma referência clara ao seu slogan: “Make America great again” ou “Faça a América grande de novo”. Foi o que Donald Trump escreveu em uma mensagem nas redes sociais. Ele disse que se o regime não é capaz de fazer o Irã grande de novo, por que não deveria haver uma troca de regime?
Há semanas, o presidente americano dizia que o objetivo era desmantelar o programa nuclear iraniano. Mas nem o termo “MIGA” partiu dele. Apesar de a mídia ser controlada pelo regime em Teerã, um canal chamado Irã Internacional tem sede em Londres, é falado em inglês e persa, e milhões de iranianos conseguem assistir pelas antenas parabólicas. Um dos programas mais populares recebeu no fim de semana passado Benjamin Netanyahu. O primeiro-ministro de Israel falou em inglês e persa. Disse que o Irã sofreu nas mãos de um regime brutal por 46 anos:
“Eles empobreceram vocês. Eles só deram para vocês miséria e morte. Um governo tirano que espancou uma menina até a morte por não usar o véu corretamente”, afirmou.
Foi uma referência à morte de Mahsa Amini, em 2022, que gerou protestos dentro e fora do Irã.
Os aiatolás foram levados ao poder pelo povo, depois que uma revolução derrubou a monarquia do xá Reza Pahlavi – um governo corrupto, que usava a polícia secreta para combater dissidentes. Os aiatolás eram vistos como religiosos que não roubariam. Pouco a pouco, o novo regime tolheu a liberdade mesmo de quem não é religioso. Os aiatolás agora toleram festas clandestinas com álcool – que é proibido -, mas não aceitam uma oposição.
Trump e Netanyahu apoiam eventual mudança de regime no Irã
Jornal Nacional/ Reprodução
Nesta segunda-feira (23), Israel bombardeou a porta de uma prisão para prisioneiros políticos. O agora professor da Universidade Columbia Kian Tajbakhsh passou um ano nessa prisão. Ele relatou ao Jornal Nacional que vê duas opções caso o regime dos aiatolás chegue ao fim. A primeira é que uma parte dos militares se associe a políticos linha-dura e o país entre em uma ditadura militar. A segunda é que integrantes da sociedade civil se organizem e escolham uma figura carismática como líder.
Ele citou o filho daquele xá que foi deposto, o príncipe herdeiro, que também se chama Reza Pahlavi. Mas dissidentes temem que um governo dele seja corrupto como o do pai. O príncipe foi à TV francesa nesta segunda-feira (23) defender eleições democráticas no Irã, mas disse que não estava fazendo campanha pessoal.
O exemplo dos vizinhos em casos como esses não é bom. Quando os americanos capturaram Saddam Hussein, houve um vácuo de poder no Iraque que levou à ascensão de terroristas do Estado Islâmico. Quando os americanos tiraram o Talibã do Afeganistão, passaram lá 20 anos em guerra e saíram de maneira desastrosa. O Talibã voltou ainda mais repressor.
Há dois anos, o aiatolá Ali Khamenei nomeou um comitê para cuidar da sucessão dele. Observadores explicam que esse comitê começou a trabalhar ainda mais depois que Donald Trump afirmou que sabe exatamente onde o líder supremo se esconde e que ele é um alvo fácil.
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