
Os Estados Unidos são o país que mais consome café, suco de laranja e carne bovina, todos itens que o Brasil é um dos líderes na produção. Americanos vão sentir no bolso impactos das novas tarifas aos produtos brasileiros.
Reprodução/Jornal Nacional
Donald Trump se elegeu explorando a insatisfação dos americanos com o custo de vida e a inflação. Mas, quando aumenta as tarifas aos produtos importados, ele aplica uma receita segura para uma alta de preços por lá.
Os Estados Unidos são o país que mais consome café, suco de laranja e carne bovina. Por outro lado, o Brasil é o país que mais produz café, laranja e é o segundo maior produtor de carne vermelha.
Parceiros comerciais há mais de 100 anos, os americanos compram produtos brasileiros diariamente.
Até no cinema, o copo descartável com tampa já virou um acessório inevitável. E apesar de consumir US$ 8 bilhões por ano de café, os Estados Unidos não têm como produzir o grão por causa do clima.
Um terço dos grãos de café moídos nos Estados Unidos é brasileiro.
Segundo os dados da Associação Americana de Café, para cada dólar gasto com importação de café do Brasil, são movimentados US$ 43 na economia americana.
Quando o café brasileiro chega nos Estados Unidos, gera 2,2 milhões empregos.
Peter Roberts é especializado no mercado de café artesanal. Ele explica que, nos últimos 5 anos, o preço do café no mercado internacional subiu 50 centavos por causa da crise climática, mas para o público americano, nas lojas, o café subiu quase 5 dólares.
“Tarifas são a justificativa perfeita” — quer dizer, o preço do café vai inflacionar rapidamente.
Depois que uma praga afetou a produção de laranja na Flórida nos últimos anos, 78% do suco consumido vêm do Brasil.
Segundo os importadores, para cada ponto percentual de aumento de preço, caem 2 pontos percentuais de consumo — o que vai afetar diretamente as receitas das empresas americanas.
Importadores e analistas afirmam que o preço da comida mais americana de todas, o hambúrguer, também vai ficar mais salgado.
Os hambúrgueres americanos não são inteiramente americanos: são uma mistura com carne moída importada, principalmente do Brasil.
Há anos, o rebanho americano está ficando menor.
Por isso, os Estados Unidos aumentaram as importações de carne brasileira em mais de 50% entre 2023 e 2024. E a carne brasileira já estava sujeita a tarifas pesadas, de 36%, desde a década de 1990.
Por enquanto, o americano ainda não sentiu o tarifaço de Donald Trump no bolso.
O professor de economia Michael Coon disse ao Jornal Nacional que os produtos ainda não ficaram mais caros porque as marcas se anteciparam e estocaram produtos.
Mas, à medida em que esses produtos chegarem aos Estados Unidos e o custo para estocá-los for computado, as etiquetas vão ser atualizadas para cima.
Além disso, ele explica que, na economia, os números de inflação, desemprego e PIB demoram de um a dois trimestres para aparecerem com clareza porque demora para coletar todos os dados.
Portanto, os primeiros impactos do tarifaço só serão vistos daqui seis a nove meses.
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