Criança autista de 4 anos é encontrada amarrada em banheiro de escola; funcionária é indiciada por tortura

A denúncia foi feita por uma funcionária; local já havia sido alvo de denúncias em 2023. Flagrante de maus-tratos numa escola infantil do Paraná
Em Araucária, no Paraná, um menino autista de 4 anos foi encontrado amarrado a uma cadeira dentro do banheiro de uma escola particular. A Polícia Civil indiciou uma funcionária pelo crime de tortura.
Os pais do menino, Mirian e Augusto Ambrozio, vivem um drama desde que souberam do ocorrido. Augusto estava no trabalho quando recebeu um telefonema: “Desculpa dar essa notícia assim. Seu filho está amarrado no banheiro da escola”.
“Eles prenderam a roupinha dele para fora assim, colocar tipo de um pano, não sei, uma faixa, e prenderam com fita crepe na cadeira, as duas mãozinhas e um cinto no corpinho dele”, conta a mãe.
Apesar dos esforços para não marcar, o pai relatou que as marcas ficaram visíveis nos braços do filho.
Denúncia e flagrante
A denúncia que levou à descoberta foi feita por uma funcionária do berçário e pré-escola particular Shanduca na segunda-feira (7). Ela já havia visto o menino amarrado anteriormente, mas três dias depois, ao encontrá-lo novamente amarrado, desta vez no banheiro, decidiu agir.
A funcionária fez uma foto e a enviou para o vereador Leandro Andrade, do Solidariedade, que prontamente comunicou a Guarda Municipal e o Conselho Tutelar. Ao chegar ao local e abrir a porta do banheiro, a conselheira tutelar descreveu a cena com choque: o menino batia os pezinhos, como se pedisse ajuda. O menino, que é autista não verbal, foi imediatamente solto e sua mãe, Mirian, chegou logo em seguida.
A forma como o menino estava amarrado levantou suspeitas. Augusto, o pai, e a conselheira tutelar notaram que a cadeira parecia já ter um “cinto de segurança” e faixas próprias para amarrar, como se já fosse “usada para isso mesmo”.
Outros casos na mesma escola
Após o caso chegar à delegacia, outras funcionárias da escola começaram a relatar o que sabiam, e outras famílias, como a de Bruno Incott, também foram alertadas. Bruno recebeu uma foto de sua filha de três anos, também amarrada na cadeira, aparentemente dormindo com os braços entrelaçados.
A advogada das famílias, Daniely Mulinari, revelou que a foto da filha de Bruno Incott seria de cerca de dois meses atrás. Além disso, as professoras, ao tomarem coragem para denunciar, entregaram áudios de um grupo onde a diretora da escola “assume toda essa situação”.
Nos áudios, a diretora Danieli Alexandra Zimermann, apesar de repreender a ação de deixar a criança no banheiro por tanto tempo, admite a necessidade de “conter” os alunos, sugerindo que isso deveria ser feito em outra sala ou com outro funcionário.
Chama a atenção o fato de que a diretora Danieli Alexandra Zimermann, proprietária da Escola Shanduca, possuía vídeos nas redes sociais onde falava sobre educação para crianças autistas, afirmando que eles “precisam de ajuda, ele precisa de auxílio, muito mais ainda, de muito amor e carinho, mais nada”.
Falta de formação
A investigação policial revelou, contudo, que a escola apresentava alta rotatividade de funcionários, muitos deles sequer registrados, incluindo menores de idade, e que não eram pessoas formadas ou capacitadas para a função de professoras.
A funcionária Sara Maria Erdeman Correia, de 18 anos, que ainda não é formada em Pedagogia, foi presa em flagrante pelo crime de tortura. Embora tenha sido solta, o Ministério Público pediu sua prisão preventiva.
Sara justificou sua ação afirmando que o menino estava “muito agitado” e que a turma estava ficando agitada por causa dele, e que ela teria feito isso “com a autorização da pedagoga Gabriela Fernandes”. Gabriela é estagiária na escola.
A defesa de Gabriela informou que ela não se manifestaria publicamente devido a ameaças. Já as defesas de Sara e da diretora Danieli Zimermann não retornaram o contato. Nas redes sociais, Danieli alegou que estava afastada do cargo por cirurgia quando o menino foi amarrado, classificando o episódio como uma “ação injustificável” que ela “abomina com todas as forças”, e que “nunca havíamos passado por tal situação”.
No entanto, Erineu Portes, delegado responsável pela investigação desmente a diretora, afirmando que “os elementos que tem contra a escola são muito grandes”, “são robustos”, e que há “reiteração” dos crimes, inclusive com denúncias de 2023 de agressão pela diretora e outro caso de criança amarrada, que não resultaram em punições.
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