
A decisão desta quinta-feira (17), da Câmara dos Deputados, de afrouxar as regras de licenciamento ambiental provocou protestos de ambientalistas dentro e fora do Brasil- e não faltam motivos pra isso.
Os números oficiais mostram que, na Amazônia, o desmatamento caiu pela metade de 2022 a 2024, mas a degradação ambiental na região mais que dobrou.
O que os satélites mostram agora, a floresta sente faz tempo. E os pesquisadores do Inpe, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, conseguem medir com cada vez maior precisão. É assim, com a evolução tecnológica, que eles constataram a boa e a má notícia publicadas em uma das mais importantes revistas de ciência do meio ambiente.
Segundo o estudo feito em parceria com a USP, o desmatamento na Amazônia caiu pela metade em dois anos. Em 2022, a floresta perdeu 12,6 mil km². Em 2024, esse número caiu para menos de 6 mil. Enquanto isso, a degradação florestal mais que dobrou. Aumentou assustadoramente de 9 mil km², em 2022, para mais de 25 mil em 2024. É como se uma área maior que o estado de Sergipe estivesse seriamente comprometida.
O desmatamento é fácil de enxergar e entender: é o corte, a derrubada total da cobertura vegetal. Já a degradação é mais sorrateira. Aos poucos e, em geral, de forma ilegal, acontece o corte seletivo, a retirada apenas de árvores com madeira de maior valor. E tem também o fogo, que começa em um pasto, em uma área menor, e vai de forma rasteira queimando por baixo, deixando uma floresta ainda em pé, mas muito enfraquecida.
“A degradação causa a perda de carbono florestal que vai para a atmosfera, intensificando as mudanças climáticas globais. Ela reduz o potencial de ciclagem de água por essas florestas, afetando todo o potencial hidrelétrico nacional e a agricultura nacional. E também reduz a diversidade de espécies locais, que têm uma importância muito grande para a bioeconomia nacional”, afirma Luiz Aragão, pesquisador do Inpe.
Desmatamento cai pela metade na Amazônia nos últimos 2 anos
Reprodução/TV Globo
O esforço para reduzir gases de efeito estufa precisa ser global, mas a responsabilidade dos brasileiros é enorme. O fogo foi responsável por 66% desse processo de degradação, uma ameaça que já foi mais difícil de enxergar, mas que agora tem na tecnologia as ferramentas que podem – e devem – ser usadas para fiscalizar, punir e educar para a preservação.
“Nós precisamos de um novo modelo de desenvolvimento para a região amazônica que não seja um modelo predatório, que seja um modelo que, na verdade, consiga manter a vitalidade do ecossistema e, ao mesmo tempo, dar uma vida decente para os 20 milhões de brasileiros que vivem naquela região”, diz Paulo Artaxo, professor de Física da USP.
O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima disse, em nota que, nos últimos dois anos, a Amazônia enfrentou secas severas e consecutivas, o que ampliou os impactos dos incêndios florestais. Afirmou ainda que o governo federal tem intensificado a fiscalização. De agosto de 2024 a maio de 2025, o Ibama realizou 19 mil ações, e aplicou R$ 3 bilhões em multas.
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Reprodução/TV Globo
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