Acrobata que sofreu acidente grave em circo nos EUA lança livro e celebra gravidez: “É um renascimento”


A acrobata brasileira que quase morreu em um circo americano
A acrobata brasileira Stefany Neves, de 30 anos, lançou na noite da última terça-feira (23), na Zona Sul do Rio, o livro “Baby Dancer”, obra que marca o recomeço de uma vida interrompida por uma tragédia. Em 2014, durante uma apresentação de circo nos Estados Unidos, Stefany caiu de uma altura de 12 metros enquanto realizava o número conhecido como “candelabro humano”.
Na entrevista ao g1, ela falou sobre o acidente, o longo processo de recuperação, o nascimento de sua filha Antonella — prevista para outubro — e a decisão de transformar dor em palavra, com o livro sobre superação.
“Escrever esse livro foi como abrir minhas feridas para costurá-las com significado”, afirmou Stefany Neves.
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Queda vira tragédia
O grave acidente de Stefany aconteceu no dia 4 de maio de 2014, em Providence, no estado de Rhode Island, durante uma apresentação do tradicional Ringling Bros. and Barnum & Bailey Circus.
Momento em que brasileira sofre grave acidente em apresentação de circo em maio de 2014
Reprodução Fantástico
A estrutura metálica que sustentava as oito acrobatas cedeu segundos após o início do número. Três das artistas eram brasileiras — e Stefany foi a mais gravemente ferida.
“Eu era a do meio, a que tava mais baixo, justamente por ser pequenininha, magrinha. então tava todo mundo em cima de mim”, relembrou a artista ao Fantástico.
Ela tinha 19 anos, sonhava em construir carreira internacional como artista circense e havia sido escalada para ficar na parte inferior da formação por ser “pequena e leve”.
Stefany sofreu diversas fraturas, teve o fígado perfurado, enfrentou duas paradas cardíacas e passou por 10 cirurgias.
Reprodução TV Globo
Com a queda, Stefany sofreu diversas fraturas, teve o fígado perfurado, enfrentou duas paradas cardíacas e passou por 10 cirurgias. Seu peso chegou a apenas 26 kg.
“Eu quis levantar. Mas o corpo não me obedeceu. Apagava e despertava pro mesmo cenário: imobilidade, pânico e gritos”, lembra.
Silêncio após a dor
Antes da tragédia, Stefany morava em um trem com o elenco do circo e se apresentava quase todos os dias nos Estados Unidos.
“Era minha chance. Eu tinha tantos sonhos que, pra mim, foram esmagados naquele dia”, contou.
A acrobata brasileira vivia seu sonho nos EUA.
Reprodução TV Globo
Durante quase uma década, ela evitou falar publicamente sobre o acidente. “Guardar tudo em silêncio foi uma forma de sobrevivência”, explica. A decisão de escrever o livro veio com a vontade de transformar sua história em ponte, não em cicatriz.
“A dor faz parte do caminho, mas com resiliência, ela pode se transformar em aprendizado, em força, em crescimento”, ensinou Stefany.
Recuperação, reabilitação e resiliência
Stefany passou três meses internada, boa parte desse tempo desacreditada pelos médicos. Ao lado da mãe, que jamais chorava na sua frente, ela enfrentou infecção grave, sequelas permanentes e anos de limitações físicas.
“Gosto sempre de lembrar que eu não fui forte o tempo todo. Houve dias em que quis desistir, em que a dor física e emocional me paralisava. A força que me trouxe até aqui não veio de uma vez. Foi sendo construída, passo a passo, lágrima por lágrima”, contou.
“O que me manteve firme foi, em primeiro lugar, o amor da minha família, que nunca soltou minha mão. E também a onda de carinho que recebi de pessoas do mundo todo, conhecidas e desconhecidas, depois da repercussão do acidente. Senti uma corrente de fé, esperança e empatia que me dizia: você não está sozinha. E isso, por mais simples que pareça, salvou meus dias mais escuros”, disse Stefany.
Stefany sofreu diversas fraturas, teve o fígado perfurado, enfrentou duas paradas cardíacas e passou por 10 cirurgias.
Reprodução TV Globo
Foram nove anos com cerca de 35 kg, até que seu corpo começasse, enfim, a reagir melhor. Ela ainda convive com obstruções arteriais causadas pelas cirurgias, mas hoje vive em paz com as cicatrizes.
Indenização e encerramento do circo
A Justiça dos Estados Unidos reconheceu a negligência do circo no acidente. Um mosquetão mal colocado teria causado a queda da estrutura.
As oito acrobatas feridas, incluindo Stefany, entraram com ação judicial e receberam indenização, que foi dividida entre elas a partir de um acordo anunciado em 2020.
O circo Ringling Bros. encerrou suas atividades em 2017, citando queda de público e altos custos. Embora o acidente não tenha sido apontado oficialmente como a causa, ele gerou investigações federais, multas e aumentou a pressão por segurança.
‘Baby Dancer’ e o renascimento
Para Stefany, o título “Baby Dancer” foi escolhido para o livro porque ele carrega significados profundos, que vão se revelar ao longo da narrativa.
“O título Baby Dancer é, de certa forma, enigmático mesmo. E isso é proposital. Ele carrega um significado muito especial e está costurado com delicadeza ao longo da narrativa”, explicou.
“Vou deixar guardada para quem se permitir mergulhar nas páginas do livro. Tenho certeza de que, ao final da leitura, esse nome vai fazer todo o sentido. E talvez até emocionar”, comentou Stefany.
“Baby Dancer” livro de Stefany Neves
Reprodução redes sociais
Ela contou que escrever a obra foi uma forma de dar novo sentido à sua trajetória e deixar uma mensagem.
“Quero que o leitor entenda que a vida não se resume às tragédias que nos acontecem, nem aos conflitos que enfrentamos. A vida é, na verdade, o que escolhemos fazer com tudo isso”.
“A dor faz parte do caminho, mas com resiliência, ela pode se transformar em aprendizado, em força, em crescimento”, revelou a escritora.
Para Stefany, a sua trajetória de vida a fez dar mais valor para as pequenas conquistas e é essa mensagem que ela também quer passar com a obra.
“Espero que, ao ler Baby Dancer, as pessoas percebam que viver o ordinário é, muitas vezes, o verdadeiro extraordinário. Que tomar um banho sozinha, caminhar, respirar sem dor. São conquistas imensas. Que possamos valorizar o simples, o agora, e entender que mesmo nos dias difíceis, existe beleza em continuar”, refletiu.
Stefany e o marido celebram a chegada de Antonella.
Reprodução redes sociais
Grávida da primeira filha, Stefany vê na maternidade a conclusão de um ciclo. Para a jovem, o nascimento da filha e do livro quase ao mesmo tempo não são coincidência. Ela acredita que é poesia.
“A maternidade representa um novo capítulo, talvez o mais profundo deles. Depois de ter enfrentado a morte tão de perto, gerar uma vida dentro de mim é como um lembrete de que o ciclo continua, de que eu venci”, comentou Stefany.
“É como se a Antonella (filha) viesse selar esse recomeço, me mostrando que mesmo após os dias mais escuros, ainda podemos florescer. Ela chega quando eu estou inteira de novo. Não perfeita, mas em paz com minhas cicatrizes. E isso, pra mim, é um renascimento em todos os sentidos”, analisou a escritora.
Antes do lançamento do livro, Stefany escreveu sobre o significado da capa do seu livro em suas redes sociais. Sensível e forte, ela deixou mais um recado sobre essa nova etapa da vida.
“A capa do livro me mostra submersa porque por muito tempo foi assim que me senti. Mas hoje, volto à superfície. De pé. Inteira. Respirando. Vencendo”, escreveu Stefany Neves.
A acrobata brasileira Stefany Neves, de 30 anos, lançou na noite da última terça-feira (23), na Zona Sul do Rio, o livro “Baby Dancer”.
Reprodução redes sociais
Ao g1, ela completou o ensinamento.
“Não escrevi só sobre um acidente, mas sobre o que acontece com a alma quando o chão desaparece. Decidir compartilhar isso com o público foi desafiador, mas também libertador. Se a minha jornada pode tocar, inspirar ou dar força a alguém que esteja vivendo sua própria queda, então já valeu a pena”, definiu.
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