
Fábrica Sandálias da Esperança emprega detentos no interior do AC
Zayra Amorim/Iapen
O Acre chegou a 67,2% de detentos que trabalham enquanto cumprem pena de acordo com um levantamento feito pela Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), com mais de 3,7 mil presos inscritos em atividades laborais. Conforme a plataforma nacional, esta é a terceira maior proporção do país, atrás apenas de Maranhão (80%) e Rondônia (69%).
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.Os números correspondem à população carcerária no segundo semestre de 2024, quando havia 5.401 pessoas presas no Acre. A porcentagem alcançada no estado ficou acima da média nacional, que é de 25,4% Ainda conforme o Senappen, 95% dos presos que trabalham no Acre são homens.
Ao participarem, a cada três dias trabalhados, um dia é diminuído (remido) na pena delas.
Até o primeiro semestre de 2024, dos 3.208 presos homens, 3.198 participavam de algum programa, o equivalente a 99,6% do sistema carcerário masculino. Já no presídio feminino, 100% das apenadas faziam parte de alguma forma de ressocialização.
A maioria – pouco mais de 3 mil – desempenha funções no setor primário, que engloba agricultura, pecuária, extrativismo, entre outras.
Outros 541 trabalham nas próprias instituições onde cumprem a prisão, e 47 trabalham no setor terciário (serviço e comércio).
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Considerando os presos em monitoramento eletrônico, o número é um pouco menor: 47% dos reeducandos.
Oportunidades
Fábrica conta com 27 máquinas e deverá ser expandida a outros presídios do estado
Zayra Amorim/Iapen
“É uma grande experiência que a gente tem, sair daqui já com essa cabeça, com esse intuito de botar o nosso próprio trabalho, trabalhar na própria empresa”
Esse relato é de um dos 11 detentos que vão trabalhar na fábrica de sandálias da Unidade Penitenciária de Senador Guiomard, no interior do Acre, inaugurada em novembro do ano passado.
O projeto, desempenhado por meio de parceria entre o Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen-AC), o Tribunal de Justiça do Acre (TJ-AC) e a Senappen, busca profissionalizar detentos e contribuir para a ressocialização após cumprimento da pena.
“Concretizando, vendo os chinelos aqui, já fabricados, é uma alegria para todos nós. Porque a gente capacita os nossos reeducandos, e assim nós colocamos esperança no coração daquele que está aqui a cumprir a pena e que logo retornará para o convívio da sociedade. Aqui, só temos que dizer a gratidão a todos que contribuíram para esse grande projeto”, ressaltou a presidente do TJ-AC, desembargadora Regina Ferrari.
Presidente do TJ-AC experimentou sandálias fabricadas no presídio de Senador Guiomard
Zayra Amorim/Iapen
A fábrica Sandálias da Esperança conta com 27 máquinas adquiridas por meio de investimento de R$ 300 mil do orçamento geral da União.
TJ-AC e Iapen inauguram fábrica de sandálias no presídio de Cruzeiro do Sul
De acordo com o Iapen, a iniciativa será expandida para outros municípios, incluindo a capital Rio Branco e a segunda maior cidade, Cruzeiro do Sul.
Em busca de 2ª chance
Na capital acreana, o Instituto de Administração do Acre (Iapen-AC) disponibiliza diferentes programas para os presídios Feminino, Unidade de Regime Fechado (URF), Unidade de Recolhimento Provisório (URP) e presídio de segurança máxima Antônio Amaro Alves. O g1 foi até às unidades onde acontecem os principais programas para conhecer as iniciativas. Relembre aqui.
O Presidente do Iapen, Marcos Frank Costa, salientou que a intenção é que o egresso retorne à sociedade diferente do que entrou no sistema prisional, e é para isso que esse trabalho é desenvolvido nas unidades.
“A gente trabalha e dá os meios para quem quer mudar de vida. Em todo o estado, nós temos muitos projetos que ajudam nesse processo de retorno. Aqui em Rio Branco, a gente tem o presídio feminino, que é uma referência em ressocialização. Nas unidades do interior, também temos detentos que trabalham, fazem artesanato e são parte de projetos muito importantes para ressocialização dessas pessoas”, frisou ele.
Dentre as apenadas do presídio feminino de Rio Branco, a Joyce, de 30 anos, foi selecionada e é integrante de dois projetos, sendo um de costura e o outro de crochê, chamado “Entrelinhas”. Ambos se complementam, ganham forma e dão vida a roupas, tapetes e tantos outros itens feitos de tecido.
O projeto “Entrelinhas” envolve o crochê, o artesanato e busca desenvolver um ofício para as reeducandas, dar um pouco de conforto para as privadas de liberdade que se sentem solitárias, bem como a oportunidade de expor e vender, em feiras pela cidade, o que foi produzido na penitenciária.
Mãe de três filhos, ela mantém contato com eles via videochamada em razão de outro benefício que permite com que ela receba essas visitas virtuais, já que a família é natural de Sena Madureira, no interior do estado. Dedicada, a reeducanda aprendeu a costurar dentro da cadeia e explica que ao saber sobre a possibilidade de aprender uma nova profissão, se empenhou para participar do programa.
“Ela [diretora do presídio] mostra o trabalho que ela quer que a gente faça, aí a gente faz. Então é feita as feiras e é vendido o nosso trabalho. São escolhidas as pessoas para ir, aí a gente vai lá e expõe o nosso trabalho e o trabalho das nossas parceiras também que ficam na cela”, afirmou ela.
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