O Norte também rima: batalhas de rap ocupam ruas e ecoam a potência do hip hop amazônico


Batalha de São Brás
Divulgação
Historicamente vista como berço de carimbó, guitarrada e brega, a Amazônia também faz rima. E não é de hoje. Nesta quarta-feira (6), Dia Nacional do Rap, o Pará se prepara para um momento inédito que busca colocar o rap amazônico no mapa do Brasil: a grande final da Copa Paraense de Rimas, circuito que percorreu 16 cidades — de capitais a comunidades ribeirinhas — em busca dos melhores MCs do estado.
Nascido da icônica Batalha de São Brás, o movimento prova que o hip hop amazônico ocupa ruas, praças e margens de rio com a mesma potência política e cultural que qualquer grande cena urbana do Brasil, e reafirma que a Amazônia não é margem — é também raiz do rap brasileiro.
“O Pará é distante do Sudeste, mas fazemos cultura de igual pra igual. Nosso rap carrega rios, florestas e favelas. É discurso ambiental, social e de sobrevivência. A Copa é nossa forma de dizer: estamos aqui”, afirma o rapper e produtor cultural Daniel ADR, idealizador do projeto e cria da própria Batalha de São Brás.
Batalha de São Brás
Divulgação / Gerson Rocha
Batalha de rua
Tudo começou em 2013, como um encontro semanal de MCs em São Brás, no microfone aberto, e hoje se expande para um projeto de dimensão estadual, conectando distâncias geográficas colossais para mapear a potência e os talentos do freestyle feito na Amazônia. “O rap no Pará não é homogêneo. Cada região tem sua forma de fazer rima, suas gírias, seus sotaques. E mesmo com todas as dificuldades, há gente fazendo arte e ocupando as ruas. É essa pluralidade que a Copa valoriza”, diz Daniel.
Para ele, realizar um circuito desse porte no Norte é um ato de resistência. “Fazer cultura no Brasil já é difícil, no Norte é ainda mais. Tudo é mais caro, mais distante, com menos recurso. Mas a gente mostra que é possível fazer algo no mesmo nível nacional com pouco, porque temos força e temos voz. A Copa é pra mostrar que existimos”, diz.
A rapper Bruna BG, que começou como participante da Batalha de São Brás e hoje é uma de suas organizadoras, reforça o quanto o projeto abre um canal para a cena da região, que luta para ser ouvida. “O Norte sempre rimou, mas quase nunca foi ouvido. Invisibilizar a Amazônia é perder a chance de escutar um Brasil que o centro ainda não entendeu. Nosso sotaque é denúncia e poesia, e a gente quer somar com novas narrativas e sonoridades ao hip hop nacional”.
Seletiva da 1ª Copa paraense de Rimas
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Mais que competição, ocupação e pertencimento
Com seletivas realizadas em palcos diversos — de praças urbanas a beiras de rio, como aconteceu em Breves, no Marajó —, a Copa Paraense de Rimas também lança luz sobre a importância de ocupar espaços públicos com arte e discurso político. O evento reúne majoritariamente jovens pretos e periféricos, para quem a batalha é tanto vitrine quanto lugar de formação e pertencimento.
“Essa iniciativa rompe os limites da capital e leva o freestyle para várias regiões, respeitando as vivências e as potências locais. Não é só competição, é movimento de escuta e valorização”, afirma a rapper Bruna BG, que começou como participante da Batalha de São Brás e hoje é uma de suas organizadoras.
Bruna também levanta a bandeira pela maior presença feminina no rap, ainda dominado por homens. “Ser mulher na cena é resistência o tempo todo. A presença feminina nas batalhas é urgente. Quando uma mulher rima, ela abre caminho para outras se sentirem encorajadas a ocupar esse espaço. Não estamos aqui para pedir licença, mas para marcar território”, pontua.
Daniel ADR, produtor cultural e MC cria da Batalha de São Brás: a poesia como caminho
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Apoteose do rap amazônico
A grande final, marcada para 23 de agosto, no Memorial dos Povos, em Belém, será o encontro dos 16 MCs classificados nas seletivas regionais. Além das batalhas, o evento contará com shows que reafirmam a força e a memória do movimento. No line-up, Moraes MV, um dos fundadores da Batalha de São Brás; Bruna BG representando a potência feminina da cena; e DJ Black, também fundador e guardião da musicalidade das batalhas.
A atração nacional será o rapper carioca Big Bllakk, conhecido por dar voz às ruas e dialogar com as realidades das periferias brasileiras. Sua presença conecta a cena paraense à narrativa maior do hip hop no país.
A entrada é gratuita, e toda a programação pode ser acompanhada pelas redes da Batalha de São Brás.
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