
Empresário executado em Vila Velha: desvio em empresa pode passar de R$ 9 milhões
O diretor financeiro da Globalsys, Bruno Valadares de Almeida, 39 anos, acusado de ser o mandante do assassinato do empresário Wallace Lovato, de 42 anos, usou parte do dinheiro desviado da própria vítima para bancar cirurgia de papada, transplante capilar, compras de terrenos, joias e viagem internacional.
Segundo a Polícia Civil, cerca de R$ 9 milhões foram desviados da Globalsys e de outras empresas do grupo, que pertenciam à vítima.
Wallace foi morto em 9 de junho de 2025, com um único tiro na cabeça, no bairro Praia da Costa, em Vila Velha, enquanto entrava em seu carro, na porta da empresa Globalsys.
Outras três pessoas suspeitas de envolvimento no crime já foram presas: o motorista, o atirador e um intermediário. O principal intermediário e articulador do crime, identificado como Bruno Nunes da Silva, está foragido.
Segundo a polícia, o mandante usou o acesso exclusivo a uma conta da companhia para transferir valores para contas pessoais e de empresas próprias, emitindo notas fiscais sem respaldo em serviços reais, segundo as investigações.
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A partir dos desvios, a polícia conseguiu identificar os principais gastos, incompatíveis com o salário que o diretor financeiro recebia, que era de aproximadamente R$ 21 mil mensais. Todas as compras foram feitas via Pix. Veja os principais gastos de luxo:
Compra de joias avaliadas em R$ 500 mil;
2 terrenos no interior do Espírito Santo por R$ 220 mil;
Terraplanagem em um dos terrenos, que custou R$ 200 mil;
Pagamento de 10% do lote em um condomínio de luxo em Vila Velha que custa R$ 800 mil;
Pagamento de 10% pelo projeto de construção da casa em condomínio de luxo que custaria R$ 3 milhões;
Troca de veículos, gastando R$ 370 mil;
Transplante capilar;
Cirurgia de papada;
Viagem para a Disney, estimada em R$ 30 mil.
Para a polícia, Bruno confessou ter desviado o dinheiro da empresa, mas nega envolvimento no crime.
“Ele fala que desviou o dinheiro da empresa porque ele queria comer em um restaurante melhor, ter uma vida melhor, sendo que ele recebia por mês 21 mil reais, em média, dos anos que ele trabalhou na empresa Globalsys. Ele se aproveitou da confiança do Wallace para poder fazer esses desvios”, afirmou o chefe da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vila Velha, delegado Daniel Fortes.
O empresário Wallace Lovato, de 42 anos, foi morto com um tiro na cabeça no meio da rua em Vila Velha, Espírito Santo
Reprodução/Redes sociais
Mandante acreditava que não iria ser pego, diz a polícia
Ainda de acordo com as investigações, os desvios começaram no final de 2023. Em meados de julho do ano seguinte, em 2024, a vítima começou a suspeitar da ação do diretor financeiro.
A partir disso, ele começou a planejar o crime. “Ele realmente organizou tudo. E uma coisa importante, ele só tinha contato com o intermediário, porque ele queria se blindar de uma possível prisão dos envolvidos. Na cabeça dele, ele estava blindado”, disse o delegado Fortes.
Entenda a participação de cada um dos acusados
Da esquerda para direita: Bruno Valadares (mandante); Arthur Barros (atirador); Arthur Luppi (motorista); Efferson Ferreira (intermediário).
Divulgação/ Polícia Civil
Bruno Valadares de Almeida, de 39 anos: suspeito de ser o mandante do assassinato. Segundo a polícia, ele desviou mais de R$ 9 milhões da empresa da vítima e esteve em contato com o principal intermediário do crime. Ele foi preso no dia 12 de julho em uma casa no bairro Jardim Colorado, em Vila Velha.
Bruno Nunes da Silva, 30 anos: apontado como principal organizador da logística do crime. Foi a ponte entre os executores e o mandante do crime. Ele está foragido. Não se sabe ao certo quanto o suspeito recebeu pelo crime, mas a polícia identificou pagamentos mensais de R$ 10 mil feitos pelo mandante desde 2024.
Arthur Neves de Barros, de 35 anos: foi preso no dia 19 de junho quando saía de casa na cidade de Sumé na Paraíba. Apontado como atirador. Ele já foi preso na Bahia pelo crime de homicídio. Recebeu R$ 50 mil pela execução.
Arthur Laudevino Candeas Luppi, de 22 anos: foi preso no dia 17 de junho em Minas Gerais. Foi ele quem buscou o carro usado no crime e dirigiu o veículo durante o crime. Recebeu R$ 20 mil pela participação.
Eferson Ferreira Alves, 36 anos: se entregou na delegacia de Vila Velha em 23 de junho. Intermediário do crime, passou o contato do atirador para Bruno Nunes, esteve no Espírito Santo para dirigir o carro onde os atiradores estavam, mas desistiu e voltou para a Bahia. Ele também foi o responsável por organizar a hospedagem dos criminosos na cidade. Recebeu R$ 20 mil pela participação.
Bruno Nunes da Silva, 30 anos, está foragido, suspeito de ser o intermediário e organizador de morte de empresário Wallace Lovato
Divulgação/ Polícia Civil
Relembre o caso
Wallace saía da empresa que era dono e seguia em direção ao carro que estava estacionado na rua quando foi atingido por um único disparo. Câmeras de segurança registraram o momento do crime.
Nas imagens (veja abaixo), foi possível ver toda a movimentação do crime, que aconteceu enquanto Wallace abria a porta de trás do carro para colocar a mochila.
Vídeo mostra momento em que empresário é executado em Vila Velha
Os criminosos fugiram sem levar nada da vítima, que foi socorrida por populares. Wallace foi levado para o hospital em seu próprio carro.
Mandante nega o crime e culpa vítima
Ainda segundo a Polícia Civil, o diretor financeiro negou que tenha cometido o crime e justificou que os pagamentos feitos ao intermediário Bruno Nunes eram feitos a mando da vítima.
A justificativa do acusado para isso é que o empresário pedia o envio desse dinheiro como um esquema de sonegação fiscal, o que não foi identificado pela polícia.
“Ele fala o seguinte: ‘eu fiz, ele era o chefe, eu tinha que fazer’. Só que não tem conversa no celular do Wallace com o Bruno Nunes, nem nenhuma ordem para pagamento. E quando isso era feito, sempre tinha nota fiscal. No caso do intermediário, não havia nota”, explicou o delegado Fortes.
Em depoimento, o acusado disse que chegou a pensar em conversar com um advogado para oficializar uma proposta assumindo os desvios e planejar uma forma de ressarcir a vítima.
O que diz a defesa dos acusados
A defesa de Arthur Laudevico Candeias Luppi disse que, com a conclusão do inquérito, vai responder à acusação e pedir a liberdade do cliente. Já a defesa de Bruno Valadares foi procurada, mas ainda não se pronunciou.
No entanto, na época da prisão, em 12 de julho, afirmou que Bruno é inocente, mas que vai respeitar o processo legal e não vai prestar mais esclarecimentos.
Os outros suspeitos não divulgaram nota de suas defesas, mas em depoimento à polícia no momento das prisões negaram a participação no crime.
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