
Após operação, Câmara de São Bernardo tem 1ª sessão
Após a operação que revelou o esquema de desvio de dinheiro público em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, a Câmara Municipal teve a primeira sessão nesta terça-feira (19) com pedidos de abertura de CPI e de suspensão dos salários dos vereadores afastados.
Na segunda (18), o prefeito afastado Marcelo Lima (Podemos) e mais nove pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público de São Paulo por organização criminosa e lavagem de dinheiro. (Leia mais abaixo.)
Com o auditório lotado, a nova presidente da Casa, Ana Nice (PT), abriu os trabalhos com 26 nomes no painel, dois a menos devido ao afastamento de Danilo Lima (Podemos) — que era presidente da Câmara — e do vereador Ary José de Oliveira (PRTB).
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Durante a sessão, os vereadores João Viana, Shell Gomes e Luana Eloá protocolaram requerimento para suspender os salários dos parlamentares afastados, no valor de R$ 19.960,05. O grupo também pediu acesso aos contratos investigados pela Polícia Federal.
Após operação, Câmara Municipal de São Bernardo tem primeira sessão com pedido de abertura de CPI.
Reprodução/TV Globo
O líder do governo, o vereador Julinho Fuzari, também apresentou um pedido para abertura de uma CPI, com 19 assinaturas, para investigar as suspeitas de corrupção na Prefeitura de São Bernardo.
Danilo Lima disse, em nota, que respeita a Justiça e que não tem nada a temer. Procurada, a defesa de Marcelo Lima não se manifestou.
A TV Globo e o g1 tentam localizar a defesa de Ary de Oliveira.
Denúncia do Ministério Público
Além do prefeito Marcelo Lima , o Ministério Público denunciou vereadores, secretários, servidores e empresários por integrarem uma organização criminosa voltada a corrupção e lavagem de dinheiro em contratos da Prefeitura de São Bernardo do Campo.
Entre os denunciados, estão o vereador Danilo Lima Ramos, afastado da presidência da Câmara Municipal da cidade e primo do prefeito, o suplente de vereador afastado Ary José de Oliveira, e Paulo Iran, funcionário exonerado da Alesp apontado como operador financeiro do esquema.
Posse do prefeito Marcelo Lima (Podemos) na Prefeitura de São Bernardo do Campo, em 1° de janeiro de 2025.
Divulgação/Câmara Municipal de SBC
Segundo a denúncia, o esquema criminoso começou em 2022 e durou até pelo menos a última quinta-feira (14), quando a Operação Estafeta foi deflagrada pela Polícia Federal e o MP.
O esquema consistia em obter contratos públicos e desviar recursos por meio de empresas ligadas formalmente à Prefeitura e à Fundação ABC.
O Ministério Público não fixou uma multa específica na denúncia, mas pediu medidas patrimoniais para a reparação dos danos causados à Fazenda Pública de São Bernardo do Campo.
Sequestro e bloqueio de bens e valores dos denunciados, para garantir tanto o ressarcimento do dano ao erário quanto a perda dos valores provenientes da infração penal;
O valor máximo estimado para bloqueio foi de até R$ 16.913.124,00, correspondente ao montante identificado como prejuízo ao município de São Bernardo do Campo.
Além disso, o MP ressalta que esses bloqueios servem para assegurar também o pagamento de multa e custas processuais que sejam fixadas em eventual condenação.
Com o afastamento do prefeito, quem assume o comando da cidade é a vice-prefeita, Jessica Cormick, do Avante.
Arte/g1
Relembre o caso
O prefeito de São Bernardo, Marcelo Lima, e o presidente da Câmara da cidade, Danilo Lima: primos afastados do cargo pela Justiça.
Reprodução/Instagram
A investigação começou após a polícia encontrar no mês passado, por acaso, cerca de R$ 14 milhões (considerando uma parte em dólar) com um servidor apontado como o operador financeiro do prefeito.
Segundo a PF, há indícios de corrupção e pagamento de propina em contratos com empresas nas áreas de obras, saúde e manutenção. Cerca de R$ 1,9 milhão em dinheiro vivo foi apreendido nesta quinta com alvos diferentes, mas o trabalho de contagem continua em andamento.
O servidor público Paulo Iran Paulino Costa é apontado pela Polícia Federal como operador financeiro de um esquema que, segundo as investigações, desviava recursos públicos da Prefeitura de São Bernardo do Campo. Ainda de acordo com a PF, ele também organizava, controlava e pagava diversas despesas pessoais do prefeito Marcelo Lima (Podemos) e de sua família.
Marcelo foi afastado do cargo na quinta-feira (14) após operação da PF que investiga suspeitas de corrupção.
Segundo a investigação, Paulo Iran desempenhava papel central em um esquema de controle financeiro oculto, sendo o agente principal na arrecadação e na distribuição de valores supostamente ilícitos, que, segundo as evidências, vinham de diversas empresas com contratos com a Prefeitura de São Bernardo do Campo e a Fundação ABC.
A Polícia Federal descobriu por acaso o esquema de corrupção e lavagem de dinheiro, ao encontrar cerca de R$ 14 milhões com o servidor durante outra operação.
Entre as despesas pagas por Paulo Iran, segundo a PF, estão:
Fatura de cartão de crédito do prefeito Marcelo Lima no valor de e R$ 32.049,78;
Contas telefônicas da esposa do prefeito, Rosangela dos Santos Lima Fernandes;
Despesas de viagem, incluindo a aquisição de passagens aéreas internacionais para a esposa, como uma de R$ 19.182,14 para Washington, nos Estados Unidos;
Mensalidades da faculdade de medicina da filha do prefeito, Gabriele dos Santos Lima Fernandes, no valor de R$ 8.284,95, além de outros boletos.
Nos documentos da PF obtidos pela TV Globo, registros fotográficos dos passaportes de Marcelo e Rosangela foram encontrados, sugerindo que Paulo Iran era responsável pela compra das passagens para o casal.
No dia 7 de julho, os policiais estavam por coincidência no prédio em que ele mora e, por um motivo não informado, resolveram abordá-lo e se surpreenderem ao encontrar R$ 14 milhões com ele: uma parte estava no carro e outra, no apartamento.
Filha de Marcelo Lima recebeu 16 parcelas de auxílio emergencial
No total, foram apreendidos quase R$ 13 milhões e US$ 157 mil em espécie. Na época, ele não foi preso, mas, ao longo das investigações, a Justiça decretou a prisão preventiva dele. Ele está foragido. Em nota, o advogado do servidor informou que “aguarda acesso aos autos, onde se manifestará”.
Prefeito de São Bernardo do Campo é alvo de operação da PF
Troca de mensagens
Segundo a PF, Marcelo Lima emitia determinações financeiras diretas para que Paulo Iran realizasse pagamentos e transferências para terceiros. As conversas entre eles, iniciadas em 26 de julho de 2022, demonstravam uma relação de subordinação: Marcelo solicitava os pagamentos, e Paulo Iran os executava.
Marcelo também instruía Paulo Iran a “anotar tudo para o posterior acerto” e pedia a “lista do que tem para entrar”, segundo documento da PF. Há ainda registros em que Marcelo sugere a Paulo que “dê uma de bobo” ao contatar outro indivíduo para saber se havia “alguma coisa nova” a ser recebida.
A PF indica que as trocas de mensagens eram feitas com cautela. Segundo a investigação, as mensagens entre os dois foram configuradas como temporárias e apagadas automaticamente entre abril de 2023 e maio de 2025.
Dinheiro apreendido pela Polícia Federal com servidor da Alesp no dia 7 de julho
Divulgação/PF
Cargos públicos
Paulo Iran também atuava como auxiliar legislativo no gabinete do deputado Rodrigo Moraes (PL) desde setembro de 2022. Segundo o portal da transparência da Alesp, seu salário era de R$ 6.154,51.
No documento da PF, a investigação aponta que Marcelo tratou diretamente com Paulo sobre a nomeação dele e de sua esposa para cargos na Alesp.
Segundo a investigação, Paulo Iran foi nomeado para o cargo de assessor no gabinete de Rodrigo Moraes no mesmo dia em que o assunto foi abordado em mensagens pelo prefeito e pelo servidor.
No portal de transparência da Alesp, consta que tanto Paulo quanto a esposa foram nomeados em 2 de setembro de 2022 para o gabinete do deputado Rodrigo Moraes (PL).
Rosangela ocupou o cargo até novembro de 2024. Paulo, até a quinta (14), quando foi exonerado.
Procurado, o deputado informou que o servidor será exonerado. “No meu mandato não aceito qualquer suspeita de corrupção ou conduta indevida”, declarou.
Sobre a nomeação do casal ter ocorrido no mesmo dia em que Paulo tratou do assunto com o prefeito de São Bernardo do Campo, a assessoria de imprensa do deputado informou apenas para a equipe de reportagem “procurar a prefeitura [de São Bernardo]” e que “o deputado já exonerou Paulo”.
Operação Estafeta
O prefeito afastado Marcelo Lima (Podemos), ao lado do vereador suplente Ary José de Oliveira (PRTB), além do presidente da Câmara Municipal da cidade, Danilo Lima (Podemos).
Montagem/g1/Reprodução/Redes Sociais
A PF cumpriu na quinta-feira (14) 20 mandados de busca e apreensão, além de quebras de sigilos bancário e fiscal nas cidades de São Paulo, São Bernardo do Campo, Santo André, Mauá e Diadema.
As ordens judiciais foram expedidas pelo Tribunal de Justiça de São Paulo e incluíram ainda afastamento de cargos públicos e monitoramento eletrônico de investigados.
Com o afastamento do prefeito Marcelo Lima, quem assume o comando da cidade é a vice-prefeita, Jessica Cormick, do Avante. Aos 38 anos, ela é sargento da Polícia Militar e está no seu primeiro cargo público eletivo.
Na operação, batizada de Estafeta, foi preso em flagrante o empresário Edmilson Carvalho, sócio da Terraplanagem Alzira Franco Ltda., que tem contrato com a prefeitura. Na casa dele, a PF apreendeu R$ 400 mil. (Veja foto abaixo.)
Dinheiro apreendido pela PF nesta quinta-feira (14), em endereços ligados a empresários e servidores que participavam do esquema de corrupção em São Bernardo do Campo (SP)
Montagem/g1/Reprodução/TV Globo
Também foi preso Antonio Rene da Silva, que é servidor da Prefeitura de São Bernardo e atua como Diretor de Departamento na Secretaria de Coordenação Governamental. Havia um mandado de prisão contra ele.
O atual presidente da Câmara Municipal da cidade e primo do prefeito, vereador Danilo Lima Ramos (Podemos), também é alvo de buscas pela polícia, assim como o suplente de vereador Ary José de Oliveira (PRTB).
Os envolvidos poderão responder por organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e corrupção ativa.
Procurada, a prefeitura afirmou que irá colaborar com a investigação. “A gestão municipal é a principal interessada para que tudo seja devidamente apurado. Reforçamos que o episódio não afeta os serviços na cidade”, disse a administração municipal.
O g1 também tenta localizar a defesa dos demais investigados.