
Sede da Prefeitura de São Bernardo do Campo, no Paço Municipal da cidade, na região central
TV Globo/Reprodução
A Prefeitura de São Bernardo do Campo registrou na última segunda-feira (18) na delegacia da cidade um boletim de ocorrências sobre uma invasão a um prédio do Departamento de Licitações e Materiais do município, que pertende à Secretaria de Administração da cidade, com o furto de computadores e outros objetos.
A administração municipal de SBC é alvo de uma grande investigação da Polícia Federal, em razão de um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro registrado na gestão do prefeito Marcelo Lima (Podemos), que está afastado do cargo pela Justiça e usando tornozeleira eletrônica.
O esquema investigado é o de desvio de recursos públicos oriundos de contratos com empresas privadas que prestam serviços para a prefeitura. Vale lembrar que toda contratação nas administrações públicas, caso não sejam emergenciais, são submetidas a processos públicos de licitação.
✅ Clique aqui para se inscrever no canal do g1 SP no WhatsApp
A invasão do departamento, segundo o registro policial, aconteceu durante o final de semana, em horário não determinado. Os funcionários do setor só se deram conta do problema ao chegarem para trabalhar na segunda-feira (18).
O endereço do prédio invadido fica na Avenida Kennedy, altura do n° 1.100, no Centro de São Bernardo, e faz parte da Secretaria de Administração e Inovação, comandada pelo secretário André Luiz Cottet.
O g1 procurou a Prefeitura de São Bernardo para saber o que exatamente foi roubado. Segundo a administração da nova prefeita Jéssica Cormick (Avante), o local invadido é apenas um núcleo de apoio da Secretaria de Administração e que o departamento de licitações real fica no Paço Municipal da cidade.
A Prefeitura de São Bernardo também informou que imagens das câmeras de segurança identificaram que os invasores foram usuários de drogas, que roubam para poder vender coisas para alimentar o vício. Entre os objetos levados estão um computador, cafeteira e carregadores de celular.
Entenda as investigações em São Bernardo
Entenda esquema de corrupção que afastou prefeito de São Bernardo do Campo
O esquema de corrupção e lavagem de dinheiro na Prefeitura de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, envolvendo o prefeito Marcelo Lima (Podemos), tinha celulares “clandestinos” e códigos especiais para impedir a identificação dos envolvidos, aponta investigação da Polícia Federal.
Nesta quarta-feira (14), a PF deflagrou a Operação Estafeta, que terminou com a prisão de dois empresários e um servidor, além do afastamento do prefeito por um ano, com uso de tornozeleira eletrônica.
Como funcionava o esquema
Segundo a investigação, uma complexa organização criminosa desviava recursos públicos e lavava dinheiro proveniente de contratos da prefeitura e da Fundação ABC com empresas nas áreas de obras, saúde e manutenção, entre outras.
O grupo era formado por três núcleos: empresarial, de agentes políticos, de operadores financeiros e articuladores governamentais.
O principal operador financeiro do esquema, de acordo com a PF, é Paulo Iran Paulino Costa, responsável pela arrecadação e pela distribuição dos valores pagos pelas empresas à administração municipal.
Paulo Iran, que atuava como auxiliar legislativo no gabinete do deputado Rodrigo Moraes (PL), teve a prisão decretada pela Justiça e está foragido. No mês passado, os policiais encontraram R$ 14 milhões no apartamento e no carro dele.
O servidor Antonio Rene da Silva Chagas, diretor de Departamento na Secretaria de Coordenação Governamental em São Bernardo, também é peça fundamental no esquema e atuava, segundo a investigação, com Paulo Iran na arrecadação e no repasse dos recursos.
Dinheiro apreendido pela Polícia Federal com servidor da Alesp no dia 7 de julho
Divulgação/PF
Comunicação
A PF descobriu o esquema a partir da troca de mensagens de celular entre Paulo Iran, Antonio e outros investigados, e de anotações sobre o fluxo de caixa clandestino em “post-its”.
Nessas conversas, para dificultar o rastreamento da origem do dinheiro, eles usavam códigos e apelidos, como “lixo” e “saúde”, para ser referir às empresas envolvidas no esquema ou ao tipo de serviço prestado à prefeitura.
Veja o significado de outros termos adotados pelos investigados, segundo a apuração da PF:
Americanos: dólares;
Kilos: milhares de reais;
Zana ou Rosana: primeira-dama Rosangela dos Santos Lima Fernandes;
Bibi: filha do prefeito, Gabriele dos Santos Lima;
Rene ou Renegade: servidor Antonio Rene da Silva Chagas;
Chefe: Marcelo Lima.
Os servidores públicos também se comunicavam por celulares diferentes: um aparelho pessoal, para assuntos do dia a dia, e outro “clandestino”, para conversar sobre os recursos desviados e falar com os empresários envolvidos no esquema.
Era nas conversas pelo aparelho clandestino que Paulo Iran e Antonio usavam os códigos e apelidos, ou seja, não usavam os próprios nomes.
“Nesses diálogos e anotações, são frequentemente empregados códigos, apelidos e referências veladas a nomes de pessoas físicas e jurídicas, dificultando a rastreabilidade das operações”, explica o delegado Daniel Penido Brito na representação enviada à Justiça.
LEIA MAIS:
Filha de Marcelo Lima, prefeito afastado após operação da PF por suspeita de corrupção, recebeu 16 parcelas de auxílio emergencial
Quem é Jéssica Cormick, a vice-prefeita que assume São Bernardo após afastamento do prefeito por suspeita de corrupção
Prefeito de São Bernardo afastado foi vice por seis anos e assumiu a cidade em janeiro após derrotar PT e bolsonaristas; veja perfil
PF descobriu esquema na Prefeitura de São Bernardo por acaso quando fazia outra operação
Marcelo Lima (Podemos) participa de debate do g1 entre candidatos à Prefeitura de São Bernardo
Fábio Tito/g1
Pagamento de despesas pessoais
Além de ser o principal operador financeiro do esquema, a PF afirma que Paulo Iran organizava, controlava e efetuava o pagamento de despesas pessoais do prefeito, da primeira-dama e da filha deles, como despesas do cartão de crédito, conta de telefone e mensalidades da faculdade de medicina da filha.
Segundo a investigação, Marcelo Lima — que foi vice-prefeito do antecessor, Orlando Morando (PSDB), por dois mandatos — mantinha uma vigilância constante sobre entradas e saídas de recursos e orientava Paulo Iran a “anotar tudo para o posterior acerto”.
Em uma troca de mensagens, o servidor confirma ter pago a mensalidade da faculdade da filha de Marcelo Lima, no valor de R$ 8.284,95, ao ser questionado pelo prefeito. A despesa era nomeada no controle de fluxo de caixa como “boleto Bibi”.
Segundo o portal da transparência da Alesp, Paulo Iran recebia R$ 6.154,51 de salário no gabinete do deputado Rodrigo Moraes (PL), onde atuava desde setembro de 2022. A defesa dele informou que “aguarda acesso aos autos, onde se manifestará”.
Já o deputado afirmou na quinta (14) que o servidor será exonerado. “No meu mandato não aceito qualquer suspeita de corrupção ou conduta indevida”, declarou.
Como a PF chegou ao caso
A investigação começou após a polícia descobrir por acaso o esquema de corrupção e lavagem de dinheiro, ao encontrar cerca de R$ 14 milhões com Paulo Iran durante outra operação.
No dia 7 de julho, os policiais estavam por coincidência no prédio em que ele mora e, por um motivo não informado, resolveram abordá-lo e se surpreenderam ao descobrir quase R$ 13 milhões e US$ 157 mil (aproximadamente R$ 849 mil) em espécie com ele: uma parte estava no carro e outra, no apartamento.
Na época, ele não foi preso, mas, ao longo das investigações, a Justiça decretou a prisão preventiva de Paulo Iran.
Na quinta-feira, a PF cumpriu 20 mandados de busca e apreensão e medidas de quebra de sigilos bancário e fiscal nas cidades de São Paulo, São Bernardo do Campo, Santo André, Mauá e Diadema.
As ordens judiciais foram expedidas pelo Tribunal de Justiça de São Paulo e incluem ainda afastamento de cargos públicos e monitoramento eletrônico de investigados.
Dinheiro apreendido pela PF nesta quinta-feira (14), em endereços ligados a empresários e servidores que participavam do esquema de corrupção em São Bernardo do Campo (SP).
Montagem/g1/Reprodução/TV Globo
Com o afastamento do prefeito Marcelo Lima, quem assume o comando da cidade é a vice, Jessica Cormick, do Avante. Aos 38 anos, ela é sargento da Polícia Militar e está no seu primeiro cargo público eletivo.
Na operação, foi preso em flagrante o empresário Edmilson Carvalho, sócio da Terraplanagem Alzira Franco Ltda., que tem contrato com a prefeitura. Na casa dele, a PF apreendeu R$ 400 mil.
Também foi preso Antonio Rene da Silva, servidor da Prefeitura de São Bernardo e Diretor de Departamento na Secretaria de Coordenação Governamental.
O atual presidente da Câmara Municipal da cidade e primo do prefeito, vereador Danilo Lima Ramos (Podemos), também é alvo de buscas pela polícia, assim como o suplente de vereador Ary José de Oliveira (PRTB).
Os envolvidos poderão responder por organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e corrupção ativa.
Procurada, a prefeitura afirmou que irá colaborar com a investigação. “A gestão municipal é a principal interessada para que tudo seja devidamente apurado. Reforçamos que o episódio não afeta os serviços na cidade”, disse a administração.
O g1 também tenta localizar a defesa dos demais investigados.
Com o afastamento do prefeito, quem assume o comando da cidade é a vice-prefeita, Jessica Cormick, do Avante.
Arte/g1
Prefeito de São Bernardo do Campo é alvo de operação da PF