Tragédia aérea em Vinhedo: com 75% da investigação concluída, veja o que falta para relatório final sobre causas


Tragédia da Voepass: vídeo mostra como foi acidente de avião em Vinhedo
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), que apura as causas da tragédia aérea em Vinhedo (SP), apontou que 75% dos trabalhos foram concluídos. Agora, o órgão fará as análises técnicas pendentes e vai elaborar o relatório final. Veja, abaixo, o que foi feito e os próximos passos.
A atualização inclui os trabalhos realizados até sexta-feira (8) pelos investigadores da Força Aérea. O g1 teve acesso ao novo documento, que consta no relatório preliminar do Cenipa, nesta segunda (11).
O acidente, em 9 de agosto de 2024, deixou 62 mortos após a aeronave modelo ATR 72-500 cair no quintal de uma residência. A aeronave era ocupada por 58 passageiros e quatro tripulantes, e saiu de Cascavel (PR) com destino a Guarulhos (SP). Ninguém a bordo sobreviveu.
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A atualização do reporte intermediário revelou que, atualmente, os investigadores trabalham na coleta de dados em relação aos sistemas da aeronave, ao desempenho técnico do ser humano e a aspectos psicológicos.
➡️ A investigação também examina questões de segurança relacionadas:
à operação da aeronave em geral;
ao sistema/componente da aeronave;
à autoridade de aviação civil; e
à manutenção e aos reparos da aeronave.
O que já foi feito?
Coleta de dados no local do acidente;
Extração e análise do gravador de vozes de cabine e de dados de voo no laboratório do Cenipa, em Brasília (DF);
Reconstrução gráfica do voo, incluindo análise de desempenho da aeronave, atuação nos comandos de voo, alertas e alarmes emitidos e dinâmica do acidente;
Análise dos exames anatomopatológicos de todos os ocupantes da aeronave;
Análise dos exames médicos dos pilotos;
Exames de ambos os motores da aeronave;
Exames dos componentes responsáveis por monitorar e controlar diferentes sistemas da aeronave, incluindo o sistema pneumático de degelo;
Exames e testes das válvulas distribuidoras duplas recuperadas dos destroços, que compunham o sistema pneumático da aeronave e eram responsáveis por abrir e fechar a passagem de pressão e vazão pneumática para as câmaras A e B dos boots das asas;
Testes do sensor do detector de gelo, instalado no intradorso da asa esquerda. O sensor indicava aos pilotos que a aeronave estava em condições propícias à formação de gelo por meio do acendimento da luz âmbar ICING no painel da aeronave;
Exames dos componentes do computador responsável pela aquisição e gerenciamento de dados digitais relacionados ao desempenho da aeronave, além do armazenamento de dados relacionados à manutenção do avião;
Exames dos filamentos de 34 lâmpadas dos diversos painéis da aeronave, com o objetivo de determinar se as luzes estavam acesas ou apagadas no momento do acidente;
Exames, testes e pesquisas no atuador do componente do sistema de proteção contra estol que atuava nas colunas de comando de voo da aeronave;
Exames, testes e pesquisas no sensor de posição que era responsável por medir o ângulo de atuação do profundor esquerdo;
Entrevistas com profissionais da Voepass, incluindo mecânicos, despachantes e pilotos;
Entrevistas com familiares dos tripulantes;
Análise de mais de 15 mil voos realizados por aeronaves da frota da Voepass, com o objetivo de identificar padrões operacionais, principalmente em condições de formação de gelo semelhantes às encontradas no voo do acidente;
Análise meteorológica completa, incluindo dados de satélite, radiossondagens e cartas SIGWX, que indicam áreas com fenômenos meteorológicos potencialmente perigosos para a aviação, como tempestades, turbulência, gelo e frentes atmosféricas;
Estudo específico de medição da severidade das condições meteorológicas presentes no dia do acidente;
Sessões em simuladores de voo do modelo da aeronave acidentada com o objetivo de familiarizar os investigadores com os sistemas embarcados, bem como com as condições enfrentadas pela tripulação no dia do acidente;
Realização de voo experimental em aeronave de ensaio do mesmo modelo da acidentada, para familiarizar os investigadores com as características aerodinâmicas relacionadas ao estol em condições reais;
Revisão documental e técnica, incluindo registros de manutenção, prontuários médicos, escalas operacionais, capacidades de manutenção, visitas técnicas, entre outros.
Quais são os próximos passos?
Conclusão das análises técnicas pendentes;
Elaboração da minuta do relatório final, incluindo as recomendações de segurança a serem emitidas;
Envio da minuta do relatório final aos países de fabricação da aeronave (França), e de fabricação dos motores (Canadá) para comentários;
Análise dos comentários enviados pelos dois países;
Emissão do relatório final de investigação;
Divulgação do relatório final.
O gelo e a queda
Autoridades brasileiras e francesas no local do acidente em Vinhedo
Força Aérea Brasileira/Divulgação
Desde o dia do acidente, especialistas ouvidos pelo g1 e pela GloboNews afirmaram que a formação de gelo no avião pode ter sido um fator para a queda, mas que não existe um fator único que cause um acidente.
“Quando o gelo é severo, o acúmulo de gelo no avião pode ser bastante grande, ou seja, você aumenta o peso do avião de forma considerável e também você reduz o desempenho aerodinâmico porque o gelo muda o formato da asa”, explicou James Waterhouse, professor de engenharia aeronáutica da Universidade de São Paulo (USP)
No caso do avião envolvido na queda, outro ponto a ser considerado, segundo o professor, é a situação em que a empresa estava. “Todas as vezes que uma empresa entra em crise econômica, ela começa a degradar a segurança operacional”, frisou.
“Não estou dizendo que esse seja o caso específico, mas existe uma degradação de várias condições da empresa. E essas condições podem refletir tanto na manutenção quanto também na parte dos pilotos, como, por exemplo, cargas horárias extenuantes ou eventualmente contingenciamento de salários. Ou seja, você pode gerar um risco humano”, detalhou.
Imagem feita por drone mostra trabalho das equipes de emergência em local da queda do avião da Voepass em Vinhedo (SP), em 10 de agosto de 2024.
Carla Carniel/ Reuters
O que diz a Voepass
Em nota, a Voepass informou que a queda do voo 2283 foi “o episódio mais difícil” da história da companhia e que, um ano após a tragédia, segue “solidária às famílias das vítimas”, mantendo “suporte psicológico ativo” e apoiando homenagens realizadas ao longo do período.
Também afirmou que somente o relatório final do Cenipa poderá apontar, de forma conclusiva, as causas do ocorrido.
A empresa destacou que “sempre atuou cumprindo com as exigências rigorosas que garantem a segurança” das operações e que a frota “sempre esteve aeronavegável e apta a realizar voos”, conforme padrões internacionais.
A companhia também afirmou que colabora com as investigações em andamento e reafirmou compromisso com a apuração dos fatos e com “a melhoria contínua nos processos de segurança da operação aérea”.
Leia o posicionamento na íntegra abaixo:
“No dia 9 de agosto de 2024, vivemos o episódio mais difícil de nossa história. A queda do voo 2283, na região de Vinhedo (SP), resultou em perdas irreparáveis. Um ano depois, seguimos solidários às famílias das vítimas, compartilhando uma dor que permanece presente em nossa memória. Em mais de 30 anos de operações na aviação brasileira, jamais havíamos enfrentado um acidente.
A tragédia nos impactou profundamente e mobilizou toda a nossa estrutura, humana e institucional, para garantir apoio integral às famílias, nossa prioridade. Nas primeiras horas após o acidente, formamos um comitê de gestão de crise e trouxemos profissionais especializados — psicólogos, equipes de atendimento humanizado, autoridades públicas, seguradoras, além de suporte funerário e logístico.
Temos atuado de forma transparente junto às autoridades públicas e seguimos fortemente dedicados a resolução das questões indenizatórias o quanto antes, neste aspecto com estágio bastante avançado das indenizações restantes. Mantemos o suporte psicológico ativo e continuamos apoiando homenagens realizadas pelas famílias ao longo deste ano. Nos solidarizamos com toda a forma de homenagem às vítimas do acidente.
Sobre a apuração das causas do acidente, reiteramos nossa confiança no trabalho do CENIPA, com o qual temos colaborado desde o início das apurações, e reforçamos que a investigação de um acidente aéreo é um processo complexo, que envolve múltiplos fatores e requer tempo para ser conduzida de forma adequada. Somente o relatório final do CENIPA poderá apontar, de forma conclusiva, as causas do ocorrido. Cabe lembrar que o relatório preliminar divulgado pelo órgão em setembro de 2024 confirmou que a aeronave do voo 2283 estava com o Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA) válido, e com todos os sistemas requeridos em funcionamento. A atuação da empresa esteve sempre pautada em padrões de segurança internacionais, contando inclusive com a certificação IOSA, um requisito de excelência operacional emitido apenas para empresas auditadas IATA, além de ter o acompanhamento periódico da ANAC como agência reguladora. Em três décadas de atuação, em um setor altamente regulado, a segurança dos passageiros e da tripulação sempre foi a prioridade máxima da companhia.
Com relação às tratativas trabalhistas e com credores, elas seguem em andamento no âmbito judicial.
Agimos sempre com responsabilidade, humanidade e empatia. Nossa solidariedade permanece firme e com respeito e sensibilidade a dor dos familiares das vítimas, e com toda a sociedade brasileira”.
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