
Fachada do Hospital de Clínicas da Unicamp, em Campinas (SP)
Estevão Mamédio/g1
Um levantamento da Diretoria Executiva da Área da Saúde (Deas) da Unicamp aponta que a universidade tem média de 4,4 mil pessoas atendidas pelo SUS por cada leito disponível. Com isso, a Unicamp possui maior sobrecarga entre os hospitais de clínicas do interior de São Paulo.
Somando o Hospital de Clínicas da Unicamp e o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism), são 560 leitos para 2,4 milhões de pessoas que dependem do SUS na região de saúde de Campinas (SP), segundo a diretoria. Veja abaixo.
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“O problema não é a estrutura já montada”, avalia Luiz Carlos Zeferino, diretor executivo da Área da Saúde da Unicamp. “Nosso maior problema é a desproporção enorme entre nossa capacidade assistencial e a área de referência em que atuamos”, explica.
Desproporção entre população e leitos
Segundo o levantamento, entre os hospitais de clínicas do interior de São Paulo, a Unicamp é a segunda com menos leitos: somando HC e Caism, são 560 leitos no total. Porém, a população que depende do SUS na região de saúde de Campinas é a maior, com mais de 2,4 milhões de pessoas.
Número de leitos por hospital e quantidade de pessoas que dependem do SUS na região de saúde
Com isso, a Unicamp tem média de 4.403 pessoas dependentes do SUS por leito. O número é o dobro do HC de Ribeirão Preto (SP), que tem média de 2.100 pessoas por leito.
Para Zeferino, Ribeirão Preto também possui a vantagem de ficar a 100 quilômetros do Hospital de Câncer de Barretos, que absorve grande parte da demanda gerada pela oncologia.
“Além de serem maiores que nós, ainda têm esse alívio. Na nossa região, fora o HC da Unicamp, o único serviço que atende especificamente câncer é o Boldrini, mas só atende crianças. Não há atendimento para adultos. Então, o que acontece? Qual o hospital da região que mais trata esse tipo de paciente? O nosso”, diz o professor.
Além da oncologia, Zeferino afirma que as filas de atendimento também existem na cardiologia, para cirurgias cardíacas, e na ortopedia, para colocar próteses, por exemplo.
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Reflexos
Segundo Zeferino, as dificuldades nos atendimentos acabam impactando os atendimentos na Unidade de Emergência Referenciada da Unicamp. São os pacientes que passam mal, apresentam casos graves e muitas vezes, precisam ficar em macas, aguardando a liberação de leitos para internação.
“Aqui na Unicamp, meio que se habituou a ter 50, 70, 80, às vezes passando de 100 pacientes na maca. Isso é péssimo. Se tivéssemos mais 100 leitos hoje, seria só pra tirar os pacientes das macas e passar para a cama”, afirma.
Para o diretor, mesmo com toda a rede de saúde de Campinas, os hospitais da metrópole não possuem capacidade para atender a demanda da região.
“Temos o Hospital Mário Gatti, o Mário Gattinho, o Ouro Verde, a PUC, uma rede de UPAs. É um aparato. Mas a população de Campinas tem mais de 1 milhão de habitantes, e 50% dessa população depende exclusivamente do SUS. Mais tudo que vem da região, aí não dá conta. Acho que o cenário nosso é um cenário complexo para os próximos anos”, avalia.
Mais leitos
O diretor também explica que a abertura de leitos, sem análise dos casos atendidos e planejamento a longo prazo, não é suficiente para solucionar a sobrecarga na Unicamp e na rede pública de saúde.
“O Banco Mundial, principalmente, fala que no Brasil tem milhares de leitos fechados. São leitos que, se abertos, não agregam resolutividade no sistema de saúde. São leitos de baixa resolutividade. Quando você tiver uma pneumonia, que até poderia ser tratada em casa, você interna lá no hospital, mas se o paciente ficar mais grave, tiver insuficiência respiratória e precisar colocar uma ventilação mecânica, ele já precisa mandar para outra unidade”, afirma.
Em junho, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), anunciou a construção de um hospital com capacidade de até 400 leitos para atender a demanda da região de Campinas. Para Zeferino, o hospital precisará atender casos de alta complexidade para conseguir suprir os atendimentos.
“Quem está matando as pessoas é a alta complexidade, que fica na fila. Então, esse hospital de 400 leis vai precisar atender câncer, vai ter que ter recurso para cirurgia cardíaca, vai ter que fazer ortopedia”, completa.
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