
Elison e Betanha aguardavam uma bebê
Divulgação/Betanha Lima
O jovem Elison Pereira de Aquino, de 23 anos, foi um dos mortos por engano em uma chacina ocorrida em um garimpo ilegal na divisa entre Laranjal do Jari (AP) e Almeirim (PA). Ele estava entre nove trabalhadores atacados após serem confundidos com assaltantes que agiram na região no início da semana passada.
Apenas um deles sobreviveu e foi resgatado pelo Grupamento Tático Aéreo (GTA). Natural de Laranjal do Jari, Elison trabalhava no transporte de combustível para o garimpo. Ele deixou a namorada, Betanha Lima Freitas, de 19 anos, grávida de cinco meses da primeira filha do casal.
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“Tudo que ele ia fazer era para a filha dele. Se ele ia trabalhar, era para o sustento da nossa filha. Eu apoiava ele nisso, sempre apoiei. Ele nunca foi de coisa errada, só trabalhava duro, pagava tudo com o próprio suor. Ele sonhava com a nossa filha”, disse.
Betanha está no quinto mês de gestação
Divulgação/Betanha Lima
Sem emprego fixo, o casal vivia entre as casas das mães, tentando se manter enquanto aguardavam a chegada da bebê. Os dois se conheciam há um ano e moravam juntos há 7 meses.
“A gente não tem uma renda certa pra sustentar a criança, então ele foi trabalhar”, contou Betanha.
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A mãe do jovem, Valdilene Pereira de Aquino, de 37 anos, contou que ele estava trabalhando para juntar dinheiro e terminar um quarto onde moraria com a namorada, na casa da família.
“Ele queria ter o espaço dele. Ele falava todo dia do bebê, estava animado, queria fazer o chá de bebê, fazer uma churrascada”, disse.
Última foto que Elison enviou à família antes de ser executado
Divulgação/Valdilene Pereira
Último contato
O casal se falou pela última ainda na segunda-feira (4). Elison avisou que estava voltando para casa, e Betanha contou que faria exames pré-natais. Eles planejavam comprar o enxoval da bebê juntos. No entanto, a preocupação passou a aumentar após a jovem não receber respostas do companheiro.
“Fiquei esperando, mas fiquei agoniada. Sempre que ele tinha internet, conversava comigo. Mas não falou mais nada. A angústia aumentou quando começaram a circular notícias sobre pessoas desaparecidas e mortas”, relatou.
Na identificação, Betanha reconheceu o corpo de Elison pela camisa que ele usava. Ela contou que passou mal várias vezes e precisou ser levada ao hospital.
“Ele falou que quando voltasse ia comprar as coisas da criança. Disse que assim que chegasse a gente ia fazer. Eu fiquei esperando ele chegar, só que isso foi interrompido. Quando chegou, já foi sem vida”, contou Betanha.
Elison era o filho mais velho de Valdilene. Ela disse que não conseguiu ver o corpo por causa do estado em que foi encontrado. O jovem foi velado e enterrado em Laranjal do Jari, no sul do Amapá.
A mãe afirmou que prefere lembrar do filho como ele era: amoroso e sempre sorridente.
“Queria olhar na cara de quem fez isso. Meu filho tinha sonhos, queria ser pai, cuidar da filha. Eles tiraram tudo isso dele”, disse a mãe.
Chacina em região remota
Mapa da região onde ocorreu chacina de garimpeiros na divisa do Pará com o Amapá
g1
Um grupo de nove garimpeiros foi atacado enquanto negociava terras em área de garimpo ilegal na divisa com o Pará. Oito morreram e um foi resgatado com vida. A polícia acredita que eles foram confundidos com assaltantes que atuaram na região dias antes.
As informações preliminares apontam que um grupo de assaltantes estava agindo na região para roubar ouro, o que teria provocado a reação dos suspeitos da chacina, que não tiveram os nomes divulgados pela polícia.
Os corpos foram encontrados em pontos distintos da mata e do rio Jari. Duas caminhonetes usadas pelo grupo foram incendiadas. A investigação está sob sigilo, com suspeitos já identificados, mas sem prisões até o momento.
As vítimas foram identificadas como:
Antônio Paulo da Silva Santos, conhecido como “Toninho” – 61 anos, natural de Cedro – MA.
Dhony Dalton Clotilde Neres, conhecido como “Bofinho” – 35 anos, natural de Itaituba – PA. Era garimpeiro e praticava a atividade legalmente no município de Calçoene;
Elison Pereira de Aquino, conhecido como “Dinho” – 23 anos, natural de Laranjal do Jari – AP, atuava com transporte de combustível para o garimpo. Vítima deixou a esposa grávida. Corpo foi velado e sepultado no sul do Amapá;
Gustavo Gomes Pereira, conhecido como “Gustavinho” – 30 anos, natural de Ourilândia do Norte – PA. Segundo informações, morava em um condomínio em Macapá, era casado e pai de um bebê de 1 ano. Ele estaria no local como visitante e não possuía vínculo com atividades no garimpo;
Janio Carvalho de Castro, conhecido como “Jane”, natural de Bom Jesus do Tocantins – PA. Era garimpeiro e praticava a atividade legalmente no município de Calçoene;
José Nilson de Moura, conhecido como “Zé doido” – 38 anos, natural de Lagoa da Pedra – MA;
Luciclei Caldas Duarte, conhecido como “Tripa” – 39 anos, natural de Laranjal do Jari – AP. Era piloto da voadeira utilizada pelo grupo;
Paulo Felipe Galvão Dias, 30 anos, natural de Capitão Poço – PA.
Polícia identifica 8 mortos na divisa do Amapá com o Pará
g1
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