O que diz depoimento de delegado exonerado por suspeita de envolvimento em esquema de desvio de armas na Bahia


Saiba o que diz depoimento de delegado da BA exonerado por suspeita de envolvimento em esquema de desvio de armas
Reprodução/TV Bahia
O inquérito do Ministério Público da Bahia e Corregedoria da Polícia Civil – que investiga suposto esquema de desvio de armas envolvendo policiais da Bahia – ouviu o delegado Nilton Tormes durante apurações, que acontecem há mais de um ano. Tormes foi exonerado do cargo de coordenador técnico do Departamento de Polícia Metropolitana (Depom) em março de 2025, por suspeita de participação no suposto esquema.
A ação alvo da investigação aconteceu no dia 11 de julho de 2024 e, segundo o declarado pelos agentes, levou à apreensão de uma submetralhadora, seis fuzis e mais mil munições. Apesar disso, os depoimentos colhidos durante o inquérito sugerem que mais fuzis e pistolas do que o divulgado à imprensa foram encontrados no esconderijo, que ficava na cidade de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador (RMS).
O g1 teve acesso ao inquérito e ao depoimento do ex-titular do Depom à 2ª Vara do Tribunal do Júri, onde ele relata o que teria acontecido no dia da ação de 11 de julho 2024, que envolveu policiais militares e civis.
Em pouco mais de 1 hora 35 minutos, Nilton relembra como teria conseguido a informação sobre o esconderijo e o que aconteceu em seguida.
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Confira o que ele falou sobre a ação investigada:
📌 O primeiro a entrar em contato com Tormes foi o cabo da Polícia Militar (PM) Tibério do Vale Alencar, de quem é amigo há cerca de 15 anos. As informações sobre o esconderijo de armas foram reunidas por Roque de Jesus Dórea, capitão do Departamento Pessoal da Polícia Militar, conhecido como capitão Dórea. O capitão Dórea foi formalmente denunciado pelo Ministério Público da Bahia por homicídio qualificado, extorsão, além de outros crimes.
📌 O delegado conta que em uma reunião com Tibério e Dórea, teve contato direto com a fonte do capitão da PM por meio de ligação, mas não descobriu informações sobre o local do esconderijo na oportunidade.
📌Essa conversa não foi formalmente registrada, após a fonte se recusar a prestar depoimento à polícia. Apesar de afirmar ter feito vários relatórios, Nilton disse que os detalhes dados pela fonte não foram materializados mediante registro.
📌 Nilton estava com Tibério na noite do dia 11 de julho de 2024, quando capitão Dórea os informou que sabia onde estava o esconderijo das armas que teria pertencido a um integrante de facção criminosa morto dias antes em uma operação policial.
📌Diante disso, Nilton afirmou que acionou o diretor do Depom, Arthur Gallas, sobre a incursão na área de mata. Depois, ele acionou a própria equipe e a Coordenação de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil para dar suporte na ação, que aconteceu em uma área de risco.
📌 O ponto de encontro foi na Estrada Velha do Aeroporto, rodovia que liga Salvador a Lauro de Freitas, e foi marcado para que uma conversa acontecesse com os participantes da ação. Nilton afirma que chegou primeiro com sua equipe, por volta das 22h. Em seguida, chegaram agentes da Core e, por fim, o capitão Dórea e outras pessoas que ele achou se tratarem de outros policiais.
📌O ex-coordenador do Depom afirma que assim que chegou, conversou com todos os presentes, explicando o que sabia sobre a ação. Entretanto, enfatizou que quem sabia exatamente onde estava o esconderijo era o capitão Dórea.
📌 Sempre que perguntado sobre a presença de Joseval Santos Souza e Jeferson Sacramento Santos — que teriam sido levados para o local como informantes e foram encontrados mortos dias depois — Nilton negou reconhecê-los. Além disso, enfatizou que todos que participaram da ação estavam de balaclava e coletes balísticos, o que difere do relato de outros agentes ouvidos pela investigação.
📌 Nilton afirma que toda a ação deve ocorrido em cerca de 40 minutos, que estava escuro e chovendo, o que se assemelha ao relato da maioria dos ouvidos. Porém, ele afirma que não chegou a ver as armas e que não sabe quantas foram retiradas do local.
📌 O delegado reafirma no depoimento que seis fuzis foram encontrados, assim como substâncias entorpecentes e que todo material foi colocado na viatura da Core.
📌 Ao final da operação, não foi realizado nenhum registro formal, uma vez que não houve prisões. O material foi inicialmente encaminhado ao Depom, mas, por ordem de Arthur Gallas, foi levado até a sede da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) para ser apresentado à imprensa.
📌 Depois disso, Nilton Tormes afirmou que realizou outra diligência, apenas com a equipe dele, mas com informações passadas por capitão Dórea.
📌 Foi intimado formalmente pelo delegado Adailton Adam, responsável pela Delegacia Especializada Antissequestro e prestou esclarecimentos. Depois, o delegado da Antissequestro fez questionamentos informais sobre o assunto e ele não soube informar detalhes sobre a morte de Joseval e Jeferson.
Mesmo tendo contribuído para a investigação do Ministério Público da Bahia, o Nilton Tormes não é um dos investigados pelo inquérito.
Troca de áudios entre policiais civis da BA indica alinhamento de depoimentos
Áudios do policial civil Douglas Pithon, ex-coordenador da Coordenação de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil da Bahia, enviados a um agente subordinado, sugerem um alinhamento de depoimentos prestados na investigação de um suposto esquema de desvio de armas.
Mudanças em depoimentos motivaram investigações sobre bunker encontrado na RMS
O inquérito do Ministério Público da Bahia (MP-BA) e Corregedoria da Polícia Civil levantou uma série de informações sobre o esquema envolvendo policiais do estado em 2024. O caso aconteceu no mês julho e terminou com a morte de duas pessoas, uma delas inocente.
Inicialmente, a ação, realizada pelo Departamento de Polícia Metropolitana (Depom) e Coordenação de Recursos Especiais (Core), foi apresentada como uma das maiores apreensões de armas até aquela altura de 2024. Uma submetralhadora, seis fuzis e mais mil munições foram encontradas em um matagal de Lauro de Freitas, cidade da Região Metropolitana de Salvador (RMS), onde ficava um esconderijo de uma facção criminosa.
Douglas Pithon, ex-coordenador de Recursos Especiais (Core) da PC-BA
TV Bahia
O g1 teve acesso à investigação realizada pelo MP e corregedoria da PC. Entre as informações levantadas, constam áudios de Pithon, enviados a um dos policiais da Core que acompanhou a ação investigada. Ele alerta o colega sobre a realização de uma “oitiva relativamente diferente”.
“Irmão, se ligue. Em relação aquelas “apreensão” daquelas armas. […] Doutor Tormes tá fazendo outro procedimento em Itinga, que é o procedimento de apreensão das armas. Aquela p**** lá que badalou com a prisão dos “polícia” [militares] que de alguma maneira “tava” revertendo pra policia civil, no caso ele, né. Então a gente vai fazer uma oitiva relativamente diferente da que feita lá com Adam”, disse Pithon.
Na ocasião, ele se referia a um depoimento dado ao responsável pela Delegacia Especializada Antissequestro, delegado Adailton Adam, que começou a investigar o suposto esquema e a conexão com a morte de dois homens: Joseval Santos Souza e o enteado dele, Jeferson Sacramento Santos, que foram levados para o local da ação e encontrados mortos dias depois.
A orientação para que um novo depoimento fosse prestado teria partido do delegado Nilton Tormes, que foi exonerado do cargo em março deste ano por suspeita de participar do suposto esquema de desvio de armas.
Ainda na troca de áudios, Douglas Pithon envia os registros do próprio depoimento, bem como dos outros que estiveram na ação, para que o colega dê “uma lida”. Além disso, ele pontua que tudo está “alinhado” com Arthur Gallas, diretor do Departamento de Polícia Metropolitana (Depom).
“Eu vou te mandar a oitiva sua e de Teles aí, e ai vocês precisam ir em algum horário hoje lá na delegacia de Itinga, encontrar doutor Tormes pra assinar essa parada, viu? Já tá tudo alinhado ai com doutor Arthur com todo mundo”, disse ele.
Também em depoimento ao MP, o delegado Guilherme Pernambuco, titular da delegacia de Itinga, afirmou que recebeu um a incumbência de fazer o inquérito do delegado Nilton Tormes e que recebeu dele um documento pronto.
Em contrapartida, o ex-titular do Depom afirma que Pernambuco acompanhou os depoimentos dos policiais da Core.
Delegado da Polícia Civil é investigado por envolvimento em desvio de fuzis apreendidos na Bahia
Reprodução/TV Bahia
É importante ressaltar que Nilton Tornes e Douglas Pithon não são investigados no inquérito. Eles foram ouvidos na condição de testemunhas e a investigação segue em andamento.
Foram formalmente denunciados pelo MP-BA:
Roque de Jesus Dórea, capitão do Departamento Pessoal da Polícia Militar, conhecido como “capitão Dórea”;
Jorge Adisson Santos da Cruz, ex-policial militar, demitido por envolvimento em crime de extorsão, mediante sequestro seguido de morte, em 2015;
Ernesto Nilton Nery Souza, soldado da Polícia Militar, lotado no bairro da Liberdade.
O que dizem os citados
➡️ Em nota, Arthur Gallas afirmou que Nilton Tormes foi o responsável por coordenar operação em julho de 2024 pelo Depom, já que ele era o coordenador da Região Metropolitana de Salvador. Inicialmente, havia dúvida sobre se a área onde ocorreu a ação era da 23ª Luro de Freitas ou da 27ª Delegacia Territorial de Itinga.
Ele pontuou ainda que todos os policiais que participaram da ação foram ouvidos como testemunhas do inquérito policial instaurado pela Delegacia de Itinga. Além disso, afirmou que o inquérito foi concluído e indicou que material apreendido pertencia a um integrante de facção criminosa.
Gallas enfatizou que entrou em contato com Douglas Pithon para esclarecer que os agentes da Core precisavam ser ouvidos na Delegacia de Itinga, mesmo que já tivesse prestado depoimento na Delegacia Antissequestro. Ele pontou que eram apurações distintas e que precisavam ser ouvidos como testemunhas naquele procedimento também.
O diretor do Depom, enfatizou que as conversas entre ele e Douglas foram acerca das providências necessárias ao andamento do procedimento e quem hipótese nenhuma foi feito algum acordo.
“Meu papel como Diretor do Departamento foi apenas orientar nesse sentido, destacando a importância da operação pelo destaque que teve. Quanto ao papel de Nilton Tormes foi acompanhar o procedimento na Delegacia, em razão da sua atribuição de Coordenador, pois não caberia instauração de Inquérito na sede do Departamento”, finalizou.
➡️ Já Douglas Pithon afirmou que o alinhamento mencionado no áudio é referente ao dia, horário e o local para que o agente da Core fosse até a delegacia prestar o depoimento. Segundo ele, o segundo depoimento precisou ser realizado por que o delegado Adailton Adam havia realizado uma “oitiva irregular”.
➡️ Nilton Tormes admitiu que, de fato, houve uma troca de delegacia que apuraria o inquérito, como indicado por Gallas. Sobre a necessidade de um novo depoimento, ele afirmou que, na verdade, as oitivas foram modificadas na delegacia antissequestro. Tormes também negou que o inquérito já tivesse chegado pronto ao delegado de Itinga.
O g1 tenta contato com o delegado Adailton Adam para novos esclarecimentos.
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