
O contrato entre o time a Vai de Bet foi assinado em dezembro de 2023, e previa o pagamento de R$ 360 milhões em três anos — o maior patrocínio máster da história do futebol brasileiro até aquele momento. Investigação policial revela que parte do dinheiro recebido pelo Corinthians com patrocínio foi parar em contas ligadas ao PCC
Reprodução/TV Globo
A Polícia Civil de São Paulo identificou indícios de que parte do dinheiro que uma empresa de apostos pagou como patrocínio ao Corinthians foi parar em contas vinculadas ao PCC.
O contrato entre o Corinthians e a Vai de Bet foi assinado em dezembro de 2023, e previa o pagamento de R$ 360 milhões em três anos — o maior patrocínio máster da história do futebol brasileiro até aquele momento. Inicialmente, o contrato não previa intermediário. Mas, na hora da assinatura, foi incluída uma comissão de 7% sobre o valor do contrato. O Corinthians deveria repassar esse percentual para uma empresa intermediária.
Em maio de 2024, a Polícia Civil de São Paulo começou a investigar denúncias de que parte desse dinheiro passou por uma rede de empresas, algumas de fachada, em nome de laranjas. Depois que as denúncias se tornaram públicas, a Vai de Bet decidiu rescindir a parceria.
Em um ano de investigação, os policiais refizeram o caminho do dinheiro da suposta comissão. O Corinthians fez dois depósitos – que totalizavam R$ 1,4 milhão – à empresa Rede Social Media Design, a intermediária do contrato do clube com a Vai de Bet. Um dos sócios da Rede Social Mídia é o Alex Cassundé, que trabalhou na campanha do presidente do Corinthians, Augusto Melo.
Depois de receber o depósito, a Rede Social Media transferiu mais de R$ 1 milhão para a Neoway Soluções Integradas — que está em nome de uma empregada doméstica, que vive em Peruíbe, no litoral paulista. Na sequência, a Neoway repassou praticamente o mesmo valor para outra empresa de fachada, a Wave Intermediações e Tecnologia. O relatório da polícia afirma que o destino final do dinheiro foi a UJ Football Talent, que recebeu pouco mais de R$ 1 milhão – R$ 874 mil diretamente da Wave e R$ 200 mil de outra empresa.
O nome da UJ Football Talent já tinha aparecido no acordo de colaboração premiada assinado entre o delator do PCC, Vinicius Gritzbach, e o Ministério Público de São Paulo. Em depoimento, Gritzbach disse que a empresa era controlada, na prática, pelo empresário de jogadores de futebol Danilo Lima de Oliveira.
A polícia investiga a ligação de Danilo Lima de Oliveira com o PCC. Ele também é suspeito de fazer parte do sequestro de Gritzbach, em 2022, para obrigá-lo a revelar o paradeiro de milhões de reais em criptomoedas.
O relatório da Polícia Civil afirma que o Corinthians é vítima desse esquema. Os investigadores têm indícios de que o contrato de intermediação entre a Vai de Bet e o Corinthians foi um artifício usado para desviar dinheiro do clube. O presidente Augusto Melo e diretores são investigados por furto, lavagem de dinheiro e associação criminosa.
O Corinthians declarou que é vítima das circunstâncias investigadas; que não tem controle sobre o que terceiros fazem com as comissões de contratos; e que cumpre suas obrigações legais – e preza pela transparência e integridade.
O presidente do Corinthians, Augusto Melo, declarou que apoia as investigações.
A Vai de Bet declarou que está à disposição das autoridades como testemunha desde o início das investigações.
A UJ declarou que as movimentações bancárias dela e do sócio Ulisses Jorge são lícitas – e que não possui qualquer ligação com o PCC.
Danilo Lima declarou que não tem qualquer ligação com os fatos sob investigação nem faz parte do quadro societário da UJ.
Alex Cassundé disse que pagou pela compra de equipamentos. E que não tem como monitorar o destino do dinheiro.
O Jornal Nacional não conseguiu contato com as outras empresas.
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