Ministros consultam Planalto sobre apoiar publicamente Marina Silva após ataques de senadores


As primeiras manifestações públicas vieram de ministras mulheres. Dezenove ministros, todos homens, não comentaram o episódio. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), também preferiu não comentar. As primeiras manifestações de apoio à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, feitas por integrantes do governo, vieram de ministras mulheres. Marina se retirou de uma reunião da Comissão de Infraestrutura (CI) do Senado nesta terça-feira (27) após ser ofendida por três senadores.
Como a ala feminina da Esplanada dos Ministérios reagiu em peso e de forma articulada, fontes do Palácio do Planalto admitiram que alguns ministros homens questionaram a Secretaria de Comunicação da Presidência se deveriam ou não declarar apoio público à ministra .
Após receberem o aval do ministro da Secretaria de Comunicação, Sidônio Palmeira, que também saiu em defesa de Marina Silva nas redes, diversos integrantes do governo passaram a postar mensagens de apoio. Sidônio os orientou a seguir o tom da mensagem da ministra Gleisi Hoffmann, já que aquele seria o adotado oficialmente pelo governo.
As ministras Gleisi Hoffman (Relações Institucionais), Anielle Franco (Igualdade Racial), Macaé Evaristo (Direitos Humanos) e Márcia Lopes (Ministério das Mulheres) inauguraram, nas redes sociais, as mensagens de apoio à Marina Silva. Assim como os ministros Jorge Messias (Advocacia Geral da União) e Márcio Macedo (Secretaria-Geral da Presidência).
“Inadmissível o comportamento do presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado, Marcos Rogerio, e do senador Plinio Valério, na audiência de hoje com a ministra Marina Silva. Totalmente ofensivos e desrespeitosos com a ministra, a mulher e a cidadã. Manifestamos repúdio aos agressores e total solidariedade do governo do presidente Lula à ministra Marina Silva”, disse Gleisi Hoffmann em uma rede social.
Dezenove ministros, todos homens, não comentaram em nenhuma plataforma, o episódio. Enquanto 18 ministros, homens e mulheres, se manifestaram.
Ana Flor: ataques contra Marina Silva são episódio vergonhoso para a política brasileira
Durante a sessão da comissão do Senado, nesta terça, o presidente do colegiado, Marcos Rogério (PL-RO), exigiu que Marina se colocasse “no seu lugar”. O senador Omar Aziz (PSD-AM) disse que ela não tinha “direito” de fazer seu trabalho com base nas leis. E Plínio Valério (PSDB-AM) disse que a respeitava como mulher, mas não como ministra.
“É um episódio muito grave e lamentável, além de misógino. Toda a minha solidariedade e apoio à Marina Silva, liderança política respeitada e uma referência em todo o mundo na pauta do meio ambiente. É preciso que haja retratação do que foi dito naquele espaço e que haja responsabilização para que isso não se repita”, disse a ministra Márcia Lopes, que mais tarde divulgou nota oficial do Ministério das Mulheres.
Senador Marcos Rogério (PL-RO) disse na sessão que Marina Silva deveria ‘se pôr no seu lugar’
GERALDO MAGELA/AGÊNCIA SENADO
Câmara e Senado
As lideranças das bancadas femininas da Câmara e do Senado também fizeram questão de se manifestar.
“Ficou evidente que, naquela sessão, a última palavra precisava ser a de um homem. E que é inadmissível que um parlamentar diga a uma mulher que ela deve ‘se colocar no seu lugar’. Essa frase, carregada de machismo estrutural, é mais do que um ataque pessoal, é uma tentativa explícita de silenciamento de mulheres que ocupam espaços de poder. Mas nós sabemos, e reafirmamos: lugar de mulher é onde ela quiser”, afirmou a senadora Leila Barros (PDT-DF), líder da bancada feminina no Senado.
Na Câmara, quem assinou a nota pela bancada feminina foi a líder Jack Rocha (PT-ES). De acordo com ela, “o que ocorreu não foi apenas um desrespeito a uma ministra de Estado, foi um ataque brutal à democracia, à dignidade das mulheres e, em especial, à história de uma mulher negra que construiu sua trajetória com coragem, sabedoria e compromisso com o Brasil”.
Apesar de o fato ter ocorrido dentro de uma comissão do Senado, o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP) não se manifestou. A reportagem apurou que ele procurou saber, enquanto esteve no plenário do Senado, na sessão desta terça, o que de fato ocorreu no colegiado.
Adicionar aos favoritos o Link permanente.