
Caso aconteceu na segunda-feira (26), em unidade da rede Assaí Atacadista no Grande Recife. Empresa disse que pediu desculpas às clientes e classificou episódio como ‘um equívoco’. Maquiadora denuncia racismo em supermercado no Grande Recife
Uma família denunciou que foi vítima de racismo num supermercado da rede Assaí Atacadista em Abreu e Lima, no Grande Recife (veja vídeo acima). A maquiadora Raquel Vasconcelos e a mãe dela, Débora, disseram à TV Globo que estavam terminando as compras quando um funcionário do estabelecimento abordou a família delas, acusando-a de consumir um produto sem pagar.
“Me aperreei muito. Eu chorei porque foi uma situação muito difícil, tinha muitas pessoas ao redor. Ele chegou com aquela firmeza, dizendo que foi a gente que tinha ingerido aquele produto. Passamos por aquela situação terrível, que eu não desejo para ninguém”, declarou Débora Vasconcelos.
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O caso aconteceu na segunda-feira (26), no bairro do Alto da Bela Vista. Segundo Raquel, a família, que mora em Paulista, faz feira no estabelecimento há aproximadamente oito anos.
“De repente, veio um funcionário do interior da loja. Ele passou direto, não falou com a gente, foi direto na caixa que estava nos atendendo e mandou ela incluir um leite fermentado que estava aberto. Eu fiquei sem entender. A atendente virou, pegou o produto, ficou olhando para mim e eu olhando para ela. Quando eu percebi que ela ia registrar, eu disse: ‘na minha?’, e ele: ‘na sua, porque a gente viu que vocês tomaram e colocaram lá’”, relatou.
O caso é investigado pela Polícia Civil. Procurado, o Assaí disse que pediu desculpas às clientes e classificou o episódio como “um equívoco” (veja resposta abaixo).
A maquiadora contou que, na discussão, o funcionário insistiu que viu a família usar a mercadoria pelas câmeras de segurança do local. Ela disse que, então, pediu que ele mostrasse as imagens, ameaçando chamar a polícia. Nesse momento, o homem recuou.
“Ele se afastou um pouco e começou a falar no rádio. Alguém passou para ele alguma informação. Ele disse: ‘eu me enganei’. E eu falei: ‘não, você veio aqui, fez a gente passar esse constrangimento. Depois que a gente passou por toda essa situação, vem dizer que se enganou? Agora você vai ficar aí e a gente vai chamar a polícia’”, contou Raquel.
A irmã de Raquel, Milka Vasconcelos, também estava no supermercado com o filho. Ela filmou parte da abordagem e descreveu a atitude inicial do funcionário como humilhante.
“Na filmagem, ele está falando já manso, dizendo: ‘não, foi um erro meu’, mas na hora ele chegou com toda a ignorância do mundo, com toda a arrogância, humilhando mesmo a gente”, disse.
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Denúncia por racismo
Para Raquel, o constrangimento foi um ato de racismo. Ela refuta a justificativa de que o funcionário teria confundido o grupo com outro.
“Não existe essa justificativa de que eles viram um grupo parecido. Que grupo parecido é esse? A gente pensa que passou por racismo mesmo. Até foi questionado que não, que a pessoa que prestava serviço também era uma pessoa negra. Mas o racismo atravessa pessoas negras também”, afirmou.
Após o incidente, Raquel buscou a Delegacia de Paulista para registrar a queixa, mas relatou ter sido mal atendida.
“A gente ficou esperando das 18h à meia-noite para ser atendido. Eles disseram que a preferência era das pessoas que estavam chegando em ocorrência, então eles tinham preferência e a gente tinha que aguardar. Ao invés da gente de sentir acolhida naquele momento, protegida, a gente foi muito maltratada”, afirmou.
Apesar da experiência negativa na delegacia, ela afirmou que seguirá com a denúncia contra o supermercado Assaí, buscando evitar que outras pessoas passem pela mesma situação.
“Vou seguir com a denúncia em relação ao Assaí para que isso não aconteça com outras pessoas. A gente passa muito por isso o tempo todo. A pessoa entra no mercado já pensando que pode ser abordada, sempre está com a nota fiscal na mão. A gente sabe que, infelizmente, é a primeira coisa que vem porque é uma situação que pesa muito”, disse.
Raquel e Débora Vasconcelos denunciaram ter sido vítimas de racismo em supermercado em Abreu e Lima, no Grande Recife
Reprodução/TV Globo
O que dizem o Assaí e a Polícia Civil
Procurado, o supermercado Assaí informou que pediu desculpas às clientes, atribuindo o ocorrido a um “equívoco, causado por uma falha operacional que resultou na troca das pessoas abordadas”.
A empresa disse, ainda, que a equipe da loja explicou o fato à cliente assim que o erro foi percebido e que o colaborador foi advertido e reorientado conforme as diretrizes da companhia.
A Polícia Civil confirmou que o caso está sendo investigado pela Delegacia de Paulista. Em relação à reclamação sobre o atendimento na delegacia, a corporação declarou que a orientação é que todos os cidadãos sejam atendidos com respeito e sem discriminação e disse e que irá apurar o ocorrido.
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