‘O filósofo pop’: dono de inúmeros hits da MPB, Antonio Cicero é celebrado em show de Arthur Nogueira


Eternizado na voz de Marina Lima, Lulu Santos e Adriana Calcanhotto, o poeta e filósofo Antonio Cicero recebe homenagem póstuma do paraense Arthur Nogueira no sábado, 31, no Teatro Sesi, em Belém Antonio Cicero (à esquerda) e Arthur Nogueira
Daryan Dornelles
Neste sábado (31), o Teatro do Sesi, em Belém, será palco do show “Arthur Nogueira canta Antonio Cicero: Embarque para Citera”, às 20h. O espetáculo é uma homenagem à obra — e à presença ainda pulsante — de Antonio Cicero, poeta, letrista e filósofo que deixou o Brasil em luto em 2024.
O cantor e compositor paraense Arthur Nogueira celebra a obra do filósofo que toca nas rádios todos os dias: Cicero é autor de diversos hits e abre uma fresta de pensamento dentro da canção brasileira. Seus versos não apenas embalaram amores, mas iluminaram a linguagem com uma sofisticação rara, onde filosofia e música pop se encontravam sem ruído. Ao lado de artistas como Marina Lima, Lulu Santos e Adriana Calcanhotto, ele provou que é possível pensar e sentir na mesma linha melódica.
Antonio Cicero, Gal Costa e Arthur Nogueira.
Reprodução / Arquivo Pessoal
Cicero não era só o autor de versos que marcam gerações — como o de “você me abre seus braços e a gente faz um país”, eternizado na voz de Marina Lima. Era também um pensador que atravessava mundos: da academia à canção pop, da Academia Brasileira de Letras aos palcos, dos livros às pistas. Durante mais de quatro décadas, fez da palavra o seu território de invenção.
Arthur Nogueira conheceu esse território de dentro. Amigo e parceiro musical do poeta por duas décadas, ele assina com Cicero composições gravadas por nomes como Gal Costa e lança agora um espetáculo que mistura tributo e reinvenção.
“O Antonio foi meu maior parceiro artístico, mas também um farol pessoal. Esse show é a minha forma de continuar em diálogo com ele, mesmo na ausência”, conta.
O repertório do espetáculo inclui clássicos compostos por Cicero ao lado de Marina Lima (“Virgem”), Adriana Calcanhotto (“Inverno”) e Lulu Santos (“O Último Romântico”), além das colaborações mais recentes com Nogueira — entre elas “Sem medo nem esperança”, gravada por Gal. Não é só uma coletânea de sucessos: é um mapa afetivo que reconecta o público com a força poética do que se canta.
Antonio Cicero e Marina Lima
Jornal Nacional/ Reprodução
O show já passou por São Paulo, Paris e Londres — onde Cicero estudou filosofia e deixou marcas. “Na capital inglesa, o embaixador Antônio Patriota abriu a apresentação dizendo que o Cicero o inspirou a estudar filosofia. Cantei para um público que nem sempre falava português, e mesmo assim havia conexão. A poesia dele atravessa essas fronteiras”, diz Arthur.
Depois de Belém, o espetáculo segue para Portugal, com datas marcadas no Porto (10 de julho) e em Lisboa (12 de julho). Mas o embarque agora é aqui. E o destino é Citera — a ilha grega do mito, o lugar do amor, da beleza e, quem sabe, da eternidade da arte.
Confira a seguir, entrevista exclusiva com o artista:
Entrevista: Arthur Nogueira fala sobre sua amizade e parceria musical com Antonio Cicero
Esse show nasce como uma homenagem ao seu maior parceiro musical. Conta como foi decidir celebrar Cicero, depois da sua perda.
AN: Eu sempre homenageei o Antonio Cicero ao longo da minha carreira, porque, de fato, ele foi meu maior parceiro musical e um farol para as minhas escolhas artísticas. Quando ele fez 70 anos, eu gravei um álbum comemorativo e nós circulamos, os dois no palco, com um show sobre a obra dele. Agora, esse novo espetáculo é uma forma de lidar com sua ausência, depois de cerca de 20 anos de amizade e parceria, e também de afirmar sua grandeza diante da vida e da morte.
Arthur, como foi escolher o set do show? O que te guiou nessas escolhas?
AN: O show reúne praticamente todas as canções que fizemos juntos, em meio aos clássicos que ele compôs com outros artistas que admiro imensamente, como Marina Lima, sua irmã, a responsável por transformar o filósofo Antonio Cicero em um letrista popular, e Adriana Calcanhotto, uma compositora muito presente em minha vida artística, desde o começo.
São quantas canções e projetos em parceria com o Cicero?
AN: Em praticamente todos os meus álbuns há canções do Cicero ou que eu compus junto com ele. Tenho seis álbuns, então fizemos por volta de uma dezena de canções. Há duas inéditas, que pretendo gravar em breve, em um novo projeto autoral.
Há a amizade e a parceria intelectual entre dois artistas de gerações diferentes, são 45 anos de distância entre vocês. O que os aproximava? O que mais é marcante pra você nessa parceria?
AN: Em uma das últimas conversas que tivemos, falamos sobre esse mistério. Não soubemos explicar. Desde o começo, nós nos demos bem e curtimos conversar e trabalhar juntos. Era uma amizade muito leve e divertida. É marcante para mim tudo o que aprendi com Cicero e realizei com ele.
Como foi levar o show para a Europa? Como foi a recepção? Denota a dimensão da obra do Cicero, como compositor e também escritor? Quais os planos para este projeto? Ele segue circulando?
AN: Foi muito especial, porque cantei em Londres, na Embaixada do Brasil. Foi na Inglaterra que Cicero se formou em filosofia. O embaixador do Brasil no Reino Unido, Antônio Patriota, fez a fala de abertura do show, contando que decidiu estudar filosofia por influência do Cicero, que conheceu na adolescência. Havia muitas pessoas que não falavam português na plateia, e cantar para um público como esse foi experiência nova para mim. Depois do show em Belém, vou voltar para a Europa em julho, dessa vez em Portugal, com apresentações em Lisboa e no Porto. Depois, devo fazer novamente São Paulo e o Rio, pela primeira vez com esse show.
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