Ministério Público Eleitoral denuncia Marçal por divulgação de laudo falso contra Boulos durante eleições de 2024


O laudo médico falsificado foi publicado nas redes sociais do empresário na antevéspera do primeiro turno das eleições municipais de 2024. Perícia da PF concluiu que a assinatura do médico era falsa. Pablo Marçal (PRTB) durante debate entre candidatos à Prefeitura de SP
Fábio Tito/g1
O Ministério Público Eleitoral de São Paulo ofereceu denúncia contra o empresário Pablo Marçal (PRTB) por conta da divulgação de um laudo médico falso contra Guilherme Boulos (PSOL) durante a eleição municipal do ano passado.
O processo está em segredo de Justiça, mas a Promotoria confirmou que a denúncia foi protocolada na Justiça Eleitoral na quinta-feira (29). Se for aceita pelo juiz, Marçal passa a ser réu.
Marçal e Boulos disputaram a Prefeitura de São Paulo no ano passado. A dois dias do primeiro turno, o então candidato do PRTB divulgou um documento falso em vídeos nas redes sociais que atestaria que o psolista teria consumido drogas.
As publicações foram feitas por Marçal na noite de 4 de outubro. O primeiro turno aconteceria no dia 6. Ao longo da campanha eleitoral, o candidato do PRTB fez insinuações contra Boulos sobre uso de drogas.
Em 5 de outubro, a Justiça Eleitoral reconheceu indícios de falsidade no documento e determinou a remoção do conteúdo das plataformas Instagram, TikTok e Youtube. Perícias técnicas do Instituto de Criminalística de São Paulo e da Polícia Federal concluíram que a assinatura do médico no documento era falsificada.
O g1 pediu posicionamento à assessoria de Marçal, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Indiciamento
A Polícia Federal indiciou Marçal em 8 de novembro pelo crime de uso de documento falso.
Em depoimento que durou cerca de 3 horas na Superintendência Regional da PF, na Lapa, Zona Oeste de São Paulo, Marçal negou qualquer envolvimento no episódio e disse que o suposto documento foi postado pela equipe dele.
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Procurada, a assessoria do empresário afirmou à época que ele será declarado inocente.
“É nítido como a velocidade do julgamento moral para aqueles que se identificam com a direita é significativamente mais rápido. Nunca testemunhei uma resposta tão célere em uma investigação como essa. O fato aconteceu no dia 04 de outubro e o indiciamento foi realizado em apenas 34 dias, um verdadeiro recorde. Isso nos leva a crer que, em um tempo ainda menor, seremos declarados inocentes. Sigo acreditando na justiça, no Brasil e, acima de tudo, no nosso povo”, disse a assessoria.
Em 7 de outubro, a perícia da PF concluiu que a assinatura do médico no documento é falsa. Os peritos da PF investigaram e compararam várias assinaturas ao longo de vários anos do médico José Roberto de Souza, CRM 17064-SP, que aparece como o responsável pelo suposto documento.
É #FAKE o laudo que Marçal usou para acusar Boulos de uso de drogas
Tatuagem mostra assinatura do pai de Aline Garcia, o médico José Roberto de Souza
TV Globo/Reprodução
O médico morreu em 2022 e, segundo a filha, a oftalmologista Aline Garcia Souza, o pai nunca trabalhou na clínica Mais Consulta, na cidade de São Paulo, e jamais fez esse tipo de atendimento clínico de pessoas com dependência química.
Na conclusão grafotécnica, os peritos científicos da PF afirmaram que as duas assinaturas não foram produzidas pela mesma pessoa.
“Verificou-se a prevalência das dissimilaridades entre a assinatura questionada e os padrões apresentados, tanto nas formas gráficas, quanto em suas gêneses, não havendo evidências de que tais grafismos tenham sido escritos por uma mesma pessoa. As evidências suportam fortemente a hipótese de que os manuscritos questionados não foram produzidos pela mesma pessoa que forneceu os padrões”, disseram os peritos.
Peritos da PF analisaram a assinatura real do médico José Roberto de Souza com a que consta no documento falso publicada por Pablo Marçal.
Reprodução
Os peritos também tentaram atestar a autenticidade do documento publicado por Pablo Marçal, mas disseram que é preciso pedir novas análises e também compará-las com outros laudos semelhantes produzidos pela Mais Consulta, clínica do empresário.
“Logo, nos casos que os documentos não apresentem tais elementos de segurança, não será possível atestar sua autenticidade por meio dos exames periciais mencionados, havendo necessidade de análise de outros elementos, como o registro oficial de emissão ou outra especificação qualquer para emissão do referido documento, além de carimbos comuns ou secos, havendo a necessidade de confronto com os padrões correspondentes”, disse.
“No caso em questão, não se trata de um documento de segurança, além de ter sido apresentado em via digital e não física. Assim, a verificação de adulteração ou montagem eletrônica poderá ser realizada por exames específicos que não foram objeto do presente laudo”, completaram os peritos.
O que diz a clínica
Luiz Teixeira da Silva Junior, sócio da clínica Mais Consultas, empresa que aparece no laudo falso compartilhado por Pablo Marçal (PRTB) contra Guilherme Boulos (PSOL), afirmou na tarde do domingo (6) que nunca atendeu o deputado e negou ter participado da elaboração do documento, que teve a veracidade contestada pelo Instituto de Criminalística de São Paulo.
Em nota, o empresário disse que seu nome e o de suas empresas foram utilizados sem o seu consentimento “por pessoa que lhe é desconhecida”.
Justiça determina suspensão do perfil de Marçal no Instagram após divulgação de laudo falso
Laudo falso de Marçal
Arte g1
Dono de clínica indiciado
Luiz Teixeira da Silva Junior, dono da clínica Mais Consultas, que emitiu o laudo, já foi condenado por falsificar diploma de curso de medicina e ata de colação de grau.
Em sua conta no Instagram, que foi desativada após a repercussão do falso documento, ele se apresentava como patologista clínico, perito judicial, escritor, diplomata adido de saúde, e aparecia ao lado de famosos.
Nas redes sociais, Silva Junior aparece em foto ao lado de Marçal usando um jaleco com o símbolo do Hospital Albert Einstein (veja foto abaixo). Em nota, o hospital informou que “o profissional em questão nunca atuou em suas unidades ou em qualquer outra atividade administrada pelo Einstein.
Marçal ao lado de Luiz
Reprodução/Instagram
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