Bienal do Livro surfa na onda do ‘BookTok’ e prepara programação para geração de novos e ávidos leitores


Com milhões de visualizações e livros esgotados após resenhas virais no TikTok, criadores de conteúdo e autores se destacam nesta edição, que começa no dia 13. Bienal do Livro surfa na onda do ‘BookTok’ e prepara programação para nova geração
A Bienal do Livro Rio 2025, que acontece entre os dias 13 e 22 de junho, no Riocentro, promete surfar na onda do BookTok, a efervescente comunidade de leitores no TikTok. Mais do que nunca, o evento vai abraçar a cultura digital e se prepara para receber uma geração de leitores influenciados por vídeos curtos e resenhas literárias virais.
Com mais de 20 bilhões de visualizações na hashtag #BookTokBrasil, o movimento tem influenciado não só os hábitos de leitura, mas também o mercado editorial, as estratégias de marketing das editoras e a própria curadoria de eventos literários, principalmente a Bienal deste ano.
Escritor e roteirista, Raphael Montes
Foto: Gustavo Wanderley
O olhar da organização
Em entrevista ao g1, organizadores da Bienal confirmaram que o crescimento do BookTok tem sido uma peça fundamental para o aumento de público nas edições do evento.
De acordo com Bruno Henrique, diretor de conteúdo e marketing da Bienal, o TikTok, seus criadores de conteúdo e os autores com suas obras viralizadas se tornaram essenciais para renovar o hábito da leitura, especialmente entre os jovens.
“Essas análises e reviews são muito dinâmicas. Elas passam rápido a mensagem e o estímulo para o desejo de conhecer aquela leitura. E isso ajuda muito a gente no propósito de formar novos leitores”, explica.
O evento tem trabalhado em parceria com a plataforma, percebendo grandes fenômenos no mercado editorial indicados no TikTok. Essa colaboração busca incentivar a leitura e formar novos leitores, aproveitando o dinamismo das análises e reviews de livros na plataforma. A inclusão de criadores de conteúdo literário, os booktokers, faz parte desse esforço de aproximação.
O BookTok influenciou não só o público, mas também a curadoria da Bienal 2025. A participação de criadores de conteúdo e o interesse renovado por livros impulsionaram mudanças na programação e no olhar sobre o leitor jovem conectado.
“A gente entendeu que, se quer continuar fazendo com que os livros sejam relevantes para essa geração, precisa estar atento ao que está sendo discutido nas redes”, afirma Carolina Sanches, curadora da Bienal.
“Não se trata apenas de colocar o influenciador no palco, mas de compreender que há uma nova mediação de leitura acontecendo — e ela começa no TikTok.”
Carolina afirma que é essencial reposicionar o livro como tecnologia e ponte para outras linguagens e experiências.
“Livro é plataforma. Esse livro que dialoga com todas as linguagens, esse lugar de narrativas… nossa preocupação hoje é ouvir o tempo e montar uma programação que abra diálogo.”
A Bienal deste ano aposta no engajamento virtual como ponte para experiências imersivas. Uma das novidades é uma escape room literária com participação de autores populares — o autor Raphael Montes é um dos destaques.
“Queremos trazer a experimentação dinâmica do livro para o evento, promovendo a transição do digital para o analógico”, destaca Bruno.
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Escape Room literária na Bienal do Livro 2025
Imagem: Reprodução
Ele cita ainda casos emblemáticos de autores impulsionados pelas redes sociais, como Montes e Itamar Vieira Junior.
“O TikTok mostra que o público consome vários tipos de leitura, e a plataforma abre espaço para diferentes críticos literários.”
“Raphael é uma figura muito emblemática, porque ele pegou muito a maneira de falar com essa nova geração. Hoje temos leitores, mas temos também leitores de Raphael Montes. O grande pulo do gato pra gente na Bienal é: você veio por causa do Raphael? Maravilhoso. Agora vamos descobrir outros autores”, explica Carolina.
Criadora de conteúdo literário, Ana Júlia — que tem mais de 300 mil seguidores na plataforma —, vai participar, aos 22 anos, como mediadora de um dos painéis do evento.
Ana Ju ficou conhecida fazer entrevistas curtas e criativas com leitores anônimos, a partir da pergunta: “Qual foi o último livro que você leu por livre e espontânea vontade?”. O formato viralizou em 2022 e mudou sua vida.
Ela acredita que o segredo do sucesso do BookTok está na curiosidade — tanto de quem assiste quanto de quem participa dos vídeos. “Você se questiona. ‘Qual foi o último livro que eu li porque quis?’. Essa provocação move as pessoas.”
Ana Ju celebra o reconhecimento da plataforma e a parceria com a Bienal.
“Eu frequento a Bienal desde criança. Estar na programação oficial é um sonho. Se você me perguntar qual é meu maior sonho profissional hoje, eu respondo: mediar uma mesa na Bienal. E agora ele vai se realizar.”
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Booktoker Ana Júlia
Foto: Ana Luísa Marques
Obras que viralizaram
Escritor e roteirista Raphael Montes
Reprodução/Divulgação
O escritor Raphael Montes, autor de thrillers como Jantar Secreto, Uma Família Feliz e Suicidas, é um dos destaques da programação da Bienal e um exemplo de como o TikTok pode transformar livros já lançados em novos sucessos de vendas.
Suas obras, algumas publicadas anos atrás, ganharam novo fôlego após viralizarem entre leitores da plataforma.
“‘Jantar Secreto’ voltou para a lista dos mais vendidos em 2025, sem filme, sem série. Só por causa do boca a boca no TikTok”, contou o autor em entrevista ao g1.
Ele afirma que não escreve pensando em viralizar, mas reconhece o poder da comunidade leitora digital: “Eu escrevo o livro que gostaria de ler. A viralização aconteceu graças aos leitores, não a mim.”
Montes acredita que o BookTok foi essencial para derrubar o preconceito com a literatura nacional e aproximar os jovens de histórias mais próximas da sua própria realidade.
“O leitor brasileiro tem se dado conta de que é muito legal ler uma história de suspense que se passa no seu próprio universo”, analisa.
Apesar de escrever livros com temas adultos, ele percebe um público cada vez mais jovem chegando até suas obras por influência das redes sociais.
“Meus livros sempre tiveram leitores jovens. O que mudou foi que agora eles chegam com menos medo, mais curiosos.”
Para Raphael, o TikTok não só renovou o interesse pelos livros, como também reposicionou a literatura no cotidiano da nova geração.
“O BookTok ajuda a tirar a literatura de um certo pedestal. Coloca o livro no mesmo lugar que a série, o jogo de futebol, a novela.”
Da rede social para o topo das prateleiras
Nas maiores livrarias do país, não é raro encontrar prateleiras inteiras dedicadas ao BookTok. A movimentação causada pelo TikTok no mercado literário é tão intensa que mudou a forma como editoras, autores e até os grandes varejistas organizam suas estratégias.
“O TikTok ultrapassa as barreiras digitais e gera impacto direto na vida das pessoas — inclusive na cultura, e com o BookTok não é diferente”, explica Carol Baracat, diretora de marketing integrado da plataforma no Brasil.
Segundo ela, a comunidade literária dentro do app é uma das maiores do país, e só nos últimos seis meses houve um crescimento de 28% no número de publicações com as hashtags #BookTok ou #BookTokBrasil. Desde o início de 2025, já foram mais de 980 mil vídeos relacionados ao tema — uma média de 40 mil novos conteúdos por semana.
E o impacto não se resume às telas. “A gente percebe que quando um livro começa a ser muito comentado na plataforma, ele vai direto para a lista de mais vendidos”, afirma Baracat.
Esse fenômeno também tem motivado ações específicas do TikTok voltadas ao universo literário. Nesse ano, o TikTok é patrocinador da Bienal 2025 e vai promover a “Pré-estreia: Bienal Para Você”, abrindo o evento uma noite antes exclusivamente para a comunidade da plataforma.
“Acreditamos que essa parceria é fundamental para fortalecer a comunidade e demonstrar seu impacto no cenário literário”, resume Baracat.
Com um público mais variado, mais jovem e hiper conectado, a Bienal 2025 pretende mostrar que a literatura pode — e deve — circular também pelos caminhos da internet. E que, se depender do BookTok, o futuro do livro pode estar mais vivo do que nunca.
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