
Promotor afirma não ter fundamento carta em que Elizabete Arrabaça diz que envenenamento foi acidental. Justiça prorrogou prisões dela e do filho, o médico Luiz Antonio Garnica. Caso Larissa: promotor do caso fala sobre carta entregue por Elizabete Arrabaça
O Ministério Público afirmou nesta quarta-feira (4) que Elizabete Arrabaça, suspeita de matar a nora, a professora de pilates Larissa Rodrigues, pesquisou na internet os efeitos do chumbinho dias antes da morte, em março deste ano em Ribeirão Preto (SP). O laudo toxicológico no corpo de Larissa apontou exatamente a presença do veneno de rato.
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A informação da pesquisa foi passada pelo MP após a divulgação de uma carta em que Elizabete diz que o envenenamento foi acidental e que ocorreu depois que a professora tomou um remédio para dor no estômago que estava envenenado (veja abaixo detalhes).
“Ela [Elizabete], dias antes do crime, teria feito pesquisas no Google sobre os efeitos do chumbinho. Já existe essa comprovação no inquérito, o que afasta qualquer possibilidade, segundo nosso entendimento, de que esse veneno foi dado para a Larissa de forma enganosa”, destaca o promotor de Justiça Marcus Túlio Nicolino.
Além da pesquisa, as investigações apontam também que a suspeita ligou para uma amiga, antes da morte de Larissa, para perguntar se ela tinha chumbinho na fazenda.
Elizabete foi presa com o filho, o médico Luiz Antonio Garnica, no dia 6 de maio. Nesta quarta-feira (4), a Justiça prorrogou a prisão temporária dos dois, que se encerraria na quinta (5), por mais 30 dias.
Carta ‘não tem o menor fundamento’
A carta escrita por Elizabete em 31 de maio foi juntada pela defesa ao inquérito.
Nela, a suspeita afirma que nem ela nem Larissa sabiam que o remédio estava com o veneno e que as duas tomaram por estarem com dor no estômago, na noite anterior à morte. A mulher diz que ela e o filho são inocentes.
“Meu estômago estava doendo. Peguei o vidro do Omeprazol [medicamento para o estômago] e tome duas cápsulas. Daí, ela [Larissa] disse que a marmita não tinha caído bem no estômago dela, e eu falei: ‘posso ir ao banheiro?’. Nisso, a Pandora [cachorra] pulou da cadeira, e a Larissa disse: ‘posso tomar esse Omeprazol para ver se eu melhoro, sogra?’. Eu disse: ‘claro que pode'”, cita trecho.
Porém, Nicolino descarta a hipótese de acidente. Segundo ele, Elizabete escreveu a carta com a finalidade de inocentar o filho.
“Ela também afirma que tomou essas cápsulas de Omeprazol, que, na verdade, continham chumbinho. Só que a Larissa morreu e ela, não. Nós não acreditamos nessa versão. […] O que, na verdade, ela quer, ao mesmo tempo, é excluir a responsabilidade do filho e também dizer que tudo não passou de um acidente. Não tem o menor fundamento essa questão, não convence”, pontua.
O promotor ressalta, ainda, que o relato não diminui a culpabilidade da sogra.
“Pelo contrário, acho que agora piorou, porque agora nós temos a prova efetiva, de ela admitindo que ela forneceu o chumbinho para a Larissa.”
A professora Larissa Rodrigues morreu em Ribeirão Preto, SP, em março deste ano
Arquivo pessoal
Veneno adquirido pela filha
Segundo Elizabete, o veneno de rato foi conseguido pela filha, Nathália Garnica, para dar a vizinhos que possuem chácaras.
Nathália morreu um mês antes de Larissa, e a Polícia Civil exumou o corpo dela no dia 23 de maio para apurar se também houve envenenamento por chumbinho, como aconteceu com a professora.
“A conclusão que cheguei nesses dias, orando muito a Deus e suplicando uma luz divina, é de que Nathália havia colocado o veneno nas cápsulas de Omeprazol. Não existe outra explicação. Infelizmente, perdi duas filhas”, pontua Elizabete na carta.
Ainda durante o relato, a suspeita chegou a dizer que “agora já sei que vou morrer também”, isso pelo fato de também ter tomado os medicamentos de Nathália e por estar se sentindo mal.
“Agora eu já sei que vou morrer também, porque, dos remédios dela [Nathália], levei todos para eu usar. […] Eu também estou definhando, muita fraqueza. Tentei escrever, porque ainda estou na cadeia e piorando a cada hora.”
Por fim, Elizabete afirma que ama os filhos, os netos e Larissa, a quem define como uma filha.
“Deixo um abraço para nossas amadas famílias, muito amor por todos vocês. Amo os meus filhos. Um beijo da vovó Bete para meus netos, que amo infinitamente e eternamente. Larissa, eu sempre lhe amei e amo como minha filha. Muitas lágrimas de amor”, conclui.
Sogra é suspeita de matar professora envenenada em Ribeirão Preto
Reprodução/EPTV
O que dizem as defesas?
Advogado de Elizabete, Bruno Corrêa informou que pediu para que a cliente seja interrogada novamente.
Já Júlio Mossin, advogado de Luiz, disse que a carta comprova a inocência do médico e que ele está preso injustamente.
“Essa carta é a maior prova de inocência do Luiz. Nela, a mãe dele assume, sim, unicamente, a autoria do crime e põe fim à forma como esse delito teria ocorrido, que foi cometido via duas cápsulas de Omeprazol que, em seu conteúdo, tinha chumbinho. O restante que está sendo veiculado pela acusação, eu tenho só suposições”, afirma.
Prisão domiciliar negada
No último dia 30 de maio, a Justiça negou o pedido para que Elizabete cumpra a prisão temporária em casa. Segundo Bruno Corrêa, o juiz da 2ª Vara do Tribunal do Júri entendeu que a idosa, de 67 anos, não preenche os requisitos legais para a concessão do benefício.
Já nesta semana, a suspeita foi transferida para a penitenciária de Mogi Guaçu (SP).
A Polícia Civil e o Ministério Público suspeitam que a professora tenha sido morta ao pedir o divórcio ao médico após descobrir uma relação extraconjugal dele.
O inquérito ainda não foi concluído. Até o momento, as autoridades trabalham com a suspeita de homicídio com quatro qualificadoras: motivação torpe, uso de recurso que impossibilitou a defesa da vitima, uso de veneno e feminicídio.
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