EUA vetam resolução do Conselho de Segurança da ONU por cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza; todos os outros países votaram a favor

Órgão formado por 15 nações votou texto nesta quarta-feira (4). O Conselho de Segurança da ONU votou nesta quarta-feira (4) um projeto de resolução que exigia um cessar-fogo “imediato, incondicional e permanente” entre Israel e o grupo Hamas em Gaza, além de acesso irrestrito à ajuda humanitária. A proposta teve 14 votos a favor e apenas um contra: o dos Estados Unidos, que vetaram o texto.
Antes da votação, a embaixadora interina dos EUA na ONU, Dorothy Shea, afirmou que Washington não apoiaria nenhuma medida que não condenasse o Hamas ou que não exigisse o desarmamento e a retirada do grupo de Gaza.
“Essa resolução minaria os esforços diplomáticos para alcançar um cessar-fogo que reflita a realidade no terreno e encorajaria o Hamas”, disse Shea.
Israel rejeita um cessar-fogo incondicional ou permanente e afirma que o Hamas não pode permanecer na Faixa de Gaza. O país retomou sua ofensiva militar no território em março, após o fim de uma trégua de dois meses, com o objetivo de resgatar reféns mantidos pelo grupo.
Segundo autoridades de saúde de Gaza, controladas pelo Hamas, bombardeios israelenses mataram 45 pessoas nesta quarta-feira. O Exército de Israel informou que um soldado morreu em combates.
A crise humanitária vem se agravando no território, onde vivem mais de 2 milhões de pessoas. Há risco de fome generalizada, e a ajuda humanitária só voltou a entrar em volumes reduzidos em 19 de maio.
A Gaza Humanitarian Foundation (GHF), organização apoiada pelos EUA, não distribuiu ajuda nesta quarta-feira. A entidade pressiona Israel para garantir mais segurança aos civis fora das chamadas áreas seguras de distribuição, após um episódio com mortes.
A GHF informou ter solicitado que o Exército israelense organize melhor o deslocamento de civis perto de posições militares, forneça orientações mais claras e aprimore treinamentos para proteger a população.
Hospitais relataram mais de 80 mortos e centenas de feridos em pontos de distribuição de ajuda entre domingo (1º) e terça-feira (3), sendo ao menos 27 mortes na terça.
Moradores disseram que soldados israelenses atiraram contra uma multidão que buscava comida antes do amanhecer. O Exército negou, mas afirmou que disparou contra “suspeitos” que ignoraram tiros de advertência e se aproximavam das linhas israelenses.
“Nosso foco principal continua sendo garantir a segurança e a dignidade dos civis que recebem ajuda”, disse um porta-voz da GHF.
‘Atrasos e negativas’
O novo modelo de distribuição de ajuda, com atuação de empresas privadas de segurança e logística dos EUA, opera atualmente em apenas três pontos. A ONU e outras entidades afirmam que o sistema militariza a assistência.
Antes da votação no Conselho de Segurança, o chefe humanitário da ONU, Tom Fletcher, voltou a pedir que as agências da ONU e outras organizações sejam autorizadas a atuar em Gaza. Ele disse que elas têm plano, suprimentos e experiência para isso.
“Abram todas as passagens. Permitam a entrada massiva de ajuda vital por todas as rotas. Suspendam as restrições sobre o que e quanto podemos trazer. Evitem que nossos comboios sejam barrados por atrasos ou negativas”, disse Fletcher.
A ONU atribui há tempos os obstáculos à entrega de ajuda à atuação de Israel e à falta de segurança em Gaza. Israel acusa o Hamas de desviar os recursos, o que é negado pelo grupo.
Na terça-feira, a GHF afirmou que distribuiu mais de 7 milhões de refeições desde o início das operações há uma semana. O diretor interino da fundação, John Acree, pediu cooperação: “Trabalhem conosco e faremos a ajuda chegar a quem precisa”.
A guerra começou em outubro de 2023, quando militantes do Hamas mataram cerca de 1.200 pessoas em Israel e sequestraram cerca de 250, segundo dados israelenses. A maioria era civil.
Israel lançou uma ofensiva militar em resposta, que já deixou mais de 54 mil mortos em Gaza, de acordo com autoridades do Hamas. Médicos afirmam que a maior parte das vítimas são civis e que há milhares de corpos sob os escombros.
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