
Setor cobra retomada de acordo de cotas com os EUA e alerta para risco de importações predatórias no mercado brasileiro O Instituto Aço Brasil, que representa nove grandes siderúrgicas do país, manifestou preocupação com o aumento da tarifa de importação de aço pelos Estados Unidos para 50%, medida que entrou em vigor nesta quarta-feira (5). O setor defende a retomada do sistema de cotas e cobra ação do governo brasileiro nas negociações.
“Ressaltamos a importância da atuação do governo brasileiro, por meio dos Ministérios das Relações Exteriores (MRE) e da Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), para reestabelecer o acordo bilateral de 2018, que permitia exportações sem tarifa, dentro de cotas”, diz nota da entidade.
Na importação total de todos os produtos laminados, em 2025, a China participará com 76,1%.
Sistema de cotas
Até março, o Brasil podia exportar para os EUA até 3,5 milhões de toneladas de aço semiacabado e 687 mil toneladas de produtos acabados por ano, sem taxação adicional. Essa isenção acabou quando os EUA, sob gestão Donald Trump, impuseram tarifa de 25%, agora elevada para 50%.
Segundo o Instituto Aço Brasil, a tarifa já provocou uma queda de 10% a 15% nas exportações brasileiras para os EUA, que são o maior comprador de aço semiacabado brasileiro. Só em 2024, os americanos importaram 5,6 milhões de toneladas de placas de aço, sendo 3,5 milhões vindas do Brasil.
A situação lembra 2018, quando o governo Trump impôs tarifa semelhante. Na época, o Brasil conseguiu negociar um acordo que permitia exportações dentro de cotas.
“Acreditamos que seja possível repetir a negociação agora”, disse Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto.
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Alerta de desvio comercial
Além da preocupação com os EUA, o setor teme um desvio de comércio que pode levar ao aumento de importações predatórias no Brasil.
“O mercado brasileiro já está sendo inundado. Com essa medida dos EUA, o risco aumenta ainda mais”, afirma Marco Polo. O Instituto estima que o Brasil importará 5,3 milhões de toneladas de aço laminado neste ano.
“Precisamos proteger urgentemente nosso mercado”, disse o presidente da entidade. Ele defende medidas de defesa comercial e a aplicação de tarifas antidumping.
Governo brasileiro quer negociar
Procurado, o Ministério da Indústria e Comércio disse que pretende aprofundar as negociações com os EUA. O vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin lamentou o aumento da tarifa, mas defendeu o diálogo:
“Lamento, mas o caminho é incentivar o diálogo. Já criamos um grupo de trabalho com o USTR [escritório de comércio dos EUA], e vamos aprofundar isso”, disse Alckmin nesta quarta (5), durante evento em Minas Gerais.
Tarifas de Trump têm levado à escalada de guerra comercial global.
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O vice lembrou que há uma complementaridade econômica entre os países:
“Nós somos o segundo maior comprador de carvão siderúrgico dos EUA, e eles usam nossas placas para produzir motores, carros, aviões. Não somos problema para os EUA.”
Alckmin afirmou ainda que o Brasil renovou 19 NCMs do aço (códigos usados para identificar produtos) e incluiu mais 4, conhecidas como “NCMs de fuga”, que permitem ações de defesa comercial contra importações predatórias.
Entenda a tarifa
A nova tarifa de 50% foi imposta unilateralmente pelos EUA como forma de proteger sua indústria local. A Inglaterra foi o único país isento, por ter acordo bilateral. A decisão é vista por analistas como uma retomada de medidas protecionistas semelhantes às aplicadas por Trump em 2018.