Derretimento acelera, e Antártica perde 1 em cada 4 pinguins-imperadores em apenas 15 anos


O derretimento do gelo compromete a reprodução e ameaça a sobrevivência da espécie. Cientistas alertam: ainda há tempo para agir e evitar a extinção. Queda na população de Pinguins-imperadores nos mares de Weddell e de Bellingshausen é de 22% nos últimos 15 anos (até 2024).
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A população de pinguins-imperadores na Antártica diminuiu quase um quarto à medida que o aquecimento global transforma seu habitat gelado, de acordo com uma nova pesquisa publicada nesta terça-feira (10). E essas perdas são muito piores do que se pensava anteriormente.
Após analisar as populações em 16 colônias na península Antártica, no mar de Weddell e no mar de Bellingshausen, os cientistas alertaram que a queda é de 22% nos últimos 15 anos (até 2024). O estudo foi publicado na revista “Nature Communications: Earth & Environment”.
Esses números representam uma queda “aproximadamente 50% pior” do que se estimava, declarou Peter Fretwell, que rastreia a vida selvagem do espaço no British Antarctic Survey (BAS).
“É um retrato realmente desolador das mudanças climáticas, as populações caem ainda mais rápido do que pensávamos, mas não é tarde demais”, disse Fretwell, que liderou o estudo.
Cientistas alertam: 4 em cada 10 geleiras estão próximas do colapso
A estimativa anterior, realizada com base em modelos computacionais, era de uma redução de 9,5% em toda a Antártica entre 2009 e 2018.
O aquecimento está afinando e desestabilizando o gelo nas áreas de reprodução dos pinguins.
Nos últimos anos, algumas colônias perderam todos os seus filhotes porque o gelo desabou, fazendo com que os filhotes caíssem no mar antes de serem suficientemente maduros para enfrentar o oceano congelado.
Fretwell disse que a nova pesquisa sugere que o número de pinguins tem diminuído desde que a monitorização começou em 2009.
Isso é mesmo antes de o aquecimento global ter um impacto significativo no gelo marinho, que se forma sobre as águas abertas adjacentes à terra na região.
Mas, em sua opinião, o principal responsável provavelmente é a mudança climática, já que o aquecimento provoca outros desafios aos pinguins, como chuvas mais intensas ou o aumento da incursão de predadores.
“Os pinguins-imperadores são provavelmente o exemplo mais claro do impacto real da mudança climática”, disse Fretwell.
“Não é a pesca. Não é a destruição do habitat. Não há poluição causando o declínio de suas populações. É apenas a temperatura do gelo onde se reproduzem e vivem, e isso realmente é a mudança climática”, indicou.
Derretimento de geleiras
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“Resultado preocupante”
Os pinguins-imperadores (Aptenodytes forsteri) somam cerca de 250 mil casais reprodutivos, todos na Antártica, segundo um estudo de 2020.
Um filhote de pinguim-imperador sai de um ovo mantido aquecido no inverno pelo macho, enquanto a fêmea do casal reprodutivo empreende uma expedição de pesca de dois meses.
Quando retorna à colônia, alimenta o filhote regurgitando.
Para sobreviver sozinhos, os filhotes devem desenvolver penas impermeáveis, um processo que normalmente começa em meados de dezembro.
Fretwell disse que há esperança de que os pinguins possam ir mais para o sul no futuro, onde as temperaturas são mais baixas, mas acrescentou que não está claro “quanto tempo eles vão resistir lá”.
Modelos computacionais projetaram que a espécie estará próxima da extinção no final do século se os humanos não reduzirem drasticamente suas emissões que aquecem o planeta.
O último estudo sugere que o panorama pode ser ainda pior.
“Pode ser que tenhamos que repensar esses modelos agora com esses novos dados”, disse Fretwell.
“Realmente precisamos observar o resto da população para ver se esse resultado preocupante se aplica ao restante do continente”, acrescentou.
Mas sublinhou que ainda há tempo para reduzir a ameaça aos pinguins.
“Provavelmente vamos perder muitos pinguins-imperadores ao longo do caminho, mas se as pessoas realmente mudarem e reduzirmos ou revertermos nossas emissões climáticas, salvaremos o pinguim-imperador”, enfatizou.
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