Enxaqueca: confira 10 perguntas e respostas para a condição


A enxaqueca crônica atinge duas em cada 100 pessoas em todo o mundo e seus sintomas afetam a vida pessoal, a produtividade no trabalho, o lazer e o bem-esta. Exaqueca: quais os sintomas, a difença dela para a cefaleia e como tratar a doença
A enxaqueca crônica atinge duas em cada 100 pessoas em todo o mundo e seus sintomas afetam a vida pessoal, a produtividade no trabalho, o lazer e o bem-estar. A enxaqueca crônica é caracterizada por crises frequentes que se repetem por um período prolongado: são 15 dias ou mais de dor de cabeça por mês, durante mais de três meses.
Em pelo menos oito desses dias, os sintomas devem ter as características típicas da enxaqueca: dor latejante (geralmente afetando um lado da cabeça); náuseas e vômitos que acompanham a dor, e sensibilidade à luz e ao som.
A enxaqueca acomete 15% da população brasileira
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Abaixo, nesta reportagem, você vai ver:
O que é enxaqueca?
Quais são os sintomas mais comuns da enxaqueca?
O que causa enxaqueca?
Qual a diferença entre cefaleia e enxaqueca?
A enxaqueca tem cura?
Quais os tipos de enxaqueca?
Como é feito o diagnóstico da enxaqueca?
Quais são os tratamentos disponíveis?
Alimentos podem desencadear enxaqueca?
A enxaqueca é perigosa?
1. O que é enxaqueca?
A enxaqueca é uma condição hereditária que faz com que a pessoa desenvolva, ao longo da vida, crises com vários sintomas – entre eles, a dor de cabeça. A maioria das pessoas tem apenas alguns episódios de crise ao longo da vida, enquanto outras pessoas desenvolvem muitos episódios de crise e isso se torna uma doença.
“Embora a enxaqueca não mate, ela pode maltratar muito a vida da pessoa. Uma paciente me falou que enxaqueca não mata, mas faz te sofrer tanto até você querer que ela matasse. Alguns dados recentes demonstraram que a enxaqueca é a segunda maior causa de anos vividos por incapacidade na população mundial”, afirma o neurologista dos Hospital das Clínicas e coordenador do Comitê de Educação da Sociedade Internacional de Cefaleia, Marcio Nattan.
2. Quais são os sintomas mais comuns da enxaqueca?
Muitas pessoas reconhecem a enxaqueca pela dor de cabeça, mas esse não é o único sintoma, apesar de ser um marcador importante nas crises.
A dor de cabeça sem localização, intensidade e frequência específicas pode ser latejante e pulsátil (mais comum) ou por pressão; intensa, (durar horas e até dias) ou pode ser uma crise isolada. Pode doer na frente, na lateral, atrás da cabeça, atrás dos olhos, na cabeça inteira, dos dois lados ou só na têmpora.
Confira outros sintomas que podem acompanhar a dor de cabeça oriunda de enxaqueca:
Dificuldade de concentração
Irritabilidade
Rigidez da musculatura do pescoço
Náusea
Enjoo
Vômito
Hipersensibilidade ao ambiente, que inclui: desconforto com a luz, com barulho, com o movimento e/ou com o cheiro
Vontade súbita e intensa de comer doce
3. O que causa enxaqueca?
A enxaqueca tem um importante fator genético, mas isso não é válido para 100% das pessoas, porque não se trata de uma doença monogênica (causada por mutações em um único gene). Ela é, na verdade, uma condição causada por um conjunto de genes que se expressam com a possibilidade de desenvolver crises.
“Existem fatores da vida de uma pessoa que podem contribuir para que ela tenha aumento de frequência das crises. Mas tudo isso acontece sobre uma base genética hereditária”, destaca Nattan.
4. Qual a diferença entre cefaleia e enxaqueca?
O termo cefaleia é usado para descrever o sintoma dor na cabeça. E existem muitas doenças que podem gerar dor na cabeça, como sinusite, covid, trombose na cabeça ou até mesmo um AVC ou um trauma.
Já a enxaqueca não é só a dor de cabeça. A cefaleia é um sintoma da enxaqueca, mas há vários outros, conforme mencionado anteriormente.
Por isso, a enxaqueca é uma condição que tem vários sintomas, entre eles a cefaleia.
A cefaleia de tensão é caracterizada por:
Ser bilateral (dos dois lados)
⁠Ser sentida/percebida como pressão
⁠De intensidade fraca a moderada
⁠Pode durar de minutos a dias
⁠Não piora com atividade física rotineira (caminhar, falar, etc).
Tende a melhorar com analgésicos comuns
⁠O local pode variar
Já a enxaqueca é caracterizada por:
Ser unilateral (mais comum, em torno de 60 a 70%)
⁠Ser percebida como pulsátil ou latejante
De intensidade moderada a forte
Pode durar de quatro a 72 horas
⁠Piora com atividade física rotineira (caminhar, falar, etc).
Atrelada a fotofobia (sensibilidade à luz) e fonofobia (sensibilidade a barulhos)
⁠Pode ser associada a náusea ou vômito
Pode ser associada a aura, uma distorção que pode ser visual ou sensitiva
Entenda os diferentes tipos de aura:
Visual: alteração percepção da visão normal, que afeta cerca de 20% das pessoas que têm enxaqueca. Pode ser um borrão, linhas, zigue zagues, estrelas ou uma mancha, por exemplo
⁠Sensitiva: pode se manifestar, por exemplo, com um formigamento de um lado do corpo
OBS: A aura também pode ter sintomas parecidos com o AVC. Porém, na aura, o sintoma da visão é progressivo e dura entre 5 e 60 minutos, enquanto no AVC acontece de uma vez e dura por horas ou dias.
“A aura às vezes se torna uma coisa dramática. A pessoa não consegue dirigir, ler, nem fazer várias funções porque a visão fica muito prejudicada. Mas isso não é uma coisa contínua, é progressiva”, explica Nattan.
5. A enxaqueca tem cura?
Por ser uma condição genética e crônica, a enxaqueca não tem cura definitiva, mas pode entrar em remissão em alguns pacientes com tratamento adequado.
“A cura da enxaqueca não é uma coisa que a gente pode chamar de realista. Mas é muito importante entender que ter uma crise esporádica é diferente de que tem a doença enxaqueca com muitas crises frequentes e intensas, que impactam muito a qualidade de vida da pessoa”, destaca Nattan.
6. Quais os tipos de enxaqueca?
As classificações para a enxaqueca ajudam a definir o tratamento, mas a doença é a mesma. Essas classificações têm relação com ter ou não aura e com a frequência, por exemplo.
Enxaqueca crônica: quando as crises acontecem mais de 15 dias por mês por mais de 3 meses.
Enxaqueca com aura: acompanhada de uma distorção que pode ser visual ou sensitiva, conforme citada anteriormente
Enxaqueca vestibular: quando além dos fenômenos da enxaqueca já mencionados, também surgem fenômenos de vertigem e tontura rotatória.
Enxaqueca hemiplégica (extremamente raro): a pessoa tem paralisia de um lado do corpo e perda força de um lado do corpo no fenômeno da aura.
7. Como é feito o diagnóstico da enxaqueca?
O diagnóstico da enxaqueca é clínico. Ou seja, é feito a partir da história que o médico colhe com o paciente e do exame físico. Isso porque o cérebro da pessoa que tem enxaqueca é normal estruturalmente. Não tem uma lesão que justifique a enxaqueca, porque ela tem origem genética. Alguns neurônios funcionam de uma forma alterada durante um período de crise e depois voltam a funcionar de forma normal.
Os exames de imagem como tomografia e ressonância magnética não apresentam alterações específicas na enxaqueca, pois não há lesão estrutural.
“Geralmente, quando o médico pede um exame por conta de suspeita de enxaqueca é porque ele está na dúvida se é enxaqueca ou se é uma outra coisa, como um tumor, uma lesão inflamatória ou infecção”, explica Nattan.
8. Quais são os tratamentos disponíveis? Quais cuidados podem ter feito positivo?
Como a intensidade e frequência da enxaqueca variam muito de pessoa para pessoa, nem todo mundo precisa de tratamento preventivo contínuo. Mas quando esse tratamento é necessário, ele pode ser feito tanto com medicamentos de outras áreas da medicina que tiveram comprovação do seu efeito no tratamento da enxaqueca, quanto com medicamentos específicos, desenvolvidos para tratar enxaqueca.
Os medicamentos podem ser divididos em três grandes grupos:
anti-hipertensivos
antidepressivos,
anticonvulsivantes.
Também há tratamentos com a toxina botulínica, a mesma usada para fins estéticos e outros fins terapêuticos.
Além do tratamento preventivo que visa diminuir o número e a intensidade das crises, também existe o tratamento agudo, para controla a dor que já se instalou.
No tratamento agudo, podem ser usados medicamentos como analgésicos comuns, anti-inflamatórios e medicamentos específicos para enxaqueca, como as triptanas.
Além dessas opções encontradas no Brasil, existem outros medicamentos – tanto preventivos quanto de crise – que são específicos para enxaqueca e já estão disponíveis em outros locais:
Preventivos: Rimegepant, Atogepant, Eptinezumabe e Erenumabe.
Tratamento de crise: Ubrogepant, Zavegepant e Rimegepant.
“Uma pessoa que tem crise muito de vez em quando, menos de uma vez por mês, não tem necessidade de um tratamento específico, contínuo e medicamentoso. Já a pessoa que tem 8, 12, 15 ou mais dias de dor por mês definitivamente precisa de um tratamento medicamentoso em conjunto com todas as outras medidas para a melhora da qualidade de vida”, explica Nattan.
O primeiro tratamento preventivo específico para enxaqueca crônica e intensa – usado de forma contínua para diminuir a frequência e intensidade das crises e assim melhorar a qualidade de vida – é feito à base de anticorpos monoclonais anti-CGRP (peptídeo relacionado ao gene da calcitonina).
São medicamentos desenvolvidos a partir do entendimento do processo biológico da enxaqueca no cérebro e no sistema nervoso periférico. Dois deles estão disponíveis no Brasil: Fremanezumabe e Galcanezumabe (que são medicamentos de alto custo). E outros dois estão disponíveis apenas em outros países: eptinezumabe e erenumabe.
E os gepants (atogepant e rimegepant) são uma nova classe de medicamentos usados no tratamento da enxaqueca, com foco em bloquear a ação do CGRP, mas diferente dos anticorpos monoclonais.
Especialistas sugerem um terceiro elemento do tratamento, que é o estilo de vida do paciente. E isso consiste em combinar exercícios aeróbicos (como natação, caminhada ou corrida) com exercícios de força e seguir os seguintes cuidados:
⁠Cuidar a higiene do sono
Evitar temperaturas extremas durante a prática de atividade física
Hidratar-se adequadamente
⁠Não pular refeições
Moderar o consumo de café para uma xícara ao dia
⁠Não ultrapassar limites (cada pessoa deve identificar os limites de tempo e intensidade após os quais seus sintomas aparecem, para não ultrapassá-los).
9. Alimentos podem desencadear enxaqueca?
Segundo Nattan, embora os estudos com a melhor metodologia falharam em demonstrar que algum tipo de alimento seja efetivamente gatilho para crise, hoje a melhor explicação para isso é a seguinte:
Quando a crise de enxaqueca começa, horas antes e às vezes até dias antes, a pessoa já pode ter outros sintomas, como dificuldade de concentração, irritabilidade e até uma ‘fissura alimentar’ (vontade intensa de comer doce).
“Mas não é que a crise foi causada por chocolate. É que na verdade, o chocolate já era um sintoma que fez a pessoa procurar o chocolate nessa fase inicial da crise e ela já iria desenvolver a dor de cabeça, independente de comer chocolate”, explica o neurologista.
Mas embora os alimentos não sejam gatilhos, é muito importante as pessoas terem uma dieta balanceada, com menos produtos industrializados, uma dieta colorida e rica em nutrientes.
10. A enxaqueca é perigosa?
Embora não seja fatal, a enxaqueca pode impactar gravemente a qualidade de vida. Casos crônicos mal controlados podem levar a distúrbios de humor, insônia e uso excessivo de medicamentos, o que piora o quadro.
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