Chuvas no RS deixam mais de 4,5 mil pessoas fora de casa


Os estragos atingem ao menos 90 municípios. Duas pessoas morreram e uma está desaparecida. No Rio Grande do Sul, mais de 4,5 mil pessoas estão fora de casa por causa das chuvas. Os estragos atingem ao menos 90 municípios.
O rio invadiu ruas e casas no município de São Sebastião do Caí, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Esse é um dos seis rios que passaram da cota de inundação, de acordo com a a Defesa Civil.
Em Porto Alegre, o nível do Rio Guaíba também subiu. É o mesmo lago que deixou parte da capital submersa em 2024. Desta vez, os hidrólogos dizem que não há risco de enchente em Porto Alegre, mas o interior do estado preocupa. Pelo menos 50 rodovias estão com algum tipo de bloqueio.
Cinco municípios decretaram situação de emergência. Duas pessoas morreram em decorrência das chuvas e uma está desaparecida.
Nesta quinta-feira (19), o Jornal Nacional acompanhou a saída das pessoas que tiveram as casas invadidas pela água. O dia amanheceu com a água invadindo as ruas de São Sebastião do Caí. O comerciante José Antônio precisou da ajuda de voluntários para conseguir sair de casa.
“Tem que enfrentar a vida, não adianta, né.”
A socorrista do Samu Kelly Webster também usou o transporte de barco.
“A gente mora há bastante tempo aqui, 28 anos. Já mais ou menos acostumado, infelizmente, com essa situação.”
O Rio Caí está dois metros acima da cota de inundação. As casas ainda têm as marcas da enchente de maio de 2024. Agora, aos poucos, a água começou a voltar para toda essa região. Dezenas de ruas já estão debaixo d’água. Moradores foram levados para abrigos. Mais de 270 pessoas precisaram sair de casa.
Na cidade vizinha de Montenegro, os moradores também estão em alerta. O rio saiu do leito e avança pelas ruas.
“Todas as vezes que dá enchente nós ficamos preocupados”, afirma o pedreiro, Luiz Carlos da Silva.
Da janela da casa construída na parte mais alta do bairro, o mecânico de manutenção Ademir da Silva Castro acompanha com preocupação a água se aproximando, cada vez mais, da residência dele.
“A gente se preocupa bastante, né? Cada vez que vem a água, né? Mas a gente reza para não acontecer”
Os moradores dos bairros mais próximos do rio saíram antes da água entrar nas casas.
“Nós viemos ontem de noite. Levantamos o que deu lá, as coisas em casa, né? E estamos aguardando agora. De novo, outra vez. Tomara, Deus, que não chegue a entrar dessa vez”, diz o servente de obras Santos Cláudio Dias Rodrigues.
São 90 pessoas que estão em dois abrigos organizados pela prefeitura. A dona de casa Daniela Friza dos Santos saiu de casa com os quatro filhos.
“Eu me assustei por causa deles. Aí vieram lá pegar nós, daí eu até atravessei a rua com a água, mas eu estava com medo de cair com ele”
Em meio à tristeza, voluntários levam um pouco de alegria com brincadeiras improvisadas no ginásio.
“Eu tento sempre ou estar ajudando os animais ou as crianças, que eu acho que são os mais inocentes e os que acabam sofrendo mais com essa situação toda”, diz a voluntária Alana Ribeiro.
Após água invadir casa, homem deixa residência com ajuda de voluntários em um barco
Reprodução/TV Globo
Estragos interior
O maior número de desabrigados está no interior gaúcho.
A chuva insiste em cair no Vale do Taquari, fazendo o rio transbordar e invadir bairros. Mais uma vez, famílias precisaram carregar a vida inteira para dentro de um abrigo.
“Eu não aguento mais, isso não é vida para a gente. Eu estou sofrendo, minha vida não é mais como antigamente”, afirma Clarice Pereira Lopes.
A dona de casa Josiane Isabel da Silva está com as duas irmãs e a sobrinha em um centro de acolhimento.
“Eu vim para resolver umas coisas, estava ali na casa da minha irmã, a água começou a subir, subir, desde ontem. A Defesa Civil chegou e acabou ajudando a gente a retirar os móveis. É triste. Duas vezes que ela passa por isso, agora a terceira”.
A dona de casa Elisane de Oliveira saiu de casa às pressas na manhã desta quinta-feira (19) com os sete filhos e a neta.
“Na primeira vez eu perdi tudo, né? Aí agora dessa vez, na segunda vez, consegui salvar algumas coisas, mas algumas ficaram lá. A gente tem que tirar forças. Eu tenho meu filho que é cadeirante, mais minha neta que eu crio. Tem que ser forte, né. Fazer o quê.”
O Rio Taquari ultrapassou em mais de 3 m a cota de inundação. A água que transbordou alagou ruas e invadiu casas em ao menos três bairros. O centro de Lajeado foi um dos locais mais afetados.
A chuva incessante traz à tona as lembranças de maio de 2024. O medo da enchente fez a chapista Lisete Guth sair de casa antes mesmo da água chegar.
“Eu imaginava que não ia acontecer de novo, mas aconteceu. Agora não é nada ainda, mas é melhor tirar do que perder tudo de novo”, diz.
Em Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, bombeiros resgataram na tarde de quarta-feira (18), 11 moradores, incluindo três crianças, de uma área isolada devido à cheia do Arroio Pinhal.
Em Dona Francisca, na Região Central, o nível do Rio Jacuí preocupa as autoridades. Ao menos quatro comunidades estão isoladas.
Em Santa Cruz do Sul, 200 pessoas estão fora de casa.
“Meus pais já saíram com água na casa. E aí eles foram para minha casa e começou a atingir a minha também. Não chegou a entrar na minha casa de primeiro. Tirar forças da onde não tem e seguir em frente, porque a vida não para, né”, afirma a dona de casa Daiane Sales.
Chuvas no RS deixam mais de 4,5 mil pessoas fora de casa
Reprodução/TV Globo
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