Golpistas pagam ao Google pelo disparo de e-mails patrocinados com armadilhas para fraudes


Em um dos golpes, as vítimas recebem mensagens sobre uma falsa entrega de mercadoria pelos Correios. As fraudes cometidas por estelionatários no ambiente da internet estão atingindo outro patamar. Agora, as armadilhas para o golpe chegam até as possíveis vítimas em e-mails patrocinados. Ou seja: o golpista paga à plataforma para que ela envie a mensagem maliciosa.
Atenção: este e-mail é um golpe. E, para enganar o consumidor e dar a impressão de que a mensagem é real, o golpista usou artimanhas. Na caixa de entrada do Gmail, o serviço de e-mail do Google, ele apresenta a logomarca dos Correios ao se identificar como “Portal Encomendas” e destaca no título do e-mail que um suposto pedido está pendente.
A mensagem diz que existe uma encomenda aguardando regularização e oferece a armadilha: o link para que a pessoa que recebeu a mensagem inicie a suposta liberação do produto. O falso site pede dados pessoais: endereço, número de telefone, da identidade e até do passaporte. E, na sequência, também pede o número do CPF, simulando um rastreamento da encomenda.
No golpe virtual conhecido como “phishing”, criminosos obtêm os dados da vítima e usam para aplicar outros golpes. Outro detalhe importante chama atenção: a mensagem falsa no Gmail informa que se trata de e-mail patrocinado. Ou seja: o remetente pagou ao Google pelo envio daquela mensagem a grupos de pessoas.
Clicando no remetente, é possível obter informações sobre quem teria pagado. É claro que o nome que consta não é o dos Correios, mas o de uma mulher e ainda um CNPJ – um registro obrigatório para todas as empresas ativas no Brasil.
O Jornal Nacional foi à localidade de Espera Feliz, na Zona da Mata, em Minas Gerais. O endereço consta como sendo da empresa que enviou o e-mail. Encontramos Ana Lívia Ferreira Alves. Ela reconheceu o CNPJ como sendo da empresa dela, mas não sabe como ele foi parar no anúncio patrocinado enviado por e-mail.
“Na verdade, eu nem tenho conhecimento para fazer isso, porque como eu disse, meu e-mail é praticamente para uso pessoal. Não tenho nem motivo para enviar para ninguém, porque não tenho nem para quem enviar. Não tenho conhecimento de outros e-mail, a não ser o meu”, diz a doméstica Lívia Ferreira Alves.
O Google afirma ter verificado a identidade do anunciante, mas aceitou enviar os e-mails com a marca dos Correios apesar de o anunciante ter o nome de uma mulher e um CNPJ de uma microempresa de serviços domésticos. O mesmo CNPJ e o mesmo endereço do anunciante aparecem em um outro anúncio, sobre renovação de carteiras de motorista – que o Fato ou Fake, do g1, já provou se tratar de mais um golpe.
Golpistas pagam ao Google pelo disparo de e-mails patrocinados com armadilhas para fraudes
Jornal Nacional/ Reprodução
A empresa ou pessoa física que paga por um e-mail patrocinado escolhe, por exemplo, o público-alvo e a localização dos destinatários. Mas não tem acesso aos endereços eletrônicos, os e-mails individuais desses destinatários. É a plataforma digital, no caso o Google, que identifica os perfis de interesse do anunciante e dispara os e-mails com a armadilha para o golpe.
Especialistas dizem que a verificação feita pelos provedores de e-mail, que deveria oferecer segurança para quem recebe os anúncios, não tem sido eficiente na prevenção de golpes.
“É um vício no serviço que eles estão oferecendo. Então, se eles estão se propondo a oferecer serviço, eles têm que oferecer de maneira de qualidade, segura para o consumidor. Como o e-mail é impulsionado, como o provedor daquele e-mail entra em uma função de garantidor ao impulsioná-lo, então entra muito mais para uma função de anúncio do que propriamente para uma função de comunicação privada. Então, eu entendo que ele também poderia ser responsabilizado”, afirma o promotor Mauro Ellovitch, do grupo de Combate a Crimes Cibernéticos.
Os Correios voltaram a esclarecer que não enviam mensagens por e-mail, SMS ou WhatsApp sobre objetos bloqueados ou pagamento de taxas; que monitoram essas fraudes contra clientes e, sempre que necessário, denunciam os casos à Polícia Federal.
Para quem está aguardando uma encomenda dos Correios, a orientação é usar o aplicativo ou o site oficial: correios.com.br, onde é possível rastrear encomendas e pagar tributos de importação com segurança.
O Google declarou que tem políticas de publicidade que os anunciantes devem seguir, e que usa uma combinação de revisão humana e inteligência artificial para identificar possíveis violações; e que só em 2024 removeu mais de 200 milhões de anúncios.
A auxiliar administrativa Maria Alice Socorro caiu em um golpe bem parecido. Recebeu um e-mail que aparentava ser dos Correios, dizendo que ela precisava pagar taxas para ter uma encomenda liberada. Como ela havia mesmo feito uma compra, acreditou e pagou mais de R$ 400:
“Era tudo direitinho, bonitinho. Você jurava que estava falando com um cara do Correio, sabe? É muito perfeito o que eles fazem. Fui pagando taxas e taxas, até que acordei. O prejuízo está enorme e a gente não sabe como fazer”, diz Maria Alice.
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