Separação e patrimônio: MP afirma que sogra e marido mataram professora envenenada para evitar partilha de bens


Larissa Rodrigues havia descoberto, dias antes de ser morta, que Luiz Garnica mantinha relacionamento extraconjugal. Ela morreu horas após reafirmar desejo de se divorciar. MP denuncia médico por atrapalhar cena do crime em caso Larissa
O médico Luiz Antonio Garnica e a mãe dele, Elizabete Arrabaça, mataram a professora de pilates Larissa Rodrigues envenenada em março deste ano em Ribeirão Preto (SP) para evitar uma partilha de bens. Pelo menos isso é o que acredita o Ministério Público (MP), em denúncia contra Luiz e Elizabete oferecida à Justiça na última terça-feira (1º).
Segundo o MP, dias antes de ser morta, Larissa, que era casada com Luiz, havia descoberto que o marido mantinha um relacionamento extraconjugal.
Na véspera, ela chegou a enviar uma mensagem a Garnica mencionando que veria um advogado no início da próxima semana para começar a tratar da separação. Na mesma noite, diz a denúncia, Garnica entrou em contato com a mãe, que esteve no apartamento da nora por cerca de quatro horas.
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O promotor destaca que o crime foi praticado por motivo torpe, impulsionado pelo desejo de Garnica de evitar a partilha de bens e de viver seu relacionamento com a amante, com a colaboração de Elizabete.
Testemunhas relatam que Elizabete demonstrou forte oposição à ideia de Larissa ficar com metade do apartamento em caso de divórcio, considerando a partilha injusta. Essa preocupação patrimonial, somada aos seus próprios problemas financeiros, teria motivado a mulher a aderir ao plano criminoso.
“A questão patrimonial tornou-se um dos pontos centrais de preocupação para Luiz Garnica, conforme ele mesmo confidenciou à amante. […] A perspectiva de Luiz Garnica de ter que partilhar o patrimônio, especialmente o apartamento do casal, e a necessidade de se reestruturar financeiramente para suportar os custos de uma nova moradia ou compensar a cota parte de Larissa, revelou uma das motivações determinantes para a eliminação da vítima”, argumenta o promotor Marcus Túlio Nicolino.
Mãe e filho estão presos temporariamente desde o dia 6 de maio. Eles foram denunciados por feminicídio com três qualificadoras: uso de veneno, motivo torpe e cruel mediante simulação e uso de recursos que dificultaram a defesa de Larissa.
Garnica também foi denunciado por fraude processual, por ter alterado a cena do crime no dia em que a professora foi encontrada morta no apartamento dela, ainda de acordo com o MP.
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Obsessão pelo relacionamento extraconjugal
O Ministério Público descreve Garnica como alguém obcecado por seu relacionamento extraconjugal e pela eliminação de Larissa para viver o romance.
A denúncia cita que o médico planejou o crime porque passava por problemas financeiros e se recusava a aceitar se divorciar da esposa e ter que fazer a divisão do patrimônio.
As investigações indicam que Garnica avisou a amante sobre a morte de Larissa 15 minutos antes da constatação oficial do óbito, feita pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Ainda segundo a denúncia, Garnica recusou-se a conceder o divórcio, optando por manter a Larissa sob seu domínio, ao mesmo tempo em que desfrutava de sua relação paralela com a amante.
“A propósito, cumpre mencionar que, conforme consta em denúncia anônima, o denunciado, conhecido por seu temperamento instável e possessivo, teria ameaçado a vítima, afirmando que, caso ela insistisse no divórcio, ele ceifaria sua vida por meio de uma injeção letal”, destaca a promotoria.
A denúncia mostra um detalhe que ilustra a intensidade da paixão de Luiz pela amante. A polícia encontrou em seu histórico de buscas online pesquisas sobre a compatibilidade amorosa dos signos “leão e aquário”, referentes a ele e à amante. Essa pesquisa por afinidade astrológica foi realizada no início de março de 2025, dias antes da morte de Larissa.
“A nítida intenção de Luiz em prosseguir com a amante livremente se tornou clara após o crime, quando, em questão de dias, ele colocou [a amante] dentro de seu apartamento onde vivia com Larissa, e, menos de um mês após a morte da vítima, apresentou sua amante formalmente à sua mãe, Elizabete, em um almoço. Essa conduta revela um desinteresse absoluto pela memória da vítima e uma frieza atroz em perseguir seus interesses pessoais em detrimento da vida de sua esposa”, complementa Nicolino.
Luiz Antonio Garnica e a esposa, Larissa Rodrigues, em Ribeirão Preto, SP
Arquivo pessoal
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Crime premeditado
A denúncia do Ministério Público também aponta q e mãe e filho agiram de forma premeditada. O envenenamento, conforme a denúncia, foi progressivo, com doses diárias visando debilitar a vítima até causar a morte e dar a impressão que ela havia sofrido uma complicação decorrente de intoxicação crônica.
“A Larissa foi sendo envenenada ao longo de 10, 15 dias, em doses menores. Mas naquela sexta-feira a Larissa manifestou desejo de já na segunda-feira procurar um advogado. Ali seria o final do relacionamento e a consequente partilha de bens comuns ao casal. A Elizabete vai até o apartamento e, lá, dá uma nova dose, presumimos, mais forte porque a Larissa vem a morrer na madrugada”, diz o promotor.
Segundo o MP, em algumas ocasiões, Garnica chegou a buscar a sopa envenenada preparada pela mãe para oferecê-la à esposa. Além disso, ele medicou Larissa em pelo menos duas ocasiões com substâncias providenciadas pela mãe, sem que a vítima soubesse o que estava ingerindo.
Em consequência da intoxicação causada pela administração progressiva do veneno, Larissa começou a manifestar sintomas como náuseas, vômitos e diarreia.
“Em um desses episódios de mal-estar, Larissa chegou a pedir para ser levada ao hospital, mas Luiz Garnica além de se recusar a levá-la, proibiu a ofendida de ir ao hospital, em clara intenção de impedir Larissa na busca por socorro médico adequado, optando por acionar sua mãe para que trouxesse os “remédios”. A vítima, em meio à sua agonia, chegou a confidenciar que sentia que iria morrer, evidenciando o sofrimento prolongado e a progressão do envenenamento”, afirma a promotoria na denúncia.
Luiz Antônio Garnica e a mãe, Elizabete Arrabaça, estão presos por suspeita de matar a professora Larissa Rodrigues em Ribeirão Preto, SP
Reprodução/EPTV
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