Quadrilha que usava garotas de programa para extorquir dinheiro de vítimas atuava em Itatinga, único bairro do país projetado para a prostituição


Ruas movimentas e trabalhadoras do sexo seminuas: Jardim Itatinga, em Campinas (SP), é considerado uma das maiores áreas de prostituição da América Latina
Fernando Evans/g1
Nesta terça-feira (15), a Polícia Civil realizou uma operação que desarticulou uma quadrilha que usava garotas de programa para extorquir vítimas no Jardim Itatinga, em Campinas. O bairro é o único do país projetado para prostituição. Conheça mais sobre Itatinga abaixo.
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Criado no período da ditadura militar para isolar profissionais do sexo do restante da cidade, o Jardim Itatinga se transformou ao longo de décadas em uma das maiores áreas de prostituição da América Latina.
De acordo com a Associação Mulheres Guerreiras, são 117 estabelecimentos e 1,7 mil trabalhadores do sexo em atividade atualmente em Itatinga, que “funciona” 24 horas por dia.
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Bairro projetado para prostituição
Segundo a arquiteta, urbanista e professora Diana Helene, que estudou o bairro em sua tese de doutorado intitulada “Preta, pobre e Puta: a segregação urbana da prostituição em Campinas”, o diferencial do local é ter sido criado exclusivamente para concentrar, numa área distante da cidade, todas as atividades ligadas à prostituição.
“No Brasil não existem outros bairros criados do zero pelo planejamento urbano para esse fim, mas existem alguns em outros lugares do mundo, como o bairro planejado de prostituição no Marrocos, o “quartier réservé” de Bousbir, em Casablanca”, ressalta.
Para a pesquisadora, a decisão de confinar a prostituição em uma área afastada do município, entre as rodovias Santos Dumont e Bandeirantes, foi baseada em conceitos morais e numa divisão entre dois papéis de mulheres que não poderiam conviver.
“A ‘santa’ e ‘puta’, que não poderiam se misturar, principalmente com o grande crescimento urbano na década de 1960, devido à onda de industrialização. Lá as prostitutas estão protegidas para encarnar livremente seu papel, sem entrarem em conflito. Os clientes também ficam protegidos, de modo a não serem estigmatizados”, ressalta a professora.
Boates x casas de família
Placas que identificam as residências familiares em meio às boates do bairro Jardim Itatinga, em Campinas
Mirielly Ferraça
O visitante que chega ao Jardim Itatinga logo se depara com um universo onde tudo gira em torno da prostituição. Há até lojas especializadas para atender as necessidades das profissionais.
No bairro, os serviços sexuais são oferecidos todos os dias da semana, 24h por dia. As profissionais ficam dispostas de duas formas na zona de prostituição: algumas abordam os clientes nas ruas que chegam de carro, já as demais ficam espalhadas em boates.
No entanto, nem todos que moram no bairro vivem da prostituição, por isso ao caminhar pela região é comum encontrar nas portas das residências que não têm ligação com o mercado sexual placas de sinalização que dizem “casa de família”. A área conta também com centro de saúde, escolas de educação infantil e ONGs que realizam serviço social com a população.
Bairro supera pandemia e revolução sexual da internet
“Não vai acabar”, é o que responde a pesquisadora Carolina Bonomi a quem pergunta o que vai acontecer com o Jardim Itatinga com o impacto da venda de sexo pela internet, especialmente após a pandemia.
“Depois que passou o Auxílio Emergencial, foi decaindo o movimento nas zonas de prostituição. E além da Covid-19, também foi se consolidando o mercado sexual online. Mas nesse caso, muitas foram integrando os trabalhos. Se a renda do presencial não estava dando conta, começaram a vender conteúdo na internet”, explica a pesquisadora.
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No entanto, a Bonomi, que chegou a passar um ano acompanhando as profissionais do sexo do bairro, acredita que a própria dinâmica do bairro cria formas para ele se regular, se manter. Isso tanto de quem trabalha quanto para quem frequenta.
“São muitas casas e a gente tem que pensar que, por exemplo, o público que consome esse tipo de serviço é o mais diversificado possível. Tem gente que não se adaptou aos sites, inclusive acham inseguros não saber quem é que está contratando, mas tem quem goste, inclusive, desse convívio com a zona, que gosta do cabaré, de ir ao bar e flertar com a profissional”, pontua Carolina.
Quadrilha usava garotas de programa para extorquir clientes no Jardim Itatinga
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