
A atriz Ma Dêvi Murti dá vida a Rosa no espetáculo A (Ré)tomada da Palavra ou A Mulher que Não se Vê
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Quem são as pessoas que a cidade escolhe não ver? E o que acontece quando uma delas resolve falar? É essa a provocação que move o espetáculo “A (ré)tomada da palavra ou a mulher que não se vê”, encenado dentro de um ônibus parado na Praça Roosevelt, no Centro de São Paulo, com sessões gratuitas até 28 de setembro.
A peça é um monólogo encenado pela atriz Ma Devi Murti, que interpreta Rosa, uma faxineira indignada com o silêncio e a invisibilidade cotidiana.
Durante uma hora, o público acompanha suas reflexões enquanto ela atravessa uma jornada simbólica no transporte público — lugar de espera, empurra-empurra e, acima de tudo, resistência.
“Ela é uma mulher atenta ao que está acontecendo na cidade. Fica indignada diante do silenciamento, da invisibilidade das pessoas — não só dela”, afirma a atriz.
Uma mulher que vê o que ninguém mais enxerga
No centro do ônibus, uma cadeira de rodas permanece vazia durante todo o espetáculo. Rosa é a única personagem que reconhece quem ali está sentada: uma mulher preta com deficiência física. A ausência de olhar e de escuta em relação a ela é o ponto de partida para discutir temas como gênero, raça, capacitismo e políticas públicas.
“Na realidade, você só vê aquilo que coloca atenção. Quando a gente enxerga o outro, a gente ama. Dar voz é também um ato de amor”, reflete Ma Devi Murti.
O cenário é simbólico e impactante: velas no teto do ônibus remetem aos navios negreiros, fazendo um paralelo com os “ventos modernos” que sopram em direção ao retrocesso social.
A própria escolha de manter o veículo estacionado — ao contrário de outros espetáculos da companhia que acontecem com o ônibus em movimento — representa uma sociedade empacada, que não avança.
Inspirado por Rosa Parks e Flavia Diniz
Com 18 anos de história, a Zózima Trupe é conhecida por transformar o transporte público em palco. Para este espetáculo, o texto se inspirou em duas figuras femininas potentes: a americana Rosa Parks, ícone da luta antirracista que se recusou a ceder seu lugar no ônibus a um homem branco em 1955, e a brasileira Flavia Diniz, mulher preta em cadeira de rodas, mãe solo e ativista, que morreu em 2024.
“A ‘rétomada’ é essa busca de dar ré, de voltar porque é justo e direito. A mulher que não se vê é a mulher preta em cadeira de rodas: se a mulher preta é invisível, a mulher preta com deficiência ao menos existe?”, questiona o diretor Andersson Maurício.
Serviço:
🗓️ Quando? Praça Franklin Roosevelt – Centro de São Paulo
📍 Onde? Sextas e sábados às 20h e domingos às 19h
💲 Quanto? De graça
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