Mães relatam dificuldade em matricular filhos autistas em rede de academias do DF


Francineide Lima diz que teve dificuldade de matricular o filho na natação, em Taguatinga.
Duas mães relatam que tiveram dificuldade de matricular seus filhos autistas na rede de academias Corpo e Saúde, nas unidades de Taguatinga Norte e Samambaia, no Distrito Federal.
Segundo elas, após informarem que filhos têm autismo, academia teria dito que crianças não poderiam ser matriculadas (veja vídeo acima).
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Em nota, a academia negou exclusão ou preconceito. Segundo a rede, “por uma questão de segurança e qualidade no atendimento, precisamos limitar o número de alunos por turma, especialmente quando há a necessidade de atenção individualizada” (leia a nota na íntegra mais abaixo).
Mãe não conseguiu matricular o filho em Taguatinga
Imagem ilustrativa de piscina usada para aula de natação.
reprodução
Francineide Lima é mãe de um menino autista de seis anos e conta que procurou a academia para matriculá-lo em uma aula experimental de natação. Com a aula marcada, a mãe se dirigiu até a unidade em Taguatinga com a criança no dia e horário agendados.
Ao preencher uma ficha do menino instantes antes do início da aula, informou que ele tinha autismo e, logo em seguida, a atendente da academia informou que a criança não poderia fazer a aula (veja vídeo no início da reportagem).
“Me disseram que não tinha vaga porque a turma estava cheia. Achei estranho porque eu entrei em contato, eu agendei, me deram a confirmação de agendamento e a turma ficou cheia só depois dessa anamnese? Depois que foi informado que se tratava de uma criança autista?”, questiona Francineide.
A mãe afirma que questionou a atendente sobre a mudança repentina mas não teve uma resposta satisfatória. “Eu percebi que ali não se tratava apenas de estar ou não cheia, de ter ou não vaga. Se tratava de preconceito mesmo”, contou à TV Globo.
Mãe não conseguiu matricular filho em Samambaia
Alyni Macedo diz que teve dificuldade de matricular o filho na natação, em Samambaia.
Uma outra mãe, Alyni Macedo, moradora de Samambaia, conta que passou por uma situação parecida com a mesma rede de academia ao tentar matricular filho na aula de natação, em Samambaia (veja vídeo acima).
A fisioterapeuta diz que teve resistência da academia ao informar que, devido ao autismo do filho, ele não poderia fazer a aula em uma piscina funda. Ela, então, sugeriu alternativas, mas não houve abertura da unidade.
“Meu filho tem toda uma alteração, ele não fala. Ele anda, mas ele não fala e não iria conseguir se equilibrar na água sozinho. [Quando questionei] se teriam um sistema para acompanhamento individual, me informaram que o ‘custo era muito alto'”, conta Alyni.
Ainda de acordo com a mãe, a academia negou que ela entrasse com ele na piscina durante a aula e também negou que ele fizesse as atividades em uma piscina rasa com crianças menores. “Eu só queria ir ali matricular o meu filho na natação e isso foi negado de alguma forma”, lamenta.
O que diz a lei?
Em um ano, 200 mil alunos com autismo foram matriculados em escolas comuns
De acordo com a lei 12.764 de 2014, é direito da pessoa com transtorno do espectro autista ter uma “vida digna, a integridade física e moral, o livre desenvolvimento da personalidade, a segurança e o lazer”.
Além disso, é previsto que ela não seja privada de “sua liberdade ou do convívio familiar nem sofrerá discriminação por motivo da deficiência”.
É previsto ainda responsabilidade legal e multa para quem priva a pessoa autista de matrículas em algum tipo de instrução escolar.
“O gestor escolar, ou autoridade competente, que recusar a matrícula de aluno com transtorno do espectro autista, ou qualquer outro tipo de deficiência, será punido com multa de 3 (três) a 20 (vinte) salários-mínimos”, diz o artigo 7 da lei 12.764.
À TV Globo, a Associação Brasileira de Autismo, Comportamento e Intervenção (Abraci-DF) informou que está acompanhando o caso da criança e alega preocupação com casos como os relatados pelas mães.
“Por mais que avancemos em relação às legislações que temos hoje, as famílias ainda têm passado por situações de discriminação”, lamenta Luciente Ferreira, diretora-presidente da Abraci.
O que diz a Corpo e Saúde
“Nossas turmas costumam ter no máximo 7 alunos, porém quando recebemos uma criança com diagnóstico de autismo, reduzimos esse número para garantir uma atenção mais individualizada. Nesse caso, a turma já conta com um aluno autista, o que nos leva a trabalhar com apenas 6 alunos para manter a qualidade e segurança nas aulas.
Por isso, para que o Samuel possa participar dessa turma com a devida atenção, seriam necessárias duas vagas disponíveis — e infelizmente, no momento, isso não é possível. Essa decisão é sempre pensando no bem-estar e segurança de todos os alunos.
Ressalto que não se trata de nenhum tipo de exclusão ou preconceito, mas sim de um cuidado necessário para garantir um ambiente seguro e adequado para todas as crianças.
Temos vagas disponíveis nas turmas de segunda, quarta e sexta-feira, e estarei presente nesses dias, podendo acompanhar de perto a adaptação dele.
Na Corpo e Saúde, trabalhamos sim com alunos autistas e temos muito respeito por cada um deles. Inclusive, já atendemos diversos casos com muito carinho e dedicação. O que ocorre é que, por uma questão de segurança e qualidade no atendimento, precisamos limitar o número de alunos por turma, especialmente quando há a necessidade de atenção individualizada.
De forma alguma descartamos ou excluímos alunos – pelo contrário, fazemos o possível para acolher todos. Lamentamos que a situação tenha sido interpretada de outra forma, pois nossa intenção sempre será promover um ambiente inclusivo, respeitoso e seguro para todos.”
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