
PM mata estudante de medicina com tiro à queima-roupa na Vila Mariana, Zona Sul de SP
Os policiais militares Guilherme Augusto Macedo e Bruno Carvalho do Prado, envolvidos no assassinato do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta em novembro do ano passado, solicitaram uma medida protetiva contra o pai da vítima. Eles respondem ao processo em liberdade.
O pedido contra o médico Julio Cesar Acosta Navarro, de 60 anos, foi protocolado pelo advogado João Carlos Campanini, que representa os policiais, na sexta-feira (25). A Justiça ainda não analisou a solicitação.
A defesa alega que, durante a audiência de instrução, em 10 de julho, o médico ofendeu e tentou agredir Guilherme, além de ter sido contido pelos policiais que realizavam a escolta dos réus.
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Ao g1, Julio Cesar contou que recebeu na segunda-feira (28) a notificação com surpresa e revolta. “Onde que chegamos? É um mundo totalmente invertido, um mundo distópico. Como tudo isso é possível? […] Como esses covardes que mataram e executaram o meu filho ainda choram? Que imagem [fica] para Polícia Militar? Que imagem para o país?”
O médico ainda disse que a audiência de instrução foi a primeira vez em que ele encarou Guilherme e Bruno, apesar de ter tentado encontrá-los anteriormente no batalhão em que trabalham. “Eu tentei aproximar e me impediram. Fiz uma confusão no início”, relembra.
No final da sessão, Julio Cesar teve mais um embate com os réus quando gritou “assassinos, covardes” e tentou chegar perto deles. Ele acabou sendo retirado da sala por policiais que faziam a escolta de Guilherme e Bruno.
Desde o dia 20 de novembro do ano passado, já faz mais de 8 meses, meu mundo acabou ao ver meu filho caçula ser assassinado dessa maneira […] Desde então, eu morri muitas vezes. Morri esse dia. Morri o dia que soltaram os vídeos das câmaras corporais que se vê como ele foi executado. Morri quando a juíza em 13 de janeiro, no dia do meu aniversário de 60 anos, não mandou presos os assassinos.
Em nota, os escritórios de advocacia que atuam como assistentes de acusação no processo que apura a morte do estudante acusaram a defesa dos policiais militares de fazer uma manobra para tentar, “de forma desesperada, desviar o foco do assassinato de Marco Aurélio, partindo para um ataque direto e uma tentativa de intimidação contra o pai da vítima”.
“A petição, além de processualmente impertinente, revela um profundo desrespeito à dor de uma família e um erro técnico grosseiro”, diz trecho da nota assinada pela advogada Nayara Uzoukwu.
Estudante de Medicina Marco Aurélio e o pai
Reprodução/Arquivo pessoal
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Relembre o caso
Marco Aurélio foi morto com um tiro à queima-roupa durante uma abordagem policial na madrugada de 20 de outubro de 2024, na Vila Mariana, na Zona Sul de São Paulo. Ele tinha 22 anos e estava no quinto ano do curso de medicina na Universidade Anhembi Morumbi.
A confusão começou quando o estudante deu um tapa no retrovisor da viatura dos PMs Guilherme Augusto Macedo e Bruno Carvalho do Prado e correu para o interior de um hotel, onde ele estava hospedado com uma mulher.
A ação foi registrada por uma câmera de segurança. Nas imagens, é possível ver que o jovem entrou no saguão do hotel sem camisa e foi perseguido pelos policiais. Um dos agentes tentou puxar Marco Aurélio pelo braço, enquanto o outro o chutou. Em seguida, o estudante segurou a perna do policial, que caiu no chão.
Durante a confusão, o PM Guilherme atirou na altura do peito do estudante. No boletim de ocorrência, os policiais alegaram que o jovem teria tentado pegar a arma de Bruno.
Ele era o filho caçula de um casal de médicos peruanos naturalizados brasileiros que se mudou para cá há mais de duas décadas. Segundo a mãe, a intensivista Silvia Mônica, o rapaz nasceu prematuramente e concluiu o ensino médio com apenas 15 anos.
Claudio Silva, ouvidor das Polícias de São Paulo na época, afirmou que a ação é “mais um reflexo da lógica que está instalada no estado de São Paulo, de polícia que mata. Polícia que não respeita a vida”.
Em janeiro, a Justiça negou o pedido de prisão preventiva da Polícia Civil, após conclusão do inquérito policial.
No relatório, o delegado Gabriel Tadeu Brienza Viera afirmou que, apesar de o estudante ter reagido à abordagem policial, o PM “assumiu o risco do resultado morte, porque usou ilegitimamente a arma de fogo para repelir uma suposta ameaça”.
A juíza Luciana Scorza considerou que o policial é réu primário, tem residência fixa na capital e não tentou interferir nas investigações do caso, podendo, portando, responder ao processo criminal em liberdade, desde que se apresente mensalmente à Justiça.
Marco Aurélio Cardenas Acosta, estudante de medicina morto pela PM em SP
Reprodução/Instagram