
Quem se deu bem e quem se deu mal entre as exceções do tarifaço de 50% de Trump
O setor cafeeiro brasileiro é tomado pela incerteza diante do anúncio da tarifa de 50% feita pelos Estados Unidos, principal destino das exportações do grão, sobre os embarques do café. A medida, que entraria em vigor nesta sexta-feira (1º), foi adiada para o próximo dia 6 de agosto.
Análise mais recente do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) do campus da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba (SP), indica que o Brasil pode ser forçado a redirecionar parte da produção nacional a outros mercados.
“O que exige agilidade logística e estratégia comercial para mitigar os prejuízos à cadeia produtiva nacional”, aponta.
Café, carne bovina e frutas frescas ainda estão entre os itens mais expostos à medida de Trump.
📲 Participe do canal do WhatsApp do g1 Piracicaba
“Diante da representatividade do Brasil nas importações de café dos EUA, o Cepea avalia que a eventual entrada em vigor da tarifa tende a impactar não apenas a competitividade do café nacional, mas também os preços ao consumidor norte-americano e a formulação dos blends tradicionais, que utilizam os grãos brasileiros como base sensorial e de equilíbrio”, aponta o Cepea.
📝Nesta quarta (30), o presidente Donald Trump assinou um decreto que elevou em 40 pontos percentuais a alíquota sobre produtos brasileiros.
O documento também apresenta uma lista de 700 exceções que beneficiam segmentos estratégicos como o aeronáutico, o energético e parte do agronegócio.
Café robusta
Globo Rural/Tv Globo
📈Alguns setores brasileiros conseguiram escapar da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos, enquanto outros foram diretamente atingidos pela medida, como é caso da carne bovina, café e frutas.
Os pesquisadores do Cepea apontam ainda que preços domésticos do café têm acompanhado os movimentos das Bolsas de Nova York e Londres, com oscilações associadas à atuação especulativa de fundos.
“Isso que vêm ampliando suas posições compradas diante da possibilidade de aumento das cotações, caso a tarifa entre em vigor”, aponta o Centro de Estudos da Esalq-USP.
“Até o momento, não indícios claros de que os valores internos estejam recuando exclusivamente em função da medida tarifária”, aponta o Cepea.
Taxação do café brasileiro pelos EUA preocupa produtores
Reprodução EPTV
Embarques 🛳️
Em 2024, o Brasil respondeu por aproximadamente 23% do total comprado pelos EUA, em valores monetários, de acordo com estatísticas da Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos (USITC, na sigla em inglês).
A Colômbia representou cerca de 17% do total das importações norte-americanas, enquanto o Vietnã contribuiu com aproximadamente 4%.
Arábica e robusta ☕
Pesquisadores lembram, ainda, que, no segmento do café arábica, em que o Brasil também lidera os embarques aos EUA, a Colômbia, principal concorrente, permanece isenta da nova tarifação.
Quanto ao robusta, o Vietnã negocia a aplicação de uma alíquota reduzida de 20%, frente aos 46% inicialmente previstos.
Mercado do café analisa possível impacto do ‘tarifaço’ de Trump para a produção no Sul de Minas
Reprodução EPTV
☕Café: o impacto no setor cafeeiro é estrutural, alerta o Cepea.
“Como os EUA não produzem café, a elevação do custo de importação compromete diretamente a viabilidade econômica da cadeia interna, que envolve torrefadoras, cafeterias, indústrias de bebidas e redes de varejo”, analisa.
“A exclusão do café do pacote tarifário é não apenas desejável, mas estratégica, tanto para a sustentabilidade da cafeicultura brasileira quanto para a estabilidade da cadeia de abastecimento norte-americana”, destaca Renato Ribeiro, pesquisador de café do Cepea.
No curto prazo, apesar de a safra 2024/25 ter assegurado boa capitalização aos produtores, a comercialização da safra 2025/26 avança lentamente, apontam pesquisadores do Cepea.
Com a queda nas cotações e a instabilidade externa, os produtores têm vendido volumes mínimos para manter o fluxo de caixa, postergando negociações maiores à espera de definições sobre o cenário tarifário.
🍽️Segurança alimentar
Os pesquisadores do Cepea ressaltam que “uma articulação diplomática coordenada” para rever ou excluir as tarifas sobre produtos agroalimentares brasileiros é urgente diante dos impactos previstos.
“Tal medida é estratégica não apenas para o Brasil, mas também para os próprios Estados Unidos, cuja segurança alimentar e competitividade da agroindústria dependem de forma substancial do fornecimento brasileiro”, aponta.
Veja abaixo, alguns dos setores analisados pelo Centro de Estudos da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) da Universidade de São Paulo:
🥭Frutas frescas: Impacto nas exportações: O impacto imediato recai sobre a manga, cuja janela crítica de exportação aos EUA inicia-se em agosto.
Segundo indica o Cepea, já há relatos de postergação de embarques frente à indefinição tarifária.
📈 Até o anúncio da medida, a expectativa era de crescimento das exportações de frutas frescas em 2025, sustentada pela valorização cambial e pela recomposição produtiva de diversas culturas. “Contudo, o cenário tornou-se incerto”, alerta o Cepea.
Safra de uva
Felipe Dalla Valle/Secom RS
🍇A uva brasileira, cuja safra tem calendário relevante para os EUA a partir da segunda quinzena de setembro, também passa a integrar o grupo de culturas em alerta.
“A projeção otimista foi substituída por dúvidas. Além da retração esperada nas vendas aos EUA, há o risco de desequilíbrio entre oferta e demanda nos principais destinos, pressionando as cotações ao produtor”, analisa Lucas De Mora Bezerra, da equipe HF Brasil/Cepea.
Fluxos comerciais
🛳️A medida tende ainda a desorganizar os fluxos comerciais internacionais.
“Com a retração das exportações aos EUA, frutas que seriam destinadas ao mercado norte-americano podem ser redirecionadas à União Europeia ou absorvidas pelo mercado brasileiro, gerando um cenário de acúmulo de frutas nos canais tradicionais de comercialização e pressionando os preços ao produtor”, analisa o Cepea.
Persistem também incertezas quanto às importações brasileiras de frutas frescas, tanto em volume quanto em origem, frente à nova conjuntura global.
Carne bovina é um dos produtos que Brasil vende tanto aos EUA quanto à China
Getty Images via BBC
🐂Carne bovina: Os Estados Unidos são o segundo maior comprador da carne bovina brasileira, respondendo por 12% das exportações, atrás apenas da China, que concentra 49% do total embarcado pelo Brasil.
“Dados da Secex mostram que, em junho, o volume adquirido pelos norte-americanos já foi o menor desde dezembro do ano passado, mas as exportações totais de carne bovina brasileira tiveram o segundo melhor resultado do ano, beirando as 270 mil toneladas”, observam os pesquisadores.
📃Leia mais
Agroindústria, metal e logística: entenda como tarifaço pode impactar setores em SP
Infográfico – Lista de isenções ao tarifaço de Trump
Arte/g1
Veja mais notícias sobre a região no g1 Piracicaba