Pinheiros, eucaliptos e palmeiras prejudicam o Cerrado? Entenda por que o DF está trocando essas árvores por espécies nativas


Imagem ilustrativa de eucalipto, palmeira-imperial e pinheiro
Reprodução/Paulo Chiari/Debora Amorim
O Jardim Botânico de Brasília deve começar a substituir, nesta segunda-feira (4), os tradicionais pinheiros do parque por espécies nativas.
Medida similar, aliás, já foi tomada no Parque da Cidade, onde um acidente com um pinheiro deixou um adolescente tetraplégico em 2022.
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A mudança divide opiniões entre os moradores da capital, acostumados a essas árvores na paisagem e na “memória afetiva”. Há diversos fatores, no entanto, que levaram o governo e a administração desses parques a propor a troca.
Para além do risco de queda das árvores mais velhas, há problemas específicos com essas espécies de plantas.
O pinheiro prejudica a flora e fauna nativa, por ser uma espécie invasora e exótica no Cerrado. Além deles, palmeiras-imperiais e eucaliptos também não são árvores nativas, mas podem ser vistas em vários locais do Distrito Federal.
Mesmo sendo “invasores”, especialistas ouvidos pelo g1 explicam que pinheiros e eucaliptos “sempre vão precisar existir” no DF (entenda mais abaixo).
Além da retirada dos pinheiros no Jardim Botânico, a Novacap – responsável pela arborização da capital – informa que, por enquanto, não prevê substituir árvores em outras regiões da capital.
Pinheiros, palmeiras-imperiais e eucaliptos são prejudiciais?
Daniel Costa de Carvalho, professor de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília (UnB), afirma que as espécies exóticas e invasoras são prejudiciais à flora e à fauna nativa do Cerrado.
Não é recomendado que elas sejam plantadas nem em espaços urbanos, pois podem se dispersar para áreas naturais e competir com as espécies nativas locais.
🔍 Espécies exóticas são organismos introduzidos em ambientes fora de sua área de distribuição natural, geralmente por ação humana.
🔍 Espécies invasoras são exóticas que se estabelecem, se espalham rapidamente e causam impactos negativos ao meio ambiente, à economia ou à saúde.
👉 O professor explica que o plantio dessas espécies, principalmente dos eucaliptos e pinheiros, “vai sempre existir”, porque dependemos delas para obter insumos e produtos.
👉 Ele destaca que, para evitar os efeitos negativos, é preciso estar atento aos planos de controle de invasão biológica.
Jardim Botânico de Brasília vai substituir pinheiros tradicionais por árvores nativas
Efeitos de cada espécie no Cerrado
Veja abaixo os efeitos das espécies invasoras no Cerrado, sengundo o professor Daniel Costa de Carvalho.
Pinheiros
🌱 Invadem áreas de Cerrado e se espalham sem controle natural.
🚫 Não têm predadores nativos, o que facilita sua disseminação.
🌿 Competem com plantas nativas, dificultando seu crescimento.
❌ Reduzem a variedade de plantas que crescem próximas ao solo.
🧪 Podem liberar substâncias químicas que atrapalham outras plantas (efeito ainda não totalmente comprovado para espécies nativas).
🌍 Alteram o solo, mudando pH, acidez, matéria orgânica e a vida microbiana.
🔄 Prejudicam a regeneração natural da vegetação do Cerrado.
Eucaliptos
💧 Reduzem a umidade do solo, especialmente em áreas secas ou arenosas.
🚱 Diminuem a recarga do lençol freático, por causa da copa densa que impede a infiltração da água.
🏞️ Podem secar nascentes e córregos, em grandes plantações sem manejo adequado.
🌊 Reduzem o escoamento da água na superfície, principalmente com preparo intensivo do solo.
🌿 Não oferecem alimento para a fauna, pois seus frutos não têm polpa nem valor nutritivo.
🐸 Podem drenar áreas úmidas, prejudicando a fauna nativa, especialmente os anfíbios.
🧪 Podem liberar substâncias químicas que atrapalham outras plantas (efeito ainda não totalmente comprovado para espécies nativas).
🌍 Alteram o solo, mudando pH, acidez, matéria orgânica e a vida microbiana.
🔄 Podem dificultar a regeneração de plantas nativas, dependendo do local e do manejo.
Palmeiras-imperiais
🌱 Competem com plantas nativas por água e nutrientes do solo.
🧑‍🌾 São usadas principalmente para paisagismo, em plantios homogêneos e com fins comerciais.
🏙️ Causam poucos impactos em áreas urbanas, quando plantadas de forma isolada.
🐦 Servem de abrigo para araras e aves grandes, o que pode ser positivo.
🐾 Atraem animais como gambás e cuícas, podendo causar desequilíbrio ecológico.
🌴Podem ser substituídas por palmeiras nativas, já que o Brasil tem uma das maiores diversidades do mundo.
Imagens ilustrativas das árvores: sucupira-preta, pau-pombo, quaresmeiras, gonçalo-alves, palmeira-jerivá e landim
Reprodução/ Internet
Árvores nativas poderiam substituir as espécies exóticas?
Daniel Costa lista algumas espécies nativas do Cerrado que proporcionam beleza e são funcionais para o bioma do DF (veja fotos acima). São elas:
sucupira-preta
pau-pombo
quaresmeiras
gonçalo-alves
palmeira-jerivá
landim
Por que essas espécies foram plantadas no DF?
Nos anos 1970, o governo federal incentivou o reflorestamento com espécies exóticas por meio da Lei 5.106/66. A intenção? Produzir madeira em larga escala.
Isso fez o Brasil plantar milhões de hectares de pinheiros, inclusive em áreas próximas ao Cerrado.
Também foram plantados eucaliptos – por sua alta produtividade de madeira e uso comercial na produção de celulose e carvão vegetal, e também como barreira contra ventos e poeira em áreas urbanas e rurais.
A palmeira-imperial foi introduzida no Brasil como símbolo de status e beleza durante o período imperial, sendo associada à nobreza e ao paisagismo de jardins formais.
No Distrito Federal, ela foi plantada principalmente por influência do paisagismo clássico, inspirado por nomes como Burle Marx, que buscavam criar uma estética imponente e elegante em espaços públicos e avenidas.
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