
Bailarina com deficiência visual dá aulas em Alvorada
Em uma sala improvisada no bairro Americana, em Alvorada, Região Metropolitana de Porto Alegre, a professora Gislaine Figueiredo transforma cada passo de dança em um ato de resistência e inspiração. Sem nunca ter enxergado, ela aprendeu a ver o mundo através do movimento, da arte e da leveza do balé clássico.
“O balé é arte, é movimento, é leveza. Se tivesse que descrever para quem não pode ver nem tocar, eu diria: é liberdade”, declara ela.
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Gislaine conheceu o balé aos 13 anos, quando descobriu um projeto voltado para pessoas com deficiência visual na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre. A paixão foi imediata. “Encantamento total”, lembra.
A experiência foi tão transformadora que ela decidiu seguir carreira como bailarina. Depois de sua primeira temporada, Gislaine retornou a Alvorada e encontrou no projeto Culto Arte, liderado pela professora de dança Jack Navarro, um novo espaço para se expressar pela dança. Determinada, ela apresentou à coordenadora um grupo de alunas com diferentes deficiências.
“Vamos dançar balé juntas?”, propôs a dançarina, incentivando. “Eu sei que é diferente, mas também sei que vocês gostam de um desafio. Vamos trabalhar juntas e tentar fazer acontecer.”
Gislaine conheceu o balé aos 13 anos, quando descobriu um projeto voltado para pessoas com deficiência visual na Casa de Cultura Mario Quintana
Fayller Aprato/RBS TV
Inspirando novas gerações
Hoje, Gislaine ensina balé para meninas da comunidade, muitas das quais jamais imaginaram que poderiam dançar. As aulas são gratuitas. A dedicação da professora encanta alunas e pais.
Um exemplo é a pequena Geovanna de Souza Fiuza, de 10 anos, que sonha em ser professora de balé clássico. “A professora bailarina é maravilhosa”, diz.
Eduarda Machado Santos, de 9 anos, vê em Gislaine uma inspiração.
“Ela se supera. Mesmo sendo deficiente visual, dá uma aula maravilhosa. Quero ser como ela um dia”, comenta.
A mãe de Eduarda, Lilian, conta que só descobriu a deficiência visual da professora após o início das aulas. “Ela ensina com gestos, encosta nas meninas. É tão bonito. Isso encanta.”
Embora colecione conquistas, Gislaine afirma que também enfrenta desafios diários.
“Na vida, sempre tem portas fechadas. Todo dia é um teste. Preciso provar que sou capaz de trabalhar, estudar, andar sozinha, dar aula de dança”, relata.
Ela lida com perguntas recorrentes sobre sua autonomia, mas responde com paciência e firmeza. “Tem pessoas que aprendem e entendem. Outras não conseguem compreender. E está tudo bem também”.
A bailarina já participou de espetáculos e festivais e hoje se dedica a ensinar o que aprendeu — com amor, leveza e liberdade. As aulas de balé são oferecidas gratuitamente no projeto Culto Arte, na sede da Associação de Moradores da Vila Agriter, no bairro Americana, e acolhem crianças com e sem deficiência, promovendo inclusão e empatia através da dança.
Aulas são gratuitas na periferia de Alvorada
Fayller Aprato/RBS TV
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