
Primeira manhã de uso exclusivo do Jaé é marcado por dúvidas e dificuldades de passageiros no Rio
O primeiro dia de uso obrigatório do cartão Jaé no transporte público municipal do Rio de Janeiro foi marcado por longas filas, desinformação e dificuldades técnicas. Essa é a avaliação da Comissão de Assuntos Urbanos da Câmara Municipal, que durante fiscalização realizada nesta segunda-feira (4) encontrou casos de espera superiores a 1h30 em postos de atendimento, especialmente para retirada e recarga do novo cartão.
Coordenada pelo vereador Pedro Duarte (Novo), presidente da comissão, a vistoria envolveu sete equipes em 13 pontos da cidade.
Apesar de reconhecer avanços na implementação do sistema, o grupo identificou uma série de entraves que, segundo Duarte, impedem que o Jaé seja adotado como único meio de pagamento neste momento.
“Vamos juntar tudo isso e falar para a prefeitura que não dá para colocar exclusividade do Jaé enquanto isso não se resolve. Em relação à integração, entre os modais (do estado e do município), por exemplo, a população não pode pagar o pato porque a prefeitura e o governo do estado não se entendem”, afirmou o vereador.
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Principais problemas
A fiscalização da Comissão de Assuntos Urbanos identificou os seguintes problemas nos pontos visitados:
Jardim Oceânico (BRT): fila com mais de 50 pessoas sob o sol; apenas um atendente do Jaé e funcionários da SEOP sem preparo.
Terminal Gentileza: espera de 30 minutos, apesar de estrutura com cadeiras.
Campo Grande (Supercentro do Jaé): filas grandes e pouca informação; reclamações sobre reembolso do RioCard.
Madureira: falhas em máquinas de recarga e guichês; filas de 45 minutos.
Botafogo (Dona Mariana): fila de mais de 1h30 com aglomeração; usuários desistiram do atendimento.
Botafogo (Praça Nelson Mandela): problemas na validação de cartões; venda de cartões unitários via Pix gerou revolta.
Barra da Tijuca (Terminal Alvorada): usuários sem informação; recargas não apareciam no saldo; cartões não entregues após 15 dias.
Deodoro: máquina indisponível e contêiner lacrado; atendimento transferido para a Vila Olímpica.
Bangu: falta de validadores na Nave do Conhecimento de Padre Miguel, apesar de ser um ponto de retirada de cartões do Jaé.
São Cristóvão e Méier: sem maiores problemas.
Usuários do Jaé enfrentam fila no Posto da Dona Mariana, em Botafogo.
Divulgação
Como funciona o Jaé
O Jaé é o novo sistema de bilhetagem da Prefeitura do Rio, que substitui o Riocard nos transportes municipais. Desde sábado (2), apenas o Jaé permite integração entre ônibus municipais e metrô. O cartão físico pode ser retirado em postos ou substituído por um QR Code gerado no aplicativo.
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No primeiro dia útil de operação exclusiva, foram registrados mais de 1 milhão de embarques com o Jaé — quase três vezes mais que na semana anterior. No entanto, muitos passageiros enfrentaram dificuldades, especialmente na integração com modais estaduais e no uso do aplicativo.
A dona de casa Aline Alves, moradora de Nova Iguaçu, relatou que o Bilhete Único Intermunicipal não funcionou, obrigando-a a pagar a passagem em dinheiro.
“Eu sempre venho com cartão, mas, por sorte, coloquei dinheiro na bolsa porque eu nem sei quanto que custa a passagem porque só uso o cartão”, contou Aline.
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Já a técnica de enfermagem Sônia Batista precisou ir pessoalmente ao posto após falhas no aplicativo. O salva-vidas Paulo Renato Paiva tentou fazer o cadastro pela segunda vez, após esperar mais de cinco horas na sexta-feira.
“Eu estou saindo de um plantão de 36 horas e tive que vir aqui pessoalmente porque pelo aplicativo eu não consegui”, contou a técnica de enfermagem Sônia Batista.
“Eu estive aqui na sexta-feira e fiquei mais de 5 horas aqui e não consegui fazer o cadastro. Hoje está demorando mais de 40 minutos cada número para fazer o cadastro”, relatou Paulo Renato.
A Secretaria Municipal de Transportes afirma que o Bilhete Único Intermunicipal ainda pode ser usado nas integrações e que funcionários estão nos principais terminais para orientar os passageiros.
O prefeito Eduardo Paes reconheceu problemas pontuais, mas disse que “a operação está indo bem”.
A reportagem do g1 entrou em contato com a Secretaria Municipal de Transportes do Rio de Janeiro para ouvir a Prefeitura do Rio sobre os problemas apontados pela Comissão de Assuntos Urbanos da Câmara Municipal. Contudo, até a última atualização desta reportagem não houve retorno.
Posto do Jaé ficou lotado na manhã desta segunda-feira (4) em Botafogo
Reprodução/ TV Globo