
Justiça de SP determina transferência de Tuta, líder do PCC, para Penitenciária de Presidente Venceslau
O Tribunal de Justiça de SP (TJ-SP) autorizou a transferência do traficante Marcos Roberto de Almeida, conhecido como Tuta, para o sistema penitenciário estadual de São Paulo.
A decisão do juiz aconteceu na última sexta-feira (1°), quando o magistrado determinou a notificação do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), a Justiça Federal e a Polícia Federal para coordenarem a transferência.
Considerado um dos chefes do PCC e substituto de Marcola na liderança da organização criminosa, Tuta deve ser levado para a Penitenciária de Presidente Venceslau, unidade de segurança máxima do estado.
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Tuta foi preso em maio na cidade de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, e levado pela Polícia Federal (PF) para o presidio federal de Brasília há quase três meses.
Desde então, havia essa expectativa para a transferência dele para São Paulo, já que as condenações até o momento foram da Justiça paulista.
No Brasil, Marcos Roberto de Almeida tem duas prisões decretadas em investigações do Ministério Público de São Paulo. Ele foi um dos principais alvos da Operação Sharks, deflagrada em 2020, quando fugiu do Brasil e passou a constar como foragido na lista da Interpol.
Imagens e documentos exclusivos mostram como Tuta se tornou um dos chefes do PCC
Nas últimas semanas, tanto o MP-SP quanto a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) se manifestaram favoráveis à transferência de Tuta para o sistema penitenciário paulista.
No processo, a SAP informou “não identificar motivos ou elementos concretos aptos a justificarem a inclusão definitiva do encarcerado no sistema federal para o interesse da segurança pública bandeirante”.
O Ministério Público também opinou no mesmo sentido e se mostrou favorável pela transferência do recluso para uma das unidades prisionais de segurança máxima de Presidente Venceslau.
Como foi a prisão na Bolívia
Bolívia prende chefe do PCC foragido da Justiça brasileira
Tuta é apontado pelo MP de SP como novo número 1 da facção criminosa Primeiro Comando da Capital, o PCC, e foi preso na Bolívia em 16 de agosto.
Ele estava foragido há cinco anos e foi capturado na sexta-feira (16) na cidade de Santa Cruz de la Sierra com documentos falsos, segundoa Polícia Federal. A prisão foi feita pela Fuerza Especial de Lucha contra el Crimen, da Bolívia.
Ele é considerado o sucessor de Marcola, o chefe máximo da facção que está preso no sistema penitenciário federal e cumpre penas de mais de 300 anos.
A polícia boliviana informou que o homem detido se apresentou como Maycon Gonçalves da Silva, nascido em 25 de março de 1971, em um centro comercial da cidade, para tentar renovar a Cédula de Identidade de Estrangeiro (CEI), documento necessário para não bolivianos que residem no país.
Polícia da Bolívia prende Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, chefe do PCC foragido da Justiça brasileira, nesta sexta-feira (16).
Foto cedida por Ariel Melgar/El Deber
Ao consultar o sistema internacional de estrangeiros, surgiu um alerta indicando que se tratava de um procurado pela Interpol. A PF, então, foi comunicada.
Marcos Roberto de Almeida permanece preso, sob suspeita de uso de documentos falsos e falsidade ideológica.
Segundo a PF, até a noite de sexta, o suspeito seguia sob custódia das autoridades bolivianas, aguardando a confirmação de sua identidade e os procedimentos legais que podem resultar em sua expulsão e extradição ao Brasil.
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PERFIL: Quem é Tuta, substituto de Marcola no PCC e preso na Bolívia
Tuta tem duas prisões decretadas e já foi condenado
Preso pela PF, Tuta é considerado o substituto de Marcola no comando do PCC
Reprodução
No Brasil, Marcos Roberto de Almeida tem duas prisões decretadas em investigações do Ministério Público de SP. Ele foi um dos principais alvos da Operação Sharks, deflagrada em 2020, quando fugiu do Brasil e passou a constar como foragido na lista da Interpol.
À época, o MP de São Paulo confirmou que Tuta havia assumido o comando do PCC após a transferência de Marcola para um presídio federal, em fevereiro de 2019.
O criminoso já foi condenado em primeira instância por organização criminosa, com pena de 12 anos e seis meses de prisão. Responde ainda a outro processo por organização criminosa e lavagem de dinheiro.
“O Marcos Roberto, vulgo Tuta, já era da sintonia de 1, mas não era o número 1 do PCC. Com a remoção do Marcola, ele foi elencado, nominado pelo Marcola para ser o novo n° 1 do PCC, tanto dentro como fora dos presídios. É um velho conhecido nosso. Só que, em liberdade, ele atingiu o status, seria o novo Marcola na nossa concepção”, explicou na ocasião o promotor Lincoln Gakiya, que investiga o PCC há décadas em São Paulo.
Marcola, chefe do PCC, está preso no sistema penitenciário federal desde 2019
Arquivo/TV Fronteira
Nova estrutura do PCC
O novo organograma da cúpula do PCC em São Paulo, apresentado pelo Ministério Público de SP nesta segunda-feira (14).
Reprodução
Em 2020, após a primeira fase da Operação Sharks, o MP paulista identificou os 21 suspeitos de integrar a nova cúpula do PCC.
Entre eles estava Tuta, que fazia parte da cúpula, chamada de Sintonia Final da Rua. Alvos foram identificados na Bolívia, no Paraguai e até na África.
Segundo o então procurador-geral de Justiça, Mário Luiz Sarrubbo, Tuta assumiu o comando do PCC por escolha do próprio Marcola.
Ele estava foragido e chegou a ser identificado, na época, como ocupante de um cargo de adido no consulado de Moçambique em Belo Horizonte. Seria uma estratégia para ocultar sua identidade.
O termo “adido” é usado para designar um agente diplomático que não é um diplomata de carreira.
“A partir da remoção [para o sistema federal], as ordens passaram a ser nas ruas. E um dos indivíduos, Marcos Roberto, vulgo Tuta, ele assumiu a função do Marcola. É um indivíduo que tem contato em consulado, que transita no país e fora do país. É uma operação hoje que a ordem não está mais centralizada dentro do presídio, mas na rua. Por isso a importância da operação de hoje”, afirmou o promotor Lincoln Gakiya.
Além dele, o Ministério Público identificou outros 20 nomes que fazem parte da nova cúpula da facção.
Entre eles três nomes que seriam o braço financeiro da organização criminosa. Eles administram o dinheiro oriundo do tráfico feito belo bando. Entre os nomes que fazem parte do braço financeiro está uma mulher: Carla Luy Riciotti Lima, além de Robson Sampaio Lima e José Carlos de Oliveira.
Operação em 2020 mirou nova cúpula do PCC
Deflagrada em fevereiro de 2020, a Operação Sharks teve como objetivo prender membros da nova cúpula do PCC. Foram cumpridos 12 mandados de prisão, além de 40 de busca e apreensão.
A força-tarefa envolveu oito promotores e mais de 250 policiais militares.
Três pessoas foram presas na ocasião. A polícia também apreendeu explosivos, armas e carros de luxo usados pela organização.
Durante as buscas, os investigadores encontraram mais de R$ 100 mil em dinheiro vivo.
Explosivos encontrados no endereço de um dos alvos da operação
Divulgação/MP-SP
A operação também desmantelou um esquema de lavagem de dinheiro feito por meio de dólar-cabo, operação informal de câmbio sem registro no sistema financeiro.
Planilhas apreendidas indicaram que a facção movimentava cerca de R$ 100 milhões por ano, com lucros vindos principalmente do tráfico de drogas e da arrecadação entre integrantes.
Para ocultar valores, os investigados compravam veículos e usavam fundos falsos em casas e apartamentos. As transferências eram feitas por meio de doleiros.
Operação investiga facção criminosa que movimenta R$100 milhões por ano