
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, pediu o leste da Ucrânia em troca do fim da guerra na proposta apresentada aos Estados Unidos na quarta-feira (6), de acordo com o “Wall Streeet Journal”.
De acordo com autoridades europeias e ucranianas ouvidas pelo jornal americano, a oferta foi feita em seu encontro com o enviado especial de Washington, Steve Witkoff, e desencadeou uma disputa diplomática.
Autoridades europeias expressaram sérias reservas à proposta, que exigiria que a Ucrânia entregasse a região conhecida como Donbass, sem que a Rússia se comprometesse com mais nada além de cessar os conflitos.
Também existe, segundo a reportagem, o temor de que Putin esteja simplesmente usando a oferta como uma manobra para evitar a punição dos EUA com novas sanções e tarifas enquanto continua a guerra.
Zelensky acusa Rússia de ignorar ultimato
Volodymyr Zelensky
Telegram / Reprodução
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou que a Rússia está ignorando o prazo dado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para um acordo com Kiev.
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Em um post no Telegram nesta sexta-feira (8), último dia do ultimato de 10 dias estabelecido pelo republicano a Putin para não impor novas sanções e grandes tarifas ao governo russo, o ucraniano enumerou uma série de ataques que o país teria sofrido apenas nas últimas horas.
“Foi estabelecido um prazo para a Rússia cessar o fogo. Vemos que os russos não estão levando isso em consideração – pelo menos por enquanto. Hoje, novamente, houve assassinatos, bombardeios russos. Mais de cem drones de ataque foram lançados contra a Ucrânia durante a noite e, ao longo do dia, houve ataques com bombas aéreas, ofensivas intensas na linha de frente, novos alertas de ataques aéreos em nossas cidades e comunidades. Ou seja, continua a caça russa contra civis. Isso é destruição consciente de vidas. Nenhuma ordem foi dada ao exército russo para parar”, disse.
Pouco antes, na mesma rede social, Zelensky contou que havia acabado de conversar com o primeiro-ministro da República Tcheca sobre o assunto e que o telefonema foi um dos “muitos contatos” feitos nos últimos dias.
O ucraniano também afirmou que segue seu “trabalho ativo de negociações com os parceiros para que haja uma posição comum em prol de uma paz confiável” e que pediu aos aliados que apoiem os esforços do governo dos EUA:
“Todos estão unidos pela ideia de que a guerra precisa acabar e que a Europa deve desenvolver uma posição comum sobre cada aspecto importante da segurança. Os Estados Unidos estão determinados a alcançar um cessar-fogo, e devemos apoiar juntos todos os passos construtivos. Uma paz digna, confiável e duradoura só pode ser o resultado de um esforço conjunto”.
Encontro na semana que vem
Trump e Putin
Reuters
Segundo o jornal americano “The New York Times”, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse a aliados que planeja se encontrar pessoalmente com o líder russo, Vladimir Putin, já na próxima semana.
O plano seria que os dois se reunissem posteriormente com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Não está claro se a reunião incluiria um anúncio de cessar-fogo entre os dois países, em guerra aberta desde 2022.
Putin e Zelensky não conversaram diretamente nenhuma vez desde o início dos combates, há cerca de três anos e meio.
Nesta quarta-feira (6), o presidente russo e o enviado especial dos Estados Unidos, Steve Witkoff, se reuniram em Moscou. Segundo Trump, o encontro foi “altamente produtivo” e gerou “grande progresso”. Já os russos chamaram a reunião de “útil e construtiva”, e que houve uma “troca de sinais” entre Moscou e Washington.
“Meu enviado especial, Steve Witkoff, acabou de ter uma reunião altamente produtiva com o presidente russo Vladimir Putin. Grandes avanços foram alcançados! Depois disso, atualizei alguns de nossos aliados europeus. Todos concordam que esta guerra precisa chegar ao fim, e trabalharemos para isso nos próximos dias e semanas”, afirmou Trump em sua rede social Truth Social horas após o fim da reunião.
A reunião entre o líder russo e o representante americano ocorreu dois dias antes do fim do ultimato estabelecido por Trump para que a Rússia termine a guerra na Ucrânia, sob ameaças de impor “tarifas severas” de 100% sobre os russos e seus parceiros comerciais.
Trump não entrou em detalhes sobre possíveis progressos no impasse entre EUA e Rússia, porém o encontro não mudou a posição da Casa Branca sobre as “tarifas severas” de 100% que Trump prometeu aos russos, afirmou um oficial do governo americano à agência de notícias Reuters.
O assessor de Putin, Yury Ushakov, foi a primeira autoridade dos dois países a se manifestar após a reunião, que durou cerca de três horas. Ele adotou tom otimista e afirmou que houve uma “troca de sinais” entre os governos americano e russo, porém sem dar mais detalhes do que isso significaria. Os russos tendem a buscar um adiamento na imposição de sanções, marcadas para esta sexta-feira (8).
“O enviado especial do presidente dos EUA, Steve Witkoff, foi recebido pelo nosso presidente nesta manhã. Eles tiveram uma conversa bastante útil e construtiva (…) Eles discutiram a crise na Ucrânia e as perspectivas de desenvolvimento da parceria estratégica entre Rússia e EUA. Da nossa parte, enviamos alguns ‘sinais’, e também recebemos alguns sinais de Trump”, afirmou o assessor do Kremlin, Yury Ushakov, a jornalistas.
Enviado de Trump se encontra com Putin perto de expirar ultimato
Escalada de tensões EUA-Rússia
O encontro entre Putin e Witkoff ocorreu em uma sala no Kremlin, em Moscou, e durou cerca de três horas. Assessores do governo russo, como Ushakov e Dmitriev, também estiveram presentes. O aperto de mão com sorrisos entre líder russo e o emissário de Trump no início do encontro contrastaram com a atual fase nas relações EUA-Rússia, de escalada de tensões e ameaças.
O emissário, braço direito de Trump em missões de paz, já havia se reunido em várias ocasiões com Putin, sem conseguir um acordo para o fim da guerra.
As relações entre Moscou e Washington ficaram ainda mais tensas desde a semana passada, depois que Trump enviou dois submarinos nucleares em resposta a ameaças do ex-presidente russo Dmitri Medvedev com o sistema nuclear apocalíptico “Mão Morta”.
A decisão de Trump de impor tarifas adicionais à Índia, por comprar petróleo da Rússia, também não agradou Moscou.
O republicano, que iniciou o segundo mandato em janeiro com a promessa de acabar com a guerra na Ucrânia em poucos dias, está cada vez mais frustrado com Putin.
O presidente russo pede que a Ucrânia ceda quatro regiões parcialmente ocupadas (Donetsk, Lugansk, Zaporizhzhia e Kherson), além da Crimeia, anexada em 2014, e que o país renuncie ao fornecimento de armas ocidentais e ao projeto de adesão à Otan. Kiev considera as condições inaceitáveis.
Putin afirmou na sexta-feira que deseja a paz, mas se recusa a reduzir suas exigências.