Empresário tatua foto do irmão que morreu em desastre aéreo da Voepass: ‘Quis eternizar para ter ele ao meu lado sempre’


Empresário tatua o rosto do irmão que morreu em desastre aéreo da Voepass
O empresário e piloto da Copa Truck, Jaidson Zini encontrou na tatuagem uma forma de manter viva a memória do irmão, Antônio Deoclides Zini Júnior. Antônio e a esposa, Karine Gavlik Pessoa Zini, foram duas das 62 vítimas do desastre aéreo em Vinhedo (SP). A aeronave, que fazia o trajeto entre Cascavel, no oeste do Paraná, e Guarulhos, em São Paulo, caiu no dia 9 de agosto de 2024. Não houve sobreviventes.
“Eu quis eternizar para ter ele do meu lado para sempre, mesmo que seja numa imagem”, disse Jaidson.
Na tatuagem, feita na perna direita, Jaidson reuniu duas paixões que sempre o ligaram ao irmão: o futebol e os caminhões.
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“Eu e ele sempre tivemos uma ligação muito forte. Quando ele queria ser jogador de futebol, era eu quem levava ele para os treinos”, contou.
Jaidson e Antônio trabalhavam juntos na transportadora da família. Os pais Deuclides e Odiles tiveram quatro filhos. Antônio era o caçula e vivia o auge da carreira, segundo o irmão.
“Ele era muito dedicado, um cara de coração ímpar, muito família. Estava no melhor momento da vida dele”, diz Jaidson.
Na data do acidente, Antônio e Karine viajavam de Cascavel para São Paulo, onde embarcariam em outro voo com destino à Alemanha. Segundo a família, Karine, que era terapeuta, faria um curso no país europeu.
Os dois filhos do casal, que costumavam viajar com os pais, ficaram em Cascavel com os tios naquele dia.
Para a família, o luto ainda é um processo difícil. “Agora que os filhos deles completaram 10 e 12 anos, a gente tenta preservar eles. A minha mãe, como fica mais em casa, tem recaídas… Meu pai, então… fala do Antônio 15, 20 vezes por dia”, contou Jaidson.
Jaidson tautou o rosto do irmão na perna
RPC Cascavel
O acidente
Imagem feita por drone mostra trabalho das equipes de emergência em local da queda do avião da Voepass em Vinhedo (SP), em 10 de agosto de 2024.
Carla Carniel/ Reuters
O avião da Voepass decolou de Cascavel às 11h58, com 18 minutos de atraso. O pouso em Guarulhos estava previsto para as 13h50, mas a aeronave caiu enquanto sobrevoava Vinhedo (SP), a menos de 30 minutos do destino final.
Todas as 62 pessoas a bordo morreram. Entre os passageiros, 35 eram do Paraná — 22 da cidade de Cascavel.
As causas do acidente seguem em apuração pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) e pela Polícia Federal.
Segundo o Cenipa, havia condições para formação de gelo severo na rota, com temperaturas chegando a -50 °C.
As investigações apontam que o acúmulo de gelo nas asas comprometeu a sustentação da aeronave, que perdeu velocidade e despencou após uma curva acentuada para a direita — momento considerado crucial antes do início do procedimento de pouso.
Ainda conforme os investigadores, há indícios de falha no sistema que remove o gelo das asas. Um comandante que pilotou o mesmo avião na madrugada do acidente relatou verbalmente a falha, mas a ocorrência não foi registrada no diário de bordo.
“Se o registro tivesse sido feito, a aeronave não poderia ter voado em uma rota com risco de formação de gelo”, afirmou um ex-funcionário sob condição de anonimato.
O Cenipa também apura por que os pilotos não declararam emergência nem reduziram altitude, medidas recomendadas pelo manual da aeronave após sinais de alerta.
“Mesmo com equipamentos falhando, existem procedimentos para evitar acidentes”, afirmou o brigadeiro Moreno, especialista ouvido durante as investigações.
O que diz a Voepass
Em nota, a Voepass afirmou que a queda do voo 2283 foi o episódio mais difícil da história da empresa e que, um ano depois, continua solidária às famílias das vítimas e “compartilhando uma dor que permanece presente em nossa memória”.
Confira a nota na íntegra:
“No dia 9 de agosto de 2024, vivemos o episódio mais difícil de nossa história. A queda do voo 2283, na região de Vinhedo (SP), resultou em perdas irreparáveis. Um ano depois, seguimos solidários às famílias das vítimas, compartilhando uma dor que permanece presente em nossa memória. Em mais de 30 anos de operações na aviação brasileira, jamais havíamos enfrentado um acidente.
A tragédia nos impactou profundamente e mobilizou toda a nossa estrutura, humana e institucional, para garantir apoio integral às famílias, nossa prioridade. Nas primeiras horas após o acidente, formamos um comitê de gestão de crise e trouxemos profissionais especializados — psicólogos, equipes de atendimento humanizado, autoridades públicas, seguradoras, além de suporte funerário e logístico.
Temos atuado de forma transparente junto às autoridades públicas e seguimos fortemente dedicados a resolução das questões indenizatórias o quanto antes, neste aspecto com estágio bastante avançado das indenizações restantes. Mantemos o suporte psicológico ativo e continuamos apoiando homenagens realizadas pelas famílias ao longo deste ano. Nos solidarizamos com toda a forma de homenagem às vítimas do acidente.
Sobre a apuração das causas do acidente, reiteramos nossa confiança no trabalho do Cenipa, com o qual temos colaborado desde o início das apurações, e reforçamos que a investigação de um acidente aéreo é um processo complexo, que envolve múltiplos fatores e requer tempo para ser conduzida de forma adequada. Somente o relatório final do Cenipa poderá apontar, de forma conclusiva, as causas do ocorrido.
Cabe lembrar que o relatório preliminar divulgado pelo órgão em setembro de 2024 confirmou que a aeronave do voo 2283 estava com o Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA) válido, e com todos os sistemas requeridos em funcionamento. A atuação da empresa esteve sempre pautada em padrões de segurança internacionais, contando inclusive com a certificação IOSA, um requisito de excelência operacional emitido apenas para empresas auditadas IATA, além de ter o acompanhamento periódico da Anac como agência reguladora. Em três décadas de atuação, em um setor altamente regulado, a segurança dos passageiros e da tripulação sempre foi a prioridade máxima da companhia.
Agimos sempre com responsabilidade, humanidade e empatia. Nossa solidariedade permanece firme e com respeito e sensibilidade a dor dos familiares das vítimas, e com toda a sociedade brasileira.”
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