Você é papa-peixes? Depende da cidade onde nasceu; entenda como gentílicos são formados (e faça QUIZ)

Papa-peixes, palmense, florianopolitano… Qual o gentílico para quem nasceu na sua cidade?
Você é papa-peixes? Ou palmense? Estamos no g1, não no GE — esses não são, portanto, apelidos para um rival do Santos ou para um torcedor do Palmeiras. As respostas nada têm a ver com futebol: elas estão na sua certidão de nascimento ou no seu RG.
➡️Papa-peixes, palmense, soteropolitano, manauara e paulistano são exemplos de gentílicos, ou seja, de adjetivos que definem quem nasceu em determinado território.
A Academia Brasileira de Letras (ABL) cataloga, em seu site, quais palavras designam os nativos de cada um dos 5.570 municípios e 26 estados do Brasil, além do Distrito Federal e de todos os países e capitais do mundo.
Antes de descobrir curiosidades sobre o processo de formação de gentílicos, faça o quiz abaixo e teste seus conhecimentos referentes a capitais brasileiras.
Papa-peixes é quem nasce em…? Teste seus conhecimentos em gentílicos
📌 Qual é a regra para formar um gentílico?
“A função da ABL não é estabelecer o certo e o errado, e sim registrar os termos que estão sendo usados de maneira consistente”, afirma Ricardo Cavaliere, filólogo e linguista, membro da Academia. “Ainda não incluímos ‘manezinho’, por exemplo, para quem nasce em Florianópolis, porque não percebemos um uso expressivo na língua escrita. Esse é um fator importante no registro.”
A formação dos gentílicos na língua portuguesa não segue uma regra fixa ou universal:
A maioria parte da união de um topônimo (nome do lugar) com um sufixo.
É o caso de “ão” (alemão, letão, catalão), “ense” (catarinense, palmense) e “ano” (pernambucano, sergipano), por exemplo.
“Determinados sufixos têm pouca produtividade, ou seja, poucos gentílicos formados por eles, como o ‘ol’, que aparece em espanhol ou mongol”, diz Cavalieri.
O linguista explica um caso definido por ele como “especialíssimo”: o termo brasileiro não designava, originalmente, a relação de naturalidade ou nacionalidade.
“O sufixo -eiro, em geral, indica profissões — como em camareiro ou açougueiro. No Brasil, como aqueles que trabalhavam com o pau-brasil eram chamados de brasileiros, o termo passou a indicar nacionalidade também.”
Alguns gentílicos são criados pelo povo, no uso cotidiano e consistente.
Para ser registrado pela ABL, o termo precisa ser estável ao longo do tempo e estar registrado com frequência em diferentes meios de comunicação (jornais, artigos científicos, livros literários etc.). “Papa-peixes”, para os nativos de Cuiabá, obedeceu a todos esses critérios.
Há também casos de criação erudita, como:
a) “fluminense”, para quem nasce na cidade do Rio de Janeiro — “flumen” é “rio”, em latim;
b) “soteropolitano”, para se referir a quem é de Salvador — “soteros” (σωτήρ), significa “salvador” em grego ou “aquele que salva”. Polis (πόλις) quer dizer “cidade”.
Curiosidades
✏️Um mesmo lugar pode ter dois gentílicos.
Rio Grande do Sul, por exemplo, tem o tradicional “gaúcho” e também o “sul-rio-grandense”.
✏️ A capital do Haiti, Porto Príncipe, não tem um gentílico registrado oficialmente pela ABL.
Em nenhuma das fontes consultadas — como o Itamaraty, o Código de Redação da União Europeia ou publicações acadêmicas —, aparece uma forma consagrada para se referir aos nascidos na cidade, explica Cavaliere.
É um caso raro, justamente por não fazer parte da tradição de textos literários, sociológicos ou científicos.
✏️ Um país do Leste Europeu, conhecido oficialmente como Bielorrússia, é chamado de Belarus no contexto diplomático.
Mesmo com essa variação no nome, o gentílico continua sendo bielorrusso.
✏️Outro exemplo parecido vem da Ásia: o país que hoje se chama Mianmar era conhecido como Birmânia. E os gentílicos continuam ligados à antiga nomenclatura: birmã, birmane, birmanense, birmanês, birmaniano e birmano.
Apesar da mudança do nome oficial, essas formas seguem em uso, mostrando como o gentílico pode carregar a memória histórica de um povo. Observação: Mianmarense também consta no dicionário da ABL.
✏️ O termo catarinense costuma ser associado a quem nasce em Santa Catarina, no Sul do Brasil. Mas ele também é usado para pessoas nascidas em Catarina, um município do interior do Ceará.
É um caso de homonímia: dois lugares diferentes, com o mesmo gentílico.
✏️Até 2009, o gentílico tradicional para quem nasce no Acre era acreano, com “e”. Com o Acordo Ortográfico, a forma sugerida passou a ser acriano, seguindo a mesma regra que outras palavras terminadas em “e” átono: os nascidos em Açores, por exemplo, são açorianos.
Essa mudança gerou debate no estado: boa parte da população disse não se reconhecer na nova forma e ainda ver em “acreano” a representação mais fiel à identidade local.
Diante disso, o governo estadual sancionou a Lei nº 3.148, de 2016, que reconhece acreano como o gentílico oficial do estado, permitindo que ele seja usado nos textos da administração pública. A nova grafia (acriano) continua aceita gramaticalmente, mas o uso tradicional também foi preservado, por respeito à cultura, aos costumes e à história do Acre.
Na prática, órgãos como a Secretaria de Comunicação recomendam a forma acriano nos materiais oficiais, mas mantêm acreano em falas, citações ou quando o próprio entrevistado assim preferir. A ABL registra apenas acriano, por optar pelo alinhamento com o Novo Acordo Ortográfico.
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Novas palavras podem ser oficializadas na língua portuguesa
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