Ordem de Trump para assumir segurança de Washington é ‘alarmante e sem precedentes’, diz prefeita, que afirma não estar surpresa


Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anuncia envio de Guarda Nacional em Washington D.C. em 11 de agosto de 2025.
REUTERS/Jonathan Ernst
A intervenção federal anunciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, na segurança da capital do país, Washington D.C., é ‘alarmante e sem precedentes’, segundo a prefeita, Muriel Bowser.
Bowser, do Partido Democrata, conversou com repórteres nesta segunda-feira (11), horas após o anúncio da intervenção por Trump, sob a justificativa de combater a violência na capital e buscar retirar os sem-teto e os criminosos da cidade.
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“Não posso dizer que, dada a retórica do passado, estamos totalmente surpresos”, disse Bowser. “Posso dizer aos moradores de D.C. que continuaremos a administrar nosso governo de uma forma que os deixe orgulhosos.”
A prefeita, que tem poderes de governadora sobre o Distrito de Columbia (DC, equivalente ao Distrito Federal no Brasil), disse que entrou em contato com a procuradora-geral, a trumpista Pam Bondi, para discutir os termos da transferência de responsabilidade da segurança.
Crimes em baixa na capital
Trump afirmou que há uma “trágica emergência de segurança” na capital dos EUA, “com o crime fora de controle”, e para isso disse que enviará cerca de 800 tropas da Guarda Nacional e controlará a polícia da cidade. Inicialmente a intervenção federal na capital deverá durar 30 dias, segundo o jornal americano “The New York Times”.
“Washington D.C. deveria ser um dos lugares mais seguros e bonitos do mundo, mas há alguns anos não é mais. A esquerda radical saiu do controle, porque os democratas não querem segurança”, afirmou Trump em coletiva na Casa Branca.
➡️ A Guarda Nacional é uma força híbrida vinculada ao Exército dos EUA, com função estadual e federal. Normalmente opera sob comando dos estados, com financiamento dos governos locais. Às vezes, os soldados são enviados para missões federais, ainda sob comando estadual, mas com recursos federais.
Para justificar a intervenção, o presidente afirmou que a taxa de homicídios em Washington D.C. é maior do que em alguns dos piores lugares do mundo.
No entanto, apesar de a cidade ter problemas de violência armada e criminalidade, o crime em geral está em queda na capital e atingiu em 2024 o menor nível dos últimos 30 anos, segundo dados de segurança pública dos EUA. Já o crime violento, que Trump citou diversas vezes, caiu 26% entre 2023 e 2024, segundo o Departamento de Polícia local.
Washington D.C. fica no distrito de Colúmbia, região administrativa dos EUA que funciona sob regime especial. A prefeita de Colúmbia, Muriel Bowser, uma democrata, nega a emergência citada por Trump, reiterando que a criminalidade no distrito caiu desde 2023. Bowser é a principal autoridade executiva da cidade e exerce funções equivalentes às de governadora.
A medida de Trump ocorre após Trump expressar, desde que retornou à Casa Branca em janeiro, o desejo de colocar Washington D.C. sob controle federal. A intervenção federal é interpretada pelos jornais dos EUA como “uma medida extraordinária de uso do poder federal” que pode expor os moradores da capital.
O procurador-geral de Colúmbia, Brian Schwalb, autoridade máxima da Justiça no distrito, chamou a intervenção federal de Trump de “sem precedentes, desnecessária e ilegal”, e disse que o distrito buscará todas as alternativas legais contra a medida
Para convocar a Guarda Nacional, Trump invocou uma lei federal chamada “Homerule Act”, que pode ser traduzida como “Lei de Autogoverno” e permite o uso da Guarda Nacional em três situações:
se os EUA forem invadidos ou estiverem sob ameaça de invasão;
se houver rebelião ou ameaça de rebelião contra a autoridade do governo federal;
ou se o presidente estiver impedido de “executar as leis dos Estados Unidos” com forças regulares.
No domingo (10), Trump pediu que as pessoas em situação de rua deixem Washington D.C. “imediatamente”, garantindo que o governo lhes ofereceria abrigo “longe” da capital do país. O republicano voltou a tocar no assunto nesta segunda, e disse que a cidade será “libertada”.
“Washington, D.C. será LIBERTADA hoje! O crime, a selvageria, a imundice e a escória vão DESAPARECER. Eu vou TORNAR NOSSA CAPITAL GRANDE NOVAMENTE! Os dias de matar ou ferir brutalmente pessoas inocentes ACABARAM! Consertei rapidamente a fronteira (ZERO IMIGRANTES ILEGAIS nos últimos 3 meses!), D.C. é a próxima!!!”, afirmou Trump em publicação na rede social Truth Social nesta segunda-feira.
Trump disse que apresentou seu plano para tornar a cidade “mais segura e bonita do que nunca” durante coletiva de imprensa na Casa Branca nesta segunda-feira. O anúncio de tropas da Guarda Nacional foi adiantado por diversos veículos da imprensa dos EUA, que dizem que entre 800 e mil soldados podem ser enviados ao Distrito de Colúmbia — onde fica Washington D.C.
Trump quer retirar pessoas sem-teto de Washington D.C.
Segundo o relatório anual do Departamento de Habitação, em 2024, Washington D.C. tinha mais de 5,6 mil pessoas em situação de rua, ocupando o 15º lugar entre as principais cidades dos Estados Unidos nesse aspecto.
Desde que voltou à Casa Branca, em janeiro, Trump enviou mais de duas mil tropas da Guarda Nacional a Los Angeles para conter protestos contra suas políticas anti-imigração. Cada designação do tipo deve ser feita em coordenação com o governo estadual, porém, nesse caso o envio ocorreu contra a vontade do governador, Gavin Newsom.
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Brendan Smialowski/AFP
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