
Denúncias de exploração sexual de crianças e adolescentes na internet disparam após vídeo viral
Reprodução/TV Globo
Canais de denúncias de exploração sexual de crianças e adolescentes registraram um aumento expressivo de notificações nos últimos seis dias, desde a divulgação de um vídeo que viralizou na internet.
Autoridades, artistas e organizações se manifestaram em apoio à denúncia do influenciador Felca sobre a exposição e a exploração de crianças e adolescentes nas plataformas digitais.
E as denúncias aumentaram: o Disque 100, canal do governo para denúncias de violações de direitos humanos, registrou mais de mil desde o dia 6, quando o vídeo foi publicado. A organização não governamental SaferNet também registrou um aumento de 114% nas denúncias recebidas sobre pornografia infantil em redes sociais.
A Polícia Federal prendeu só em 2025 ano quase 200 pessoas em flagrante por armazenar, compartilhar ou vender pela internet material contendo abuso sexual de menores.
A juíza Vanessa Cavalieri, da Vara da Infância e Juventude do Rio de Janeiro, afirmou que bandidos pegam imagens de crianças e adolescentes publicadas pelos pais para alimentar a rede de pedofilia.
“A internet é a rua, é um lugar público perigoso. Você iria para a rua com um pacote de fotos da sua filha de biquíni, do seu filho sem camisa jogando futebol, da sua filha fazendo balé e sairia distribuindo essas fotos para um estranho que estivesse passando? Quando a gente pega aqui na Vara da Infância, computadores, celulares e extrai o conteúdo em grupos de pedofilia, em comunidades de abuso sexual infantil, 90% do material que a gente encontra não são imagens explícitas. São fotos e vídeos absolutamente normais, da rotina de uma criança, que qualquer mãe, qualquer pai tira, fotos e vídeos e posta nas suas redes”, diz Vanessa Cavalieri, juíza da Vara da Infância e Juventude do RJ.
Em fevereiro, a SaferNet já tinha apontado um aumento de 80% no número de grupos e canais com imagens de abuso e exploração sexual infantil que estavam ativos no Telegram, sem que houvesse qualquer moderação da plataforma. O número de usuários desses canais chegou a 1,4 milhões.
“Os números comprovam que há um aumento sistêmico, consistente e persistente do problema e que exige uma resposta à altura por parte dos reguladores”, afirma Thiago Tavares Nunes de Oliveira – Presidente do SaferNet.
O governo disse que vai enviar ao Congresso, nos próximos dias, um projeto de lei que prevê a regulação e a punição de big techs pela divulgação de conteúdos criminosos nas redes.
No Senado, aumentou o número de parlamentares de várias correntes políticas que apoiam uma CPI para investigar a atuação de influenciadores e plataformas digitais sobre o tema. 70 senadores já assinaram o requerimento. E, na Câmara, já são 35 novos projetos sobre o assunto.
O presidente da Câmara, Hugo Motta, anunciou no domingo que colocaria em pauta nesta semana propostas para aumentar a proteção de crianças e adolescentes na internet. Mas nesta terça-feira ele disse que, antes de qualquer votação, fará um debate em plenário sobre o tema na semana que vem e criará um grupo de trabalho para apresentar um texto consolidado em 30 dias.
“Existem matérias que são urgentes. E existem matérias que são mais do que urgentes: elas são inadiáveis. Porque uma infância perdida não se recupera. Porque uma criança ferida carrega essa marca para sempre. E nós, como representantes do povo brasileiro, temos a obrigação de garantir que o futuro do Brasil seja protegido onde ele realmente começa: no coração e na mente de cada criança”, afirmou Hugo Motta, presidente da Câmara.
Um texto pronto para votação na Câmara e já aprovado no Senado é do senador Alessandro Vieira, do MDB. Em entrevista à Globo News, ele disse que as empresas têm o dever de proteger a criança e o adolescente.
“Elas têm as ferramentas, então elas sabem perfeitamente se é uma criança ou é um adulto que está usando a ferramenta, elas sabem perfeitamente qual o conteúdo que circula, mas elas se preocupam apenas em extrair dados e rendimento daquilo. Elas não se preocupam com proteção de criança e adolescente”.
O projeto prevê de multa até a proibição das atividades das plataformas que não cumprirem a lei. Elas também podem ser responsabilizadas civil e criminalmente.
Em nota, a Sociedade Brasileira de Pediatria defendeu a responsabilização das plataformas e afirmou que “cada dia sem essa proteção é um dia a mais de risco para milhões de crianças brasileiras.”
O Jornal Nacional não obteve resposta do telegram.
denúncias de exploração sexual na internet disparam após vídeo viral
Reprodução/TV Globo
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