
Camarotti: governo enfrenta dilema no tarifaço
A Embraer, fabricante brasileira de aviões, enviou uma carta nesta segunda-feira (18) para o governo dos Estados Unidos se defendendo da investigação americana que apura práticas desleais de comércio.
No documento, a empresa – que ficou fora do tarifaço extra de 40% dos EUA, mas enfrenta uma tarifa anterior de 10%, e luta por tarifa zero – afirmou que impor tarifas de exportações à Embraer é algo “contrário aos interesses dos EUA”.
A carta foi assinada pelo presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, em resposta ao julgamento da Seção 301, mecanismo usado pelos EUA para adotar medidas unilaterais contra o que consideram práticas comerciais desleais.
Em julho, o governo americano divulgou que o Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês) iniciou uma investigação comercial contra o Brasil a pedido do presidente Donald Trump, sob alegação de que o país comete “práticas comerciais desleais”.
Na carta, a Embraer apontou que “embora tenha sede no Brasil, possui importantes operações nos Estados Unidos”, destacando que a empresa americana EAH, que produz jatos executivos e presta serviços de aviação, é uma subsidiária integral da Embraer fundada em 1979 na Flórida.
Segundo a Embraer, “a imposição de restrições à importação de produtos da Embraer seria diretamente contrária aos interesses dos EUA”, destacando que nenhum dos atos, políticas e práticas investigados pela Seção 301 “têm qualquer relação com a Embraer ou seus negócios”.
“Por exemplo, o comércio de produtos para aeronaves civis da Embraer não se beneficiou de supostas tarifas preferenciais injustas, pois o Brasil há muito adere a uma abordagem de tarifa zero para produtos de aeronaves civis com todos os seus parceiros comerciais. Em suma, as alegações em questão são irrelevantes para as ações da Embraer no Brasil e nos Estados Unidos”, defendeu a empresa brasileira.
“Além disso, o Comitê da Seção 301 deve estar ciente de que a Embraer e suas afiliadas nos EUA geram enormes benefícios líquidos para os Estados Unidos. Na ausência de interrupções tarifárias, a Embraer pretende comprar mais de [valor omitido pela empresa] em bens e serviços de empresas americanas entre 2025 e 2030, e a maioria dessas compras representaria exportações dos EUA para o Brasil”, disse na carta.
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E-190 da Embraer.
Divulgação/Embraer
Ainda no documento, sem revelar valores, a Embraer destacou que as exportações do Brasil para os EUA seriam menores do que o volume de exportações americanas para solo brasileiro.
A Embraer destacou também que gera cerca de 12,5 mil empregos nos EUA, sendo 2,5 mil de forma direta e outros 10 mil indiretos, e tem projeções de abrir mais 5 mil postos de trabalho nos Estados Unidos.
“Assim, no que diz respeito à Embraer, os Estados Unidos estavam a caminho de um superávit de US$ 8 bilhões entre 2025 e 2030 em um cenário de tarifa zero. As compras da Embraer mencionadas nos próximos cinco anos gerarão 5 mil empregos adicionais, além dos atuais 12,5 mil. Os funcionários diretos trabalham em 17 instalações da Embraer nos Estados Unidos, incluindo unidades de produção na Flórida e centros de serviço no Arizona, Geórgia, Tennessee e Texas”, pontuou a Embraer.
A fabricante brasileira afirmou também que 88% dos acionistas da Embraer estão sediados nos Estados Unidos e 44% do total de suas ações são negociadas na Bolsa de Valores de Nova York.
“Nossas operações de produção de jatos executivos em Melbourne, Flórida, geram mais de US$ 600 milhões em exportações para os EUA por ano. Ao todo, a Embraer tem presença tributável em 32 estados americanos”, destacou.
A Embraer disse também que as aeronaves da empresa transportam 100 milhões de passageiros nos Estados Unidos todos os anos, representando cerca de 10% de todo o tráfego aéreo do país, e que mais de 2 mil aeronaves comerciais da Embraer operam atualmente nos Estados Unidos, para companhias aéreas americanas como American, Delta, United e Alaska Airlines.
Por fim, a Embraer disse que apoia a defesa nacional dos EUA, destacando que deve investir mais no país se o cargueiro KC-390 for selecionado para a Força Aérea Americana, e que “a Embraer e a EAH contribuem significativamente para o fortalecimento da aviação e da economia dos EUA”.
“Portanto, usar a Seção 301 para impor tarifas sobre nossos produtos e cadeias de suprimentos seria contrário aos interesses dos EUA. Instamos o Governo a reconhecer os enormes benefícios que a Embraer gerou para os Estados Unidos e a evitar tarifas ou outras restrições à importação que apenas serviriam para comprometer esse sucesso”, finalizou a Embraer na carta.
Até a última atualização desta reportagem, o governo dos Estados Unidos ainda não havia se manifestado sobre a carta enviada pela Embraer.
Vista da sede da Embraer, em São José dos Campos, interior de SP
Luis Lima Jr./Futura Press/Estadão Conteúdo
Jato comercial E175-E2 em São José dos Campos
Embraer/Divulgação
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