Farinha da felicidade: mistura promete emagrecimento fácil e rápido, mas especialistas destacam que não existe milagre


Farinha da felicidade: mistura promete emagrecimento fácil e rápido, mas especialistas destacam que não existe milagre
reprodução redes sociais
“Química antiga que acreditava pedra filosofal, capaz de transformar metais em ouro, e na panaceia universal, elixir curativo de todos os males e doenças”. Esta é a definição de alquimia, segundo o dicionário Aurélio. E também é a expressão usada pelo professor do Centro de Medicina do Estilo de Vida da Faculdade de Medicina da USP Bruno Gualano para definir uma das mais recentes receitas da moda que tem chamado a atenção nas redes sociais, nos últimos meses: a farinha da felicidade.
A mistura tradicional — que circula em perfis de nutrição e bem-estar — costuma levar ingredientes como: linhaça dourada, aveia, amêndoas, chia e gergelim. Já outras versões que viralizaram recentemente incluem farinha de maçã, de beterraba, gérmen de trigo, maca peruana, orapronobis, farinha de banana verde e psyllium.
Quem divulga a mistura diz que ela é capaz levar à perda de peso, desinflamar, melhorar o humor, regular o intestino e acelerar o metabolismo. Apesar de as diferentes versões da receita encontrada nas redes ter de fato componentes com potenciais nutritivos, não existe uma mistura mágica com o poder de emagrecer, atuando de forma isolada.
Gualano diz que vivemos numa “lastimável” condição de “falta de letramento científico”, que já foi documentada. E as redes são como “câmaras de eco” de “bobagens” que chegam nas pessoas:
“Muitas pessoas não têm senso crítico para perceber que isso é uma bobagem. Essa é mais uma grande novidade vazia que diz produzir felicidade, bem-estar e saúde. Mas não tem nada de consistente nisso. Isso é alquimia – quando você mistura um monte de ingredientes e depois diz entregar um produto mágico. Isso remete a períodos pré-científicos, do ponto de vista da ciência contemporânea”, declara o professor.
Gualano lamenta o que chama de reducionismo e reforça que o que traz felicidade é alimentação balanceada, prática regular de atividade física, sono adequado e um controle de stress, entre outros cuidados. Ele defende que a dieta seja vista como um todo, de uma maneira holística.
Ainda assim, se você pretende inserir alguns dos componentes da “farinha da felicidade” na sua dieta, tenha em mente que ela sozinha será capaz de trazer milagres.
Diferentes versões da farinha feita com os ingredientes citados podem trazer benefícios, desde que inseridos numa dieta balanceada, com valores diários adequados de carboidratos, proteínas, gorduras, fibras, sódio, vitaminas e água.
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Confira abaixo benefícios, valor calórico estimado e alertas desses ingredientes, de acordo com a médica nutróloga Isolda Prado, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN):
Benefícios:
Linhaça, chia, amêndoas e gergelim: pode trazer benefícios cardiovasculares por conterem gorduras boas, com potencial para reduzir o LDL de colesterol e atividade inflamatória.
Beterraba e orapronobis: podem melhorar a imunidade e têm potencial antioxidação pela presença de polifenóis, betalaínas (beterraba), vitamina C e E, e carotenoides (orapronobis).
Maca peruana: é fonte de energia e vitalidade, por atuar na melhora da disposição e libido; e de proteínas vegetais, que auxiliam na manutenção muscular.
Psyllium, banana verde e aveia: ajudam na saúde intestinal, pela presença de fibras solúveis, que regulam o trânsito e alimentam a microbiota.
Obs: esses alimentos, em geral, apresentam baixo índice glicêmico, por serem ricos em em beta-glucano amido resistente. Além disso, têm alto teor de fibras e proteínas vegetais, podendo contribuir para o aumento da saciedade, e interferindo no controle do peso, desde que inseridas numa dieta balanceada.
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Alertas, contraindicações e riscos:
Alguns desses alimentos contém componentes alergênicos e podem ser contraindicados para quem tem doença celíaca. Além disso, alguns podem favorecer cálculos renais em predispostos. Entenda melhor:
Alergias: trigo (gérmen), oleaginosas (amêndoas, gergelim).
Doença celíaca: alguns ingredientes contêm glúten (farelo de aveia não certificado e gérmen de trigo).
Distensão e flatulência: pela ingestão de fibras em excesso, podem causar desconforto intestinal, especialmente em intestino irritável.
Interações medicamentosas: a presença de psyllium pode levar ao risco de reduzir a absorção de alguns fármacos (recomenda-se um intervalo de 2 horas entre a ingestão da mistura e do fármaco).
Calorias em excesso: embora saudável, essas misturas são densas energeticamente. Por isso, seu excesso pode dificultar a perda de peso.
Cálculos renais: os oxalatos – presentes na beterraba, chia e gergelim – podem favorecer cálculos renais em predispostos.
Valor calórico:
Farinha de linhaça dourada: 495 kcal (100 g) e 149 kcal (30 g)
Farelo de aveia: 246 kcal (100 g) e 74 kcal (30 g)
Farinha de amêndoas: 570 kcal (100 g) e 171 kcal (30 g)
Chia: 490 kcal (100 g) e 147 kcal (30 g)
Gergelim branco sem casca: 573 kcal (100 g) e 172 kcal (30 g)
Farinha de maçã: 341 kcal (100 g) e 102 kcal (30 g)
Farinha de beterraba: 332 kcal (100 g) e 100 kcal (30 g)
Psyllium: 300 kcal (100 g) e 90 kcal (30 g)
Gérmen de trigo: 380 kcal (100 g) e 114 kcal (30 g)
Farinha de banana verde: 310 kcal (100 g) e 93 kcal (30 g)
Maca peruana em pó: 300 kcal* (100 g) e 90 kcal (30 g)
Ora-pro-nóbis: 250 kcal (100 g) e 75 kcal (30 g)
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