Raimundão, Cobra Grande e mais: conheça lendas e mitos do folclore de Itapetininga


Dia do Folclore é celebrado nesta sexta-feira (22) e o g1 fala sobre lendas de Itapetininga (SP)
Alexandre Canda/Arquivo pessoal
O folclore pode ser definido como um conjunto de mitos, crenças e narrativas populares transmitidas por gerações, podendo representar uma identidade cultural daquela região. Nessas histórias, existem personagens conhecidos pela população que fazem parte do imaginário coletivo, despertando curiosidade, respeito, admiração e até medo. As origens das lendas folclóricas podem variar, sendo criadas a partir de fatos reais ou da criatividade popular de cada local.
Nesta sexta-feira (22), Dia do Folclore, o g1 conversou com moradores de Itapetininga (SP) que trouxeram mais informações sobre as lendas, suas origens e a importância do folclore como cultura e sabedoria popular na região.
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O folclore itapetiningano
Lenda do Raimundão é destacada em livro de escritoras de Itapetininga (SP)
Heloísa Casonato/g1/Arquivo
As escritoras itapetininganas Maria Nunes da Costa Menk, de 75 anos, e Luciane Camargo, de 40, se aprofundaram nas lendas de Itapetininga para escrever um livro que reúne histórias e personagens do folclore local.
Ao g1, elas explicaram que a motivação para produzir o livro surgiu por meio de um projeto sobre folclore, sendo escolhida a categoria folclore poético. Dessa forma, foi pensada a ideia da publicação do primeiro livro.
Depois dessa atividade envolvendo alunos, elas começaram uma pesquisa sobre a literatura oral de Itapetininga, além de conversas com populares, que contaram mais sobre as lendas.
A dupla explicou que a origem dessas histórias pode variar, surgindo a partir de fatos vivenciados ou da ficção.
Um exemplo é a popular lenda do Raimundão, um dos personagens folclóricos do município. Segundo a história, ele era um fazendeiro rico, dono de muitas terras na cidade, e teria matado escravos. Revoltadas, as famílias das vítimas arrancaram os olhos do fazendeiro. Acredita-se que quem encontrar Raimundão e devolver seus olhos ficará com sua fortuna.
Outro exemplo citado pelas escritoras no livro é a lenda da Cobra Grande. A história teria surgido a partir do esboço de um antigo mapa de Itapetininga, embora outras versões afirmem que a lenda nasceu após um abalo sísmico ocorrido na cidade, depois de fortes chuvas. Os moradores associaram as vibrações no solo a uma enorme cobra que estaria se movendo no subsolo do município.
Além dessas duas lendas populares, muitas outras fazem parte do folclore itapetiningano e estão reunidas no livro das escritoras, como: Loira do Banheiro, Vendedor de Rosas, Enfermeira Misteriosa, Escravo das Estrelas, Assombração da rua do antigo necrotério, entre outras.
“Nosso povo é muito criativo, com imaginação fértil. Não mede esforços para contar as histórias, contribuindo para que a literatura oral se mantenha viva”, disse Luciane.
“O folclore é importante porque é a alma do nosso povo, a sabedoria e a vivência através do tempo. É um patrimônio cultural sucessivamente transmitido de geração em geração. É um elo que une o povo no tempo e no espaço. Um país só se torna uma grande nação quando preserva suas tradições. É disso que Itapetininga e região precisam: procurar conhecer e viver o nosso folclore, que é tão rico e interessante”, reforçou a escritora.
Manifestação cultural
A historiadora, professora e pesquisadora de Itapetininga Alba Regina Franco Luise acrescentou que as lendas folclóricas de uma região recebem a influência dos moradores. Em Itapetininga, os contos têm origem nas histórias dos imigrantes, tropeiros e da comunidade negra.
“Eu acho que o folclore é a representação da história e influência popular. Ele deve ser conservado, respeitado e divulgado”, disse.
Segundo Alba, é importante reconhecer a importância do folclore como uma manifestação cultural, que é o resultado da mistura de raças do país. Por exemplo, a lenda do Raimundão carrega as influências de sua época, como o tropeirismo e a escravidão.
Escritoras de Itapetininga (SP) contam lendas em livro
Rodrigo Santos/TV TEM
Produção de curta-metragem sobre as lendas
Representação da lenda Cobra da Matriz usada no curta-metragem sobre lendas de Itapetininga
Alexandre Canda/Arquivo pessoal
O curta-metragem “O Resgate da Lenda” foi produzido pelo cineasta itapetiningano Alexandre Canda, de 33 anos. O filme conta a história de Tonico, que, após um pesadelo, sai à procura da mãe e desperta com uma sensibilidade ao sobrenatural.
A partir daí, ele embarca em uma jornada para encontrar a cobra que dorme sob a Praça da Matriz e salvar a cidade. No caminho, encontra também as principais lendas da região.
O projeto busca resgatar as principais lendas urbanas do município e foi desenvolvido com o apoio da comunidade. As gravações aconteceram em 2024, em pontos conhecidos de Itapetininga.
Alexandre relatou que a ideia do curta surgiu depois de visitar a região norte do país e perceber a presença constante do folclore no local. Assim que voltou de viagem, Alexandre se reuniu com outros produtores da cidade e, juntos, eles decidiram criar um projeto para valorizar e resgatar as lendas locais.
“Me chamou a atenção que fazia muito tempo que eu não ouvia falar das lendas daqui de Itapetininga. Eu cresci em uma casa que sempre se falava sobre a lenda do Raimundão, da Mulher de Branco, da Cobra da Matriz. Percebi que, à medida que os mais velhos iam falecendo, os mais novos iam cada vez mais não falando dessas lendas.”
Na produção, a equipe deu vida às lendas itapetininganas. Essa foi a primeira vez que esses personagens foram representados e eternizados no audiovisual.
Para produzir o roteiro, Alexandre contou que a obra literária de Maria Nunes, e Luciane Camargo serviu como uma forma de pesquisa e inspiração. Por meio dos relatos inseridos no livro foi possível construir uma história original, ligando as lendas do município com os personagens.
As gravações foram feitas em cinco dias, em julho do ano passado, e a pós-produção levou meses para a aplicação dos efeitos especiais e da trilha sonora autoral. A estreia ocorreu em maio deste ano, e o curta foi exibido em festivais e no cinema de Itapetininga.
“Essas lendas fazem parte da nossa vida. É uma cultura tão enraizada, passada por gerações através da comunicação oral, algo que faz parte da cultura de um povo e local”, completou.
O professor de história e também produtor do curta Edwin Kitch Taves, de 28 anos, relatou que o objetivo foi justamente resgatar o patrimônio imaterial que são as lendas, uma parte essencial da identidade do folclore do município de Itapetininga. Segundo ele, essas histórias também marcam os períodos históricos de uma cidade e ajudam a formar a identidade dos moradores e de um local.
A Mulher de Branco é um dos personagens das lendas de Itapetininga
Alexandre Canda/Arquivo pessoal
*Colaborou sob supervisão de Stephanie Fonseca
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