Mulher que gravou estupros do ex-marido relata novas ameaças e revela como reconstruiu a vida


Baixada em Pauta: Juliana Rizzo é a convidada da semana
Juliana Rizzo, a mulher que denunciou os estupros e agressões do ex-marido, o empresário Ricardo Penna Guerreiro, 49, recebeu recentemente informações sobre novas ameaças. Segundo ela, mesmo preso o homem estaria oferecendo dinheiro para que façam algo contra ela. “Eu fico preocupada comigo, lógico, mas em primeiro lugar com os meus filhos”.
Atualmente, Juliana trabalha como assessora de gabinete na Secretaria da Mulher de Sorocaba, cidade que escolheu para morar após ser vítima de violência em Praia Grande (SP). Em bate-papo com o jornalista Matheus Müller, no podcast Baixada em Pauta, ela não negou ter medo, mas afirmou que isso não a paralisa.
Juliana Rizzo denunciou o ex-marido pelas agressões sofridas e estupro marital
Arquivo pessoal
“Eu confio muito em Deus […]. Então, não deixo mais isso [o medo] me dominar. Tomo cuidados, e é o que eu falo até como alerta para as mulheres. Por exemplo, se estou em um local, só faço postagem — qualquer coisa relacionada àquele lugar — depois que já saí dali. Não fico mostrando em tempo real onde estou.”
O que se sabe sobre o caso da mulher que gravou o próprio estupro
Durante o podcast, Juliana também compartilhou detalhes da relação abusiva que viveu, os medos que enfrentou, o impacto sobre os filhos, o luto familiar, a reconstrução pessoal e o trabalho que realiza hoje. Você confere mais no vídeocast, podcast e abaixo:
Relacionamento de violência: Começo e fim
Juliana conheceu o empresário em 2018. O relacionamento, que, segundo ela, começou com muitas promessas, rapidamente se transformou em um ciclo de agressões físicas, estupros e controle psicológico. Entre 2019 e 2021, período em que viveram juntos em Praia Grande (SP), ela enfrentou episódios recorrentes de violência — muitos registrados por câmeras instaladas na casa pelo agressor.
Durante a conversa, Juliana revelou que um dos dias mais traumáticos de sua vida aconteceu logo após o sepultamento da mãe. Abalada e sob efeito de medicamentos, ela contou que o ex-marido tentou forçá-la a manter relações sexuais. “Ele ria e dizia: ‘Onde que fazer isso com a minha esposa é algum crime’. E eu fui guardando tudo, só pensando: ‘Um dia eu consigo sair dessa relação’”, contou.
Ricardo preso por agredir e estuprar ex-esposa já foi condenado por tentar matar seis pessoas
Reprodução
Pouco tempo depois, Juliana presenciou pelas câmeras de segurança — instaladas por Ricardo — um episódio de agressão contra seu filho mais velho, enteado do empresário. Foi o estopim para a fuga: ela deixou a casa com os filhos e se refugiou no apartamento de uma amiga, onde permaneceu por uma semana, até que ele descobrisse.
Entenda o que é o ‘estupro marital’
Mesmo após a separação e a mudança para Sorocaba, no interior paulista, Juliana continuou sendo alvo de perseguições e ameaças. Em uma das ocasiões, Ricardo destruiu o portão do prédio onde ela estava e provocou tumulto na vizinhança. A prisão por descumprimento de medida protetiva veio em janeiro de 2023, mas não encerrou o ciclo de violência.
Atualmente, ele está preso por outro motivo: uma tentativa de homicídio cometida em 2000, em Praia Grande, quando teria atropelado um homem após uma briga de trânsito.
Em nota, o advogado Eugênio Malavasi, que representa Ricardo Penna Guerreiro, afirmou que, no sistema prisional, onde tudo é monitorado, seria impossível esse tipo de ameaça por parte do homem. Dessa forma, a defesa rechaçou a acusação de Juliana.
Medos
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Reprodução
Juliana admite que vive em estado de alerta. Evita postar fotos em tempo real, não expõe os rostos dos filhos nas redes sociais e mudou de residência mais de uma vez. Apesar disso, afirma que não voltou a tomar medicamentos e que não permite que o medo a paralise.
Ela diz que confia em Deus e que, embora tome precauções, não deixa que os pensamentos negativos dominem sua rotina. O foco, segundo ela, é proteger os filhos e manter a estabilidade emocional conquistada com muito esforço.
Voltou a sorrir
Juliana Rizzo contou ter se reconectado e voltado a sorrir
Arquivo pessoal
Juliana conta que sempre foi uma mulher extrovertida e brincalhona. O sobrenome “Rizzo”, que virou apelido entre amigos, passou a simbolizar o retorno da leveza à sua vida. Após anos de sofrimento, ela reencontrou a própria identidade e reconstruiu os laços familiares.
Ela afirma que voltou a sorrir, a fazer amizades e a viver com liberdade. O ambiente hostil que enfrentou durante o casamento ficou para trás, e hoje ela se dedica a manter um lar saudável e acolhedor para os filhos.
Volta por cima
Durante o processo de reconstrução, Juliana se reconectou com a espiritualidade e mergulhou nos estudos. Ela fez 12 especializações na área da saúde mental, incluindo psicanálise e neuropsicanálise, para entender melhor o comportamento humano, inclusive o do próprio agressor.
Ela afirmou que esse conhecimento foi essencial para se curar e para ajudar outras mulheres. O estudo, aliado à fé, foi o caminho que encontrou para transformar dor em força.
Trabalho
Juliana participou do podcast Baixada em Pauta com Matheus Müller
g1 Santos
Hoje, Juliana atua como assessora de gabinete na Secretaria da Mulher de Sorocaba. Lá, trabalha diretamente com casos de violência doméstica e participa da formulação de políticas públicas voltadas ao acolhimento e à proteção de mulheres.
Ela também realiza palestras em diversas cidades e mantém uma presença ativa nas redes sociais, onde compartilha informações, orientações e histórias de superação. O trabalho, segundo ela, é uma realização pessoal e profissional.
Juliana criou projeto para ajudar outras vítimas a se libertarem de relações abusivas
O que viveu e como pode ajudar
Com base na própria experiência, Juliana orienta mulheres a buscarem ajuda, mesmo que discretamente. Ela cita estratégias como o uso de códigos em ligações, como pedir uma pizza ao acionar a polícia, e reforça a importância de não expor a localização em tempo real nas redes sociais.
Ela também alertou para o impacto da violência nos filhos e defende que o cuidado com eles deve ser prioridade. Segundo Juliana, há muita informação disponível hoje, e é fundamental que as mulheres se sintam encorajadas a denunciar e a se proteger.
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Reprodução
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